Psicologia Hospitalar - Relato de Caso
Por: Kleber.Oliveira • 31/3/2018 • 3.676 Palavras (15 Páginas) • 672 Visualizações
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Uma situação de perdas, é como poderia ser definida a doença, afinal, perde-se a saúde, perde-se a autonomia, perde-se tempo e dinheiro, e muitas outras coisas, isso quando não se perde mesmo a própria vida. Tantas perdas, muitas delas reais e outras tantas imaginarias, abrem uma espécie de “caixa de Pandora” de consequências subjetivas para a pessoa adoentada. O ser humano comumente confere sentido a tudo o que ele vivencia, e como o adoecimento não é diferente. O conjunto de sentidos que o sujeito confere a sua doença constitui, como consequência, o campo dos aspectos psicológicos. Entretanto, um olhar mais atento mostra que a doença não é feita só de perdas; também se ganha: ganha-se mais atenção e cuidado, ganha-se o direito de não trabalhar, ganha-se, se for o caso, autocomiseração e até uma desculpa genuína para explicar dificuldades existenciais, profissionais ou amorosas. Esses ganhos secundários da doença demostra como aspectos psicológicos podem atuar como fatores de manutenção ao adoecimento.
O foco da psicologia hospitalar é o aspecto psicológico em torno do adoecimento. Mas aspectos psicológicos não existem soltos no ar, e sim estão encarnados em pessoas: na pessoa do paciente, nas pessoas da família, e nas pessoas da equipe de profissionais. Uma característica importante da psicologia hospitalar é a de que ela aciona um processo de elaboração simbólica do adoecimento. O que interessa à psicologia hospitalar não é a doença em si, mas a relação que o doente tem com o seu sintoma ou, em outras palavras, o que o paciente faz com sua doença, o significado que lhe confere, e a isso só chegamos pela linguagem, pela palavra. O valor principal da psicologia hospitalar é a subjetividade.
De acordo com Simonetti (2013, p. 25), para concretizar a sua estratégia de trabalhar o adoecimento no registro do simbólico, a psicologia hospitalar se vale de duas técnicas: escuta analítica e manejo situacional. A escuta analítica reúne as intervenções básicas da psicologia clínica, tais como escuta, associação livre, interpretação, análise de transferência, entre outras. Já a segunda técnica, engloba intervenções direcionadas à situação concreta que se forma em torno do adoecimento. Eis alguns exemplos dessas intervenções: controle situacional, gerenciamento de mudanças, análise institucional, mediação de conflitos, psicologia de ligação, etc.
A psicologia hospitalar define como objetivo de trabalho não só a dor paciente, mas também a angústia declarada da família, a angústia disfarçada da equipe e a angústia geralmente negada dos médicos. Além de considerar essas pessoas individualmente a psicologia hospitalar também se ocupa das relações entre elas, constituindo-se em uma verdadeira psicologia de ligação, com a função de facilitar os relacionamentos entre pacientes, familiares e equipe multidisciplinar. Conjuntamente com o enfoque da humanização do atendimento em saúde, a interdisciplinaridade é uma das bases da tarefa do psicólogo que adentra ao hospital, pois partindo do pressuposto de que o ser doente deve ser considerado biopsicossocial. “Essas três esferas interdepende e inter-relacionam-se à outra, mantendo o ser doente, intercâmbios contínuos com o meio em que vive num constante esforço de adaptação à sua nova condição de doente (...)” (CHIATTONE, 2003, p. 32). Está abrangência multidisciplinar e estratégica da atuação do psicólogo hospitalar, pelo reconhecimento do campo de saúde como uma realidade complexa, e que necessita de conhecimentos distintos integrados é que define a necessidade de intervenção de forma imediata. Portanto, estas ações deveriam envolver profissionais de diferentes áreas em uma rede de complementaridade onde são mantidas as exigências organizacionais unitárias.
4. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS NO ESTÁGIO E DISCUSSÃO
O referente estágio estruturou-se da seguinte maneira: 2h de atendimento e 2h de orientação – sendo realizado rodízio entre as duplas no atendimento da internação; pediatria; emergência e isolamento (paciente psiquiátrico).
4.1 Atendimentos na internação
Na internação atendemos L. 84 anos com diagnóstico médico de ulcera infetada/vasculopatia e a paciente encontra-se internada há 20 dias. A mesma nos relata que sempre cuidou muito bem da saúde, evitando bebida alcoólica, cigarros e mantendo uma alimentação saudável. Devido ao seu bom condicionamento e cuidados, L. nunca havia passado pela experiência da hospitalização, sendo essa a primeira vez.
Logo ao início do atendimento, percebemos uma necessidade de adaptação da linguagem para assim mantermos um diálogo com a paciente. Visto que para ela responder o que estávamos perguntando a linguagem teria que ser simples, de forma com que a paciente entendesse. Diante de diversos contextos, é importante que o psicólogo esteja preparado para variar o nível de complexidade de sua linguagem, do mais simples ao mais elaborado, para tomar o que ele tem a dizer acessível aos diferentes públicos com que trabalha. É necessário adequar a linguagem ao nível do ouvinte, já que a palavra pertence a quem escuta.
Por ser uma situação nova a L. procuramos identificar através da escuta analítica possíveis angustias que a paciente poderia ter, afinal, já estava no ambiente hospitalar a muitos dias. Porém, foi constatado através do seu relato que a paciente está aceitando muito bem todo o processo. Alegando estar sendo bem tratada e cuidada. De acordo os relatos, foi investigado se a paciente teria ganhos secundários com a internação. Pois, estar doente é pior do que estar saudável, mas pode trazer ganhos que são secundários à doença como: alimentação, carência por afeto, atenção, cuidados etc. Quando questionada sobre onde gostaria de estar naquele momento L. responde que apesar do cuidado de todos do hospital com ela, gostaria de estar em casa. Portanto, o ganho secundário foi descartado.
O dia a dia de uma pessoa pode ser bastante influenciado pela posição que ela assume em relação a sua doença. No enfrentamento, como é o caso da paciente, a pessoa aprende a desfrutar o prazer das pequenas coisas, vivenciado certa serenidade, que à primeira vista pode ser paradoxal diante de sua condição de enferma. Ocorre que, quando uma pessoa se põe em contato com sua própria verdade, ela se torna forte e calma, pode haver tristeza, mas não há depressão, pode haver medo, mas sem ansiedade. A personalidade de uma pessoa irá influenciar muito a maneira como ela enfrenta a doença.
Dessa maneira, ressaltamos a importância e o entendimento sobre a hospitalização
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