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O manual de Psicologia Hospitalar

Por:   •  13/6/2018  •  2.162 Palavras (9 Páginas)  •  474 Visualizações

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que estes se encontram encarnados não somente no paciente, mas também em seus familiares e equipe médica, esta modalidade do fazer psicológico visa à facilitação das relações entre os envolvidos, de maneira que fortaleça as ligações. Uma vez que as intenções e expectativas de cada parte envolvida são distintas, se considerarmos que o paciente deseja livrar-se do sintoma, a família anseia pelo prognóstico e a equipe médica necessita do diagnóstico para poder trabalhar, a função da psicologia hospitalar é manejar este desencontro entre os grupos.

O objetivo da psicologia hospitalar resumido em uma única palavra é subjetividade. Quando o corpo se depara com uma doença, a subjetividade da pessoa acometida é deixada de lado e então a psicologia hospitalar visa devolvê-la ao indivíduo ao se dispor a ouvi-lo falando de si e de sua doença, de suas experiências, medos e anseios e com a criação desse espaço, é possível restituir ao paciente a subjetividade que a medicina lhe tomou. O propósito da psicologia hospitalar não é de impor qualquer meta idealizada, mas sim de auxiliar na elaboração simbólica do adoecer, não fazendo quaisquer garantias de onde será possível chegar ou conquistas a se alcançar, já que não há como estabelecer tais previsões, por não saber se serão possíveis ou alcançadas, assim, já que os resultados são incertos e dependem de tantos fatores variáveis, o psicólogo hospitalar não é mais do que um ouvinte.

É necessário perceber diferenças fundamentais entre a medicina e a psicologia, pois embora a psicologia esteja no ambiente hospitalar e se aproxime da medicina, seu propósito é bastante diferente, já que enquanto a medicina tem por objetivo principal curar doenças e salvar as vidas dos pacientes, a psicologia busca a subjetividade, como já mencionado outras vezes. Desse modo, fica evidente que a psicologia não busca melhorar a medicina, apesar de por consequência de seu trabalho isso ocorra, é importante enfatizar que este é um ganho adicional. O psicólogo não trabalha no sentido de curar o paciente, mesmo porque sabe que não poderia fazê-lo, já que além de ser trabalho do médico, lida com casos em que a cura não é uma probabilidade grande, pois está em contato com pessoas em que as doenças são crônicas ou terminais e consequentemente a psicologia se torna ineficaz numa ambição de cura e então o trabalho do psicólogo é ajudar o paciente em relação à sua relação com os sintomas da doença que carrega. A psicologia hospitalar vai além da cura, pois mesmo que a cura tenha sido alcançada e tendo passado os sintomas, ainda restam as sombras de angústia, traumas, medos e então a psicologia irá tratar desses resquícios restantes. É possível dizer que a filosofia da psicologia hospitalar é a escuta não da doença, mas escuta da subjetividade e para esta não há cura. Enquanto a medicina tenta tirar a subjetividade das pessoas (pacientes e médicos), a psicologia empenha o seu trabalho em devolver esta subjetividade aos indivíduos, acreditando que “mais fácil do que secar o mar, é aprender a nadar”, e dessa forma, a medicina trabalha com o corpo, independente do sujeito que nele ‘reside’, a psicologia hospitalar buscar integrar as partes: corpo e psique. A medicina tem seu foco na cura do sintoma, já a psicologia vê o sintoma como um meio de comunicação, ou seja, através dele a pessoa fala e carrega uma mensagem e, portanto, a função da psicologia é escutar.

A psicologia hospitalar não trabalha com o corpo físico do paciente, mas com o corpo simbólico de forma que ele pode ser localizado nas palavras, assim o seu propósito deve ser escutar e basicamente seu trabalho será a conversa, mas não se trata de conversas triviais, e sim conversas que vão além, isso porque com o psicólogo ele poderá manifestar suas angústias, medos, fantasias e expectativas, coisas estas que também movem emoções do profissional, e não há no hospital algum outro profissional que tenha sido forjado para escutar, assim como o psicólogo. Essas conversas, no entanto, podem não ocorrer de forma verbal, pois existem pacientes que possuem impedimentos para tal ou mesmo pacientes com maior resistência a fala e desse modo a conversa pode ocorrer por outros meios, uma vez que existem outras formas de linguagem além da falada e além disso, entende-se que até mesmo o silêncio é uma forma de comunicar algo. Através da conversa estabelecida entre paciente e psicólogo, sentidos e significados surgem, o que, aliás, é a intenção do psicólogo, pois o que lhe importa é justamente o destino que o sintoma irá tomar, ou seja, qual a relação que o paciente tem e passará a ter com a doença. A escuta que o psicólogo oferece ao paciente contribui para a sustentação de sua angústia até que ele seja capaz de elaborá-la e para que isto seja feito, é necessário que o psicólogo seja capaz de suportar a angústia do outro, a fim de auxiliar neste processo de simbolização e elaboração.

Para auxiliar seu trabalho, o psicólogo se utiliza de duas principais ferramentas, que são a escuta analítica, que consiste nas intervenções básicas já de costume, bem como a associação livre, análise na transferência e embora todas estas intervenções sejam bastante comuns ao psicólogo, o setting é absolutamente outro, pois ocorrem no hospital, ambiente pouco comum, e a ou ferramenta muito utilizada também é o manejo situacional que engloba intervenções direcionadas à situação concreta que se forma no adoecer, isto significa que no ambiente do hospital é preciso que o psicólogo deixe sua posição completamente neutra, que geralmente possui em consultório e realize mediação de conflitos, análise institucional, controles de situação entre outras necessidades. A transição do consultório para a instituição hospitalar é desafiadora para a psicologia hospitalar já que a tentativa de transpor o consultório para o hospital pode causar algumas experiências mal sucedidas.

A psicologia hospitalar tem buscado perceber a pessoa de modo mais ampliado, privilegiando as diversas formas de saber, porém é sabido que por mais que se intente a plenitude do conhecimento jamais será alcançado, dessa maneira, todo o conhecimento apreendido é parcial, no entanto, é preciso que se almeje o todo para que se alcance o máximo de partes quanto for possível. Hoje em dia existe um forte movimento que pede a humanização da medicina e é provável que isto seja alcançado apenas quando for possível “escapar” do cientificismo puro e começar a integrar a medicina com os demais campos de saber, como a própria psicologia, por exemplo. Já por parte da psicologia hospitalar, é preciso que o psicólogo esteja aberto também para conhecer os costumes, a cultura, economia, além da espiritualidade,

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