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O ciúme e o crime passional

Por:   •  27/4/2018  •  15.194 Palavras (61 Páginas)  •  276 Visualizações

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Para o autor é normal alguém ficar enciumado em algumas situações, quando de fato se sente ameaçado ou excluído, o que leva a um questionamento sobre o sentimento, podendo até compartilhá-lo com o outro. Já a pessoa caracterizada como ciumenta, pode não ter muita ciência do sentimento, permanece aflita o tempo todo, sempre procurando uma forma de confirmar suas suspeitas. Geralmente tem atitudes agressivas e de desconfiança, causando mal à relação. Mas, quando o ciúme torna-se patológico, comprometendo o psíquico da pessoa, podem ocorrer delírios, e uma simples desconfiança pode se tornar uma certeza sem fundamento. Enquanto os ciumentos podem manifestar desde uma autoestima má estruturada até uma situação de neurose, os portadores da “Síndrome de Otelo” podem ter problemas neuropsiquiátricos e psicoses.

Vale ressaltar que o autor coloca que o ciúme é mais um sentimento que causa sofrimento para quem sente e para a pessoa amada, do que um tempero a mais para a relação. Há casos que vêm acompanhados por demências como a alcoólica, e a causada por Doença de Parkinson, ocasionando o ciúme mórbido e perseguidor, nos quais o auxilio médico e/ou jurídico são essenciais.

Ferreira-Santos (2002) descreve: “Quanto maior a intensidade desse sentimento, mais estaremos ultrapassando os limites da normalidade, para, aos poucos, podermos ser devorados por uma obsessão capaz de destruir qualquer relacionamento”.

Já Cavalcante (1997 p. 23) afirma que o ciúme acompanha o amor e trata-se de um sentimento que causa dor. A pessoa enciumada vive sob as condições impostas por um amor possessivo. Sobre o sentimento de posse o autor afirma: “Ele surge através de certos tipos de ligações intensas à pessoa amada e gera uma tendência de expressar uma possessão exclusivista, por medo ou risco de perda. É o medo de perder o objeto amado, o desejo de conservar a coisa que só queremos para nós”.

Para o autor, o processo de idealização seria a base dessa insegurança. A pessoa que ama cria uma imagem do objeto amado, muitas vezes sem fundamento com a realidade. Se esta idealização não corresponde às expectativas de quem a criou, começa a surgir desconfiança, e por fim o ciúme.

Menciona ainda que o ciúme pode ter origem em um “amor servido”. Ou seja, mesmo sendo um amor totalmente correspondido, em que se alcançam todas as expectativas, pode freqüentemente surgir o medo da perda ou do abandono. Nessas situações pode surgir o ciúme. A respeito do ciúme descreve:

Todos nós cultivamos certo grau de ciúme. Quem ama cuida. Se gosto de uma arvore, vou protegê-la, não vou deixar que ninguém a corte ou a leve para casa. Podemos considerar essa sensação como de bom ciúme, algo que é muito frequente se dizer no sentido da linguagem popular. Ciúme aqui seria usado no sentido de zelo, cuidado, proteção, segurança. (CAVALCANTE, 1997, p. 24)

1.2. O Ciúme segundo Freud

Freud (1975) considera o ciúme um estado emocional presente em todos os seres humanos, em afeto normal ligado ao relacionamento amoroso. Relaciona-se com o luto, quando se trata do medo da perda do objeto amado. Quando não aparente, provavelmente foi reprimido, o que pode refletir no inconsciente, segundo ele:

O ciúme é um daqueles estados emocionais, como o luto, que podem ser descritos como normais. Se alguém parece não possuí-lo, justifica-se a interferência de que ele experimentou severa repressão e, consequentemente, desempenha um papel ainda maior em sua vida mental inconsciente. (FREUD, 1975, p. 271)

Freud divide o ciúme em três tipos: o normal ou competitivo, o projetado e o delirante.

O ciúme normal é descrito pelo autor, como aquele que todos que já amaram, já experimentaram. É a dor causada pelo sentimento de perda, de luto. Também envolve o ódio pelo rival e a culpa, pois o individuo também se sente responsabilizado pela perda. Este ciúme não pode ser considerado como algo racional, pois ele tem relação com as fantasias inconscientes da infância. O Complexo de Édipo é a base do ciúme normal, este é só um reflexo do ciúme edipiano originário. Freud (1975) ressalta que esse tipo de ciúme pode ser vivido de uma forma bissexual: o homem, além de sentir a dor pela perda da mulher amada e o ódio pelo rival, sentirá também pesar pelo homem, pois o ama de forma inconsciente e sente raiva da mulher como rival. Esses sentimentos aumentam a intensidade do ciúme. Freud exemplifica com o seguinte caso:

Eu mesmo conheço um homem que sofria excessivamente durante suas crises de ciúme e que, conforme seu próprio relato, sofria tormentos insuportáveis imaginando-se conscientemente na posição de mulher infiel. A sensação de impotência que então o acometia e as imagens que utilizava para descrever sua condição – exposto ao bico do abutre, como Prometeu, ou arrojado em um ninho de cobras – foram por ele atribuídas a impressões recebidas durante vários atos homossexuais de agressão a que fora submetido quando menino. (FREUD, 1975, p. 271 – 272)

Em seguida têm-se a definição do ciúme projetado. Segundo Freud (1975), tem como origem a infidelidade e os impulsos reprimidos que o individuo experimenta no decorrer da sua vida. “É fato da experiência cotidiana que a fidelidade, especialmente aquele seu grau exigido pelo matrimonio, só se mantém em face de tentações contínuas”. (FREUD, 1975, p. 272). Sua manifestação tem como característica a negação das angústias, desejos, pensamentos da pessoa que o sente. Para aliviar-se ela projeta seus sentimentos na pessoa amada.

O ciúme projetado também está relacionado às convenções sociais, como descreve o autor:

As convenções sociais avisadamente tomaram em consideração esse estado universal de coisas, concedendo certa amplitude ao anseio de atrair da mulher casada e à sede de conquistas do homem casado, na esperança de que essa inevitável tendência à infidelidade encontrasse assim uma válvula de segurança e se tornasse inócua. A convenção estabeleceu que nenhum dos parceiros pode responsabilizar o outro por essas pequenas excursões na direção da infidelidade e elas geralmente resultam no desejo despertado pelo novo objeto encontrando satisfação em certo tipo de retorno à fidelidade ao objeto original. Uma pessoa ciumenta, contudo, não reconhece essa convenção da tolerância; não acredita existirem coisas como interrupção ou retorno, uma vez o caminho tenha sido trilhado, nem crê que um flerte possa ser uma salvaguarda contra a infidelidade real. No tratamento de uma pessoa

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