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Introdução As Teorias do Desenvolvimento

Por:   •  3/9/2018  •  13.013 Palavras (53 Páginas)  •  290 Visualizações

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A resposta de Marilena é típica do estágio em que se julgam as ações com base na gravidade das conseqüências materiais da ação. Pedro, ao contrário, é capaz de perceber a intenção não se detém na dimensão do buraco feito nem no dilema da conseqüência material.

Marilena está no estágio de desenvolvimento no qual julga uma ação baseada somente nas conseqüências materiais.

Não há explicação, incentivo ou punição que possam convencer Marilena de que existe um outro modo de considerar esses dois casos. O que há, realmente, é uma incapacidade total de levar em consideração a possibilidade de alternativas. Pedra, embora tivesse usado, até um tempo atrás, o mesmo critério de Marilena para julgar o grau de culpabilidade, ficaria surpreso com o raciocínio dela e não se lembraria de ter dado a mesma resposta quando era menor.

Esta diferença na resposta é universal. Repetidas entrevistas com os mesmos jovens confirmam e reconfirmam o fato de que em certos estágios as coisas são vistas de uma perspectiva diferente da precedente. Uma maior maturidade cognitiva, aliada a uma série de experiências sociais, alargará a perspectiva de Marilena, e só então ela perceberá a inadequação de seu modo de julgar o certo e o errado.

O desenvolvimento moral, portanto, não é um processo de imposição de regras e de virtudes, mas um processo que exige uma transformação das estruturas cognitivas. É, por isso, dependente do desenvolvimento cognitivo e do estímulo do ambiente social.

Teoria Evolutiva de Jean Piaget

Jean Piaget orientou, por mais de quarenta anos, estudos sobre a origem e o desenvolvimento das estruturas cognitivas e do julgamento moral nos primeiros anos de vida. Os seus estudos sobre o juízo moral da criança foram publicados pela primeira vez no ano de 1932. Piaget aí analisava as atitudes verbais das crianças em relação às regras do jogo, à distração, à mentira e ao roubo e explorava muitos aspectos a noção de justiça das crianças. Identificou dois grandes estágios de desenvolvimento no período que vai dos seis aos doze anos. As crianças menores estão no estágio denominado “heteronomia" – isto é, suas regras são leis externas, sagradas, porque são impostas pelos adultos. Assim, as regras contra q dano, contra a mentira ou contra o roubo não são vistas como maneiras de agirem fixadas para um melhor funcionamento da sociedade, mas, sim como arbitrárias, isto é, como "leis da divindade" que não devem ser transgredidas. Este estágio diminui gradualmente em favor do estágio da "autonomia", em que as regras são vistas como o resultado de uma decisão liberal e digna de respeito, aceitas pelo mútuo consenso. As regras sobre a propriedade, a mentira, o roubo são respeitadas porque são uma necessidade do próprio grupo, e não porque vêm de um superior.

Veremos as descobertas de Piaget em cada uma das áreas exploradas por ele a fim de esclarecer o modelo de organização cognitiva no estágio heterônimo e compará-lo com â perspectiva do estágio autônomo. É importante notar que a autonomia, para Piaget, refere à liberdade do constrangimento causado pela heteronomia. Não se trata, aqui, da autonomia definitiva dos estágios de Kohlberg, mas sim da base para a interação social, imprescindível para o desenvolvimento moral.

Se, como acredita Piaget, "toda moral consiste num sistema de regras e a essência de toda moral1dade é buscada no respeito que o indivíduo nutre por estas regras", a questão crucial para quem se interessa pelo desenvolvimento da moralidade é como se consegue o respeito às regras. .Piaget discutiu este problema sob dois pontos de vista diferentes: Primeiro, sob a consciência ou respeito às regras, isto é, em que grau as regras funcionam como freios; Segundo, sob a prática das regras. Piaget queria encontrar o grau de correspondência existente entre a consciência e o respeito às regras e sua colocação em prática.

Para estudar estas duas questões, Piaget escolheu uma série de regras comumente conhecidas por crianças de várias idades: as regras do jogo de bolinhas de gude. Este, como outros jogos infantis, raramente é ensinado de modo formal e geralmente os meninos aprendem as regras sem esperar recompensa ou punição por parte dos adultos. Piaget observou meninos de idades diferentes que jogavam bolinhas de gude e perguntou sobre as regras do jogo: quais eram, de onde vinham e se podiam ser modificadas. Seu objetivo principal era perceber como o jovem se portava diante das regras: se o menino acreditava numa heteronomia, ou seja, que as regras eram externas e sagradas e, portanto, impossíveis de serem modificadas pelos jogadores, ou se ele estava consciente da autonomia, isto é, que as regras do jogo são o resultado de um acordo mútuo entre os jogadores. Com relação às regras do jogo de bolinhas de gude, Piaget encontrou caminhos diversos tanto sobre a consciência das regras como sobre sua prática.

Os dois primeiros estágios. As crianças menores, até dois anos mais ou menos, jogam simplesmente. Não há regra governando a sua atividade; o jogo é uma pura atividade motora e não há na criança nesta idade consciência das regras do jogo de bolinhas de gude. Há sim, neste estágio, ao mesmo tempo, uma atividade motora simples e uma consciência de que as regras não são coercitivas.

No segundo estágio, entre dois e seis anos, a criança observa os maiores jogarem e inicia a imitar o ritual que observa. Neste período, a criança é consciente de que existem regras que governam as atividades e, apesar de ser um conhecimento rudimentar, considera as regras sagradas e invioláveis. A sua prática de regras é egocêntrica, isto é, copia aquilo que viu para os seus próprios fins (traça um circulo, arruma as bolinhas, faz pontaria e joga), sem consciência até mesmo do isolamento do jogo como atividade social.

Examinemos um pouco mais este aspecto. Diferentemente da criança no estágio da atividade motora. a criança de dois a seis anos é consciente de que existe regras para o jogo de bolinhas de gude. Porém, para ela, o jogo não é uma atividade social. Ela assimilou alguns aspectos da realidade social chamada "bolinhas de gude", mas não é capaz de conectar algo mais a esta realidade. O seu prazer se origina da atividade psicomotora de desenvolver uma capacidade. Neste estágio, cada criança, ainda que tenha companheiros que “joguem" com ela, joga o próprio jogo, e se o companheiro é um adulto, no final do “jogo", a criança provavelmente perguntará: "Quem ganhou", porque não tem idéia

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