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Psicologia Clínica e Procedimento Clínico

Por:   •  18/10/2018  •  2.451 Palavras (10 Páginas)  •  279 Visualizações

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de experiência no procedimento clínico, que foge ao conceito de experimento aplicado na psicologia experimental. A experiência é abrangente e única. Outra característica é a boa distancia que deve ser observada pelo profissional diante do objeto, da situação em estudo. O psicólogo clínico se evolve na experiência e vivencia empaticamente a situação vivida pelo paciente, ao mesmo tempo em que toma distância para busca respostas eficientes que possam servir de ajuda ou soluções para superar as dificuldades apresentadas pelo paciente.

O papel da demanda tem grande relevância no procedimento clínico. Essa demanda surge a partir da necessidade de uma pessoa, de um grupo, de elucidar, reconhecer, de apoio, de formação e de cuidado em uma determinada situação. Ela pode ser explicita ou implícita, confusa, inexistente e deslocada, exigindo perspicácia do profissional. Mas a demanda não surge de forma unilateral, apenas do paciente, do objeto. Ela surge também do pesquisador. Dessa forma, essa relação inter-humana supõe a dupla demanda. Por um lado, o indivíduo que apresenta uma necessidade, solicita uma resposta, e por outro, do pesquisador envolvido e comprometido com a situação demandada e que se ocupa em oferecer caminhos para que a situação seja ordenada. Esta aí a base do procedimento clínico: no espaço aberto pela demanda que analisa, estrutura e instrumentaliza. Neste espaço há um deslocamento entre o profissional e paciente.

O procedimento clínico é antes de tudo, interpessoal. Está centrado na pessoa ou grupo de pessoas em situação e em interação, objetivando compreender a dinâmica e funcionamento psíquico, a singularidade, próprios à pessoas, grupos, a partir de certas variáveis como, por exemplo: historia pessoal, estrutura da personalidade, situações. Ele trabalha na relação e sobre a relação.

Dessa forma, entendemos que a psicologia clínica e o procedimento clínico se realizam no espaço relacional entre diversos elementos como o pesquisador, o paciente, o contexto, etc. Por ser construída nesse espaço de interação, a psicologia clínica, assim como o procedimento clinico estão implicados em situações complexas e tensas que requerem um equilíbrio por parte do profissional. Este precisa ter prudência , guardar distancia da experiência e trabalhar os fenômenos transferenciais e contratransferenciais. A psicologia clínica, portanto, é desafiada diante de situações complexas do indivíduo e da sociedade, a ser espaço de construção do conhecimento e de elucidação de problemas relacionados ao ser humano em situação de interação.

O ESTUDO DE CASO: DA ILUSTRAÇÃO À CONVICÇÃO

O estudo de caso é um processo que se constrói a partir de um olhar lançado sobre uma realidade e sobre o material recolhido; do interesse sobre o trabalho de análise e de apresentação do material referente a uma pessoa ou grupo em situação a ser estudada. A observação enquanto atitude, atenção, abertura, olhar, escuta, e enquanto método exercido em um dispositivo e com técnicas específicas, constitui a força do estudo de caso.

Além da observação, o estudo de caso integra dados provenientes de fontes diversas: elementos de arquivos médicos, administrativos ou sociais, testemunhos, resultados de testes ou de exames, dados de anamnese provenientes de entrevistas, de atendimentos ou de acompanhamento psicoterápico, fatores históricos, culturais, institucionais, etc.

O estudo de caso é objeto de variadas possibilidades: psiquiátrica,psicopatológica, psicanalítica, sociológica e psicológica clínica.

Na psiquiatria, o estudo de caso se utiliza da anamnese e prepara o diagnóstico. Seu objetivo é triplo: compreender, cuidar, formar. Na psicopatologia, o campo se amplia se diversifica conforme acepções muito diferentes de uma noção polissêmica, pois ele se estende do sofrimento e da angústia às disfunções variadas, às perturbações mentais, às doenças psicossomáticas. Na psicanálise, a modalidades de indagação tem relação com o modelo original psiquiátrico. Na área sociológica, indo em direção aos estudos de situação, as trajetórias, as histórias de vida.

Na psicologia clínica, o estudo de caso visa destacar a lógica de uma historia de vida singular, envolvidas por situações complexas, necessitando de leituras em diferentes níveis e utilizando instrumentos conceituais adaptados. Por meio do estudo de fenômenos complexos, utiliza-se uma clínica aberta ao social, articula-se “clínica do sujeito e clínica social”. Trata-se de uma construção efetuada pelo profissional ou pesquisador, a partir de uma ou várias fontes e destinada a ser comunicada para fins diversos. Essa construção deve ser resultado de um processo de análise de dados da experiencial real (do vivido), dos referenciais teóricos, de discussão, de validação de confiabilidade, norteado por uma interrogação paradoxal, uma pergunta norteadora da pesquisa ou da situação a ser elucidada.

O estudo de caso informa/forma ao descrever pessoas às voltas com situações difíceis, ou que requerem compreensão. Ilustra pela referência a uma ou mais experiências vividas, um raciocínio clínico. Levanta e fundamenta hipóteses que têm relação com uma problemática e refereciais explícitos e implícitos. Como funciona a teoria e sua relação com a prática e com o material proveniente dessa prática. O referente teórico é inerente ao estudo de caso, sendo ele único ou múltiplo, explícito ou não-dito. Que tenha uma função heurística, estimulando, oferecendo esclarecimentos, trazendo ideias, representando hipóteses. Que se estabeleça uma relação de troca entre o material e a teoria.

O estudo de caso apoiado na teoria se mostra como uma experiência criativa: descreve, ilustra,mas também investiga,sugere, suscita, reforça, mostra, demonstra.

É preciso, portanto, que seja seguido passo todo o processo de construção do estudo de caso, com suas implicações, inclusive as dificuldades. Ainda que respeitando os níveis de explicação psicológica e psicopatológica, é preciso evitar o risco da “psicologização”. Ou seja, evitar uma atenção puramente psicológica. É necessária uma articulação com as representações sociais; levar em conta o peso do histórico e do político, a intensidade afetiva ligada aos mitos e às ideologias presentes na subjetividade, da interioridade do sujeito/situação em estudo.

Os estudos de caso caracterizam-se pela atenção meticulosa dispensada às situações em sua complexidade, pelo envolvimento do profissional/pesquisador/psicólogo (transferência e contratransferência) e pela solidez e abertura da experiência clínica

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