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Teorias psicanalíticas de psicossomática

Por:   •  29/10/2018  •  22.899 Palavras (92 Páginas)  •  261 Visualizações

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• A REGRESSÃO E A INIBIÇÃO 56

• CONSIDERAÇÕES FINAIS 60

• REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 62

INTRODUÇÃO

Os fenômenos psicossomáticos dão origem a uma problemática médica frustrante, tanto para o paciente, não correspondido em sua esperança de cura, quanto aos médicos que não encontram meios de atender as demandas desses pacientes na perspectiva tradicional. Essa frustração geralmente é combatida ou pela desistência de tratar, em especial por vias de encaminhamentos, reacendendo a experiência do desamparo infantil nos pacientes (VOLICH, 2013a, p.324), ou pelo uso indiscriminado de remédios, que silenciam o problema (e o sujeito), mas que, muitas vezes, não eliminam o sofrimento (MORAIS, et. al. 2008; SANTOS & MARTINS, 2013).

Ainda hoje, se faz necessário a difusão da consideração desses processos afetivos do adoecer, pois, mesmo quando se considera a possibilidade da influência das emoções na saúde, de modo geral, os profissionais ainda não conseguem se desvincular da epistemologia fisiológica; ou a substituem radicalmente por concepções psicogenéticas que, no fim das contas, também leva a um tratamento medicamentoso . (MORAIS, et. al. op. cit. SANTOS & MARTINS, op. cit.). Esses limites são marcados por uma dificuldade metodológica histórica para abordar tais fenômenos precisamente pelo fato de que os mesmos parecem ocorrer tanto no âmbito psíquico (presumivelmente de “responsabilidade” do psicólogo) quanto no orgânico (a “área” médica). Essa divisão por especialidades, ao contrario da crença geral, não existia na origem grega da medicina (VOLICH, op. cit., p. 23 et. Seq.). Basta apenas um pequeno passeio por alguns autores da Grécia antiga para perceber que não era costume o estabelecimento de limites epistemológicos. Por exemplo, o tratado hipocrático ares, águas e lugares, poderia ser considerado, mais do que um tratado médico, um estudo antropológico, pois ele estabelece influências da geografia física e da política sobre a saúde e o caráter do homem, apontando diferenças entre os povos de regiões da Grécia e do resto da Europa. Portanto se estendendo para a “área” da geologia, sociologia e psicologia (FRIAS, 2004 p. 63-68), “estabelecendo, pela primeira vez na história da cultura ocidental, a relação entre physis e nómos, entre natureza e cultura” (ibid, p. 64).

Como nos aponta Ivan Frias (op. cit.), a medicina grega é precedida pela filosofia, mais precisamente, os físicos ; Alcméon de Crotona, no século V a.C., foi o primeiro a defender que o cérebro é a origem das sensações e que a saúde é o resultado do equilíbrio entre forças, tais como úmido/seco, frio/quente, etc. Empédocles de Agrigento, também no século V a. C., defende que a natureza é constituída de quatro elementos primordiais: terra, fogo, água e ar, que se atraem e se separam de acordo com dois outros princípios cosmogônicos: o amor e o ódio. Empédocles se vale desses princípios para explicar a natureza, mas também o homem, sendo o primeiro a explicar a fisiologia da respiração e da visão. Além disso, construiu uma teoria da inteligência, atribuindo ao princípio dos semelhantes a origem da sabedoria que, tal como as sensações, sabe pela semelhança elementar com o sabido (amor) e ignora o dessemelhante (ódio). (ibid, p. 19-32)

O chamado corpus hippocraticum, tem grande influencia desses pensadores, porém, há nele uma “interiorização das causas das enfermidades” (ibid, p. 53). Já havia, segundo Volich (op. cit.), na concepção da saúde e da doença como fenômenos naturais, a “possibilidade de o homem ser responsável por sua doença” (p. 27), a concepção de causas internas, portanto, aproxima o homem ainda mais dessa autorresponsabilização. Inspirado em Empédocles, mas não lhe sento totalmente fiel, a concepção hegemônica da natureza do homem no corpus hippocraticum é a doutrina dos humores, na qual se concebe que o homem é constituído de quatro humores: sangue, flegma, bile amarela e bile negra que devem estar distribuídos quantitativa e qualitativamente pelo corpo e misturados harmoniosamente para se manter o estado de saúde (FRIAS, op. cit. p. 53). Deve-se esclarecer que, ao contrario da ciência moderna, a medicina, originalmente, construía doutrinas simbólicas, como explica Frias (op. cit.):

As descrições hipocráticas são, para Laënnec, comparáveis às formulas da álgebra: destinadas a representar as incógnitas. As palavras traduzem uma realidade desconhecida e que é compreendida pelo médico grego por meio de seu sistema de doutrinas, mas as descrições revelam uma autonomia, os sinais clínicos adquirem um caráter simbólico que pode ser apreendido por um outro sistema teórico (p. 41)

Ou seja, as descrições gregas não podem ser desmentidas simplesmente pela “descoberta” posterior de que não existem, fatualmente, os tais humores no interior do homem. Essa constatação nos permite perguntar se o caráter interpretativo dos diagnósticos e anamnese clássicos continham uma profundidade que foi obscurecida pela técnica moderna. Mais adiante, Frias (op. cit.) amplia este ponto ao afirmar que

quando o autor do tratado Da arte confere à inteligência o poder de captar o que está oculto nas profundezas do corpo, está implícito que a abordagem clínica não se esgota na visibilidade. Os fenômenos observados precisam ser interpretados, pois ver a profundidade “é tornar o que se vê evidentemente não pelo ser, mas por um reflexo do ser, por um sinal” (ibid, 62)

Enfim, encontramos no corpus hippocraticum uma doutrina preocupada com os doentes, mais do que com as doenças (ibid p 47), que trata do corpo sem deixar de cuidar da alma, pois tal distinção não está estabelecida. Por isso a reflexão sobre a loucura é posta pela mesma doutrina que explica o corpo (ibid, p 72). Esta distinção é feita por Platão que, no Timeu, apresenta sua metafísica da criação do mundo pelo Demiurgo e volta a descrever a doença e a saúde a partir de princípios externos, embora tenha sido um exímio leitor dos tratados médicos. O texto platônico percorre o caminho da criação do mundo para no fim apresentar uma doutrina médica baseada em sua metafísica (ibid, p. 79 et. seq.). Para Platão, a alma do homem e seu corpo, são cópias imperfeitas da alma e do corpo do mundo, por esse motivo o corpo morre por estar sujeito ao devir das coisas sensíveis, uma vez que sua criação é feita pelo empréstimo das partículas

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