Inundações em Áreas Urbanas
Por: Evandro.2016 • 4/3/2018 • 1.976 Palavras (8 Páginas) • 278 Visualizações
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No mundo inteiro existem diversas tecnologias que visam mitigar ou até mesmo solucionar por completo as questões relacionadas a inundações provenientes da água da chuva. Há duas delas que merecem destaque e que além de diminuir o impacto das aguas pluviais ainda abrangem outros aspectos sócias e ambientais.
Segundo descrito por Andrei Araújo, a opção por um Planejamento Urbano Sensível à Água (PUSA) adotado na França atualmente, é uma estratégia de gerenciamento. Isso porque o PUSA é um conceito que visa integrar a gestão de águas urbanas, particularmente de águas pluviais, ao planejamento urbano moderno e ao planejamento da paisagem urbana. Além disso, o PUSA é uma reação a problemas do desenvolvimento urbano causados por sistemas de drenagem mal operados ou mal projetados, ausência de água e de espaços verdes na paisagem urbana e deterioração da qualidade da água proveniente de escoamentos superficiais poluídos. O PUSA tem como objetivo principal promover o potencial da água e melhorar o funcionamento, a arquitetura e a paisagem urbana, alcançando, assim, benefícios sociais e de gestão de água, os quais no passado foram negligenciados pelo planejamento urbano.
Andrei afirma ainda que o conceito do PUSA é baseado em um conjunto de princípios que têm por objetivo promover arquitetura e paisagismo sensíveis à água; orientando o planejamento urbano e incentivando a seleção de tecnologias que permitam atingir múltiplos benefícios e que sejam apropriadas ao local e adaptáveis às mudanças futuras.
Tem-se que os principais principios do PUSA são: Aproximar a gestão de águas urbanas do ciclo hidrológico natural; Fornecer benefícios estéticos onde for possível; Ser compatíveis com as características e com a cultura da área; Ter flexibilidade para se adaptar a um futuro incerto; Ser selecionadas em consulta com todas as partes interessadas; Ser comparáveis em termos de custo a soluções convencionais; Ser planejadas e geridas por meio de cooperação interdisciplinar;
Além do PUSA, outra tecnologia bastante utilizada na Europa é o sistema de drenagem sustentável (SUDS), que foi desenvolvido pela Robert Bray Associates em Londres, no Reino Unido. O SUDS tem como objetivo principal simular, o mais próximo possível, a drenagem natural de uma localidade a fim de minimizar o impacto que o desenvolvimento urbano traz para o escoamento e poluição de rios, riachos e outros corpos d’água. O uso de variadas técnicas de gestão permite que o SUDS seja aplicável em diversas localidades. As técnicas utilizando vegetação juntamente com tratamento da poluição e a desaceleração, ou redução, do escoamento pode melhorar as paisagens e fornecer um habitat melhor também para os animais silvestres.
Essas tecnologias estão muito próximas uma da outra, e trazendo para o contexto brasileiro ajudaria a resolver problemas relacionados às águas pluviais e também a problemas de cunho social, como a escassez da água, captando e armazenando a mesma. Além disso, a adoção destes sistemas beneficiam diretamente o dono da construção em que está instalada a rede de drenagem e captação, bem como os demais habitantes da comunidade que contaram com um número menor de água escoada e uma paisagem agradável e ambientalmente sustentável.
Estas tecnologias servem também para um interesse geral da população e da administração da cidade, é uma iniciativa individual que beneficia a comunidade como um todo. A água armazenada diminui a quantidade de água escoada e serve para utilização doméstica, a depender do tratamento dessa água, serve até mesmo para o consumo humano, além de promover harmonia paisagística.
São tecnologias sociais pois, além de visar o controle de inundações nas áreas urbanas, promovem o bem estar da população. Entretanto, essas tecnologias possuem algumas limitações pois nem toda a população possui recursos para financiar a instalação desse sistema de drenagem com a captação e armazenamento, e nem todos os que possuem esse recurso se preocupam com esse tipo de iniciativa individual. Essas tecnologias implicam também na minimização do efeito maior que geraria se todas as áreas da cidade possuíssem esses sistema, chegando a ser insignificante seu desempenho quando comparado ao volume pluviométrico.
O princípio da economia ecológica determina que o ecossistema engloba a economia, tendo em vista que a tecnologia do Planejamento Urbano Sensível à Água (PUSA) e o Sistema de Drenagem Sustentável (SUDS) visam o aproveitamento da água pluvial, elas se encaixam neste conceito por trazer inúmeros benefícios econômicos para a sociedade, minimizando o consumo da água proveniente das concessionárias e também precavendo contra perdas e prejuízos futuros causados pelas inundações urbanas, reduzindo assim os gastos econômicos. Essa prevenção contra danos futuros sugere uma paridade com o Princípio da Precaução de José Roberto Goldim, este princípio afirma que a ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano.
Leonardo Boff no vídeo "Ética e Ecologia: desafios do século XXI" fala sobre a crise ecológica, que envolve o aquecimento global, bem como suas consequências, como por exemplo catástrofes naturais, como a crise da água potável. Tendo em vista que as inundações urbanas são causadas por alguns fatores climáticos e que elas estão ligadas diretamente ao aquecimento global, é perceptível o aumento do volume pluviométrico em áreas que antes não eram beneficiadas com muitas chuvas.
Para Boff, a política só tem se preocupado com projetos nacionais, deixando de lado a ética ligada à justiça que integra o respeito aos direitos humanos. As medidas contra inundações são medidas de gerenciamento nacional, que integram o interesse individual da população.
Boff sugere ainda que os princípios éticos nascem a partir da inteligência emocional, a partir do cuidado essencial que vai por sua vez prevenir os danos futuros e resgatar os danos já existentes, do respeito para com os outros, para com a nossa casa, que é a natureza, e a Terra da responsabilidade ilimitada e da solidariedade universal. A partir do cuidado e do respeito, vem a responsabilidade de não desmatar e manter as zonas de amortecimento no interior dos grandes centros urbanos, de respeitar os limites nas margens dos afluentes, de não descartar resíduos em áreas inapropriadas para que posteriormente não gerem contaminação do solo e das águas, de maximizar a utilização da água pluvial, dentre outros. Esse compromisso deve ser da sociedade e não
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