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Fichamento do capitulo 8 de Paulo Amarantes

Por:   •  14/6/2018  •  2.069 Palavras (9 Páginas)  •  393 Visualizações

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A partir da revisão das práticas psiquiátricas e do despojar da realidade posta em pauta, onde “o homem se revela objeto em um mundo objetal”, a psiquiatria se depara com sua própria limitação diante daquilo que é tido como doença mental sem considerar a realidade, o contexto social do (enfermo) no qual está inserido e, por assim, privá-lo de sua identidade. . Pg. 132.

No terce dessa ideia, da exclusão do (enfermo), Amarantes ressalva, “colocar a doença entre parênteses”, dando-a uma nova significação, mais elaborada que da psiquiatria de “inventar” um modo novo “de organizar aquilo que não pode ser organizado”, indo em busca de um método de cura que não caminha para a normas institucionalizantes.

Na obra intitulada o que é psiquiatria?-1967, de Basaglia, na qual este fazendo referencia a Sartre em o que é literatura?, vai de encontro a ideias e práticas preestabelecidas que emergem diante da recusa de uma realidade dada, onde a psiquiatria confrontada com seu objeto e limitada diante da diversidade e incompreensibilidade da doença mental, estigmatiza, homologa o estatuto da institucionalização do doente mental. Pg.133. Ainda se referindo a limitação do saber psiquiátrico, Amarantes destaca o método cientifico da pesquisa psiquiátrica, que se distância de modo especial do “terreno da própria pesquisa”, “[...]fazendo como que o psiquiatra se afaste do doente, de seu sofrimento e de sua condição real de institucionalizado, terminando por interpretar ideologicamente a doença sem considerar as circunstâncias institucionais[...]”. pg. 134.

A necessidade de intervenção no campo da psiquiatria caminha para um embate constante que move em dois níveis simultâneos, um de caráter científico e outro de natureza politica. Pois, além de dar conta da realidade presente da doença e do doente, a problemática da estigmatização, fazendo menção a Goffman, está preestabelecida no cotidiano sócio-cultural da sociedade; pre-conceitos que sedimentam uma noção incompleta na coisa-doença mental que surge no próprio seio da sociedade. Não se trata apenas de combater as forças institucionalizantes do fazer psiquiátrico, mas de movimentar uma discussão que repercuta em toda sociedade, e, o processo de exclusão e cerceamento dos chamados (doentes mentais) caminhe em direção da dialética intersubjetiva, onde esta problemática seja posta no enquadramento do real, no contraditório de nós mesmos enquanto pertencentes a uma sociedade, um grupo social, uma identidade que nos aproxima do outro. Pg.134.

Dado desse modo, “o processo de coisificação das pessoas, que é promovido pelas instituições, [...] nos servirá de ferramenta permanente na luta contra todas as formas de institucionalização.”. pg.135. Amarantes não deixa de ressaltar a ideia, incorporada pelo olhar cientifico, “coisificante” da doença mental direcionando para um novo olhar que perceba a pessoa, em vez da doença e sinaliza sempre a necessidade de coloca-la em parênteses sem negar o sujeito, a pessoa e suas experiências. Pg.135

É importante mencionar que o caráter de negação da psiquiatrização se dá no âmbito das práticas, da postura desses profissionais em face da doença mental; a crise da psiquiatria desencadeada pela contradição entre o conhecimento institucional e a doença mental em si, enquanto significado especifico difere da realidade e tratamento, práticas institucionais da psiquiatria. Amarantes enfatiza essas ações psiquiátricas como um ‘mandato social” que precisa ser combatido, negado em virtude do próprio caráter subjetivo da discussão. Pg 136.

Instituições psiquiátricas e instituições totalitárias - as etapas de um projeto de transformação no pensamento de Franco Basaglia

Franca Basaglia reuniu a produção de Franco nos Scritti Basaglia I e II, em cuja "Introdução" propõe classificar a produção de Basaglia em quatro fases. (pág. 137; p. 1).

A terceira fase nasce do encontro real com a prática psiquiátrica, "isto é, com a realidade diretamente consequente com as definições, os instrumentos e as finalidades da psiquiatria enquanto ciência". Franca define-a como de negação/superação institucional ou, em outras palavras, de negação da psiquiatria enquanto ideologia, "a medida que esta tende a fornecer justificativas teóricas e práticas a uma realidade que a própria ciência contribui para produzir, nas formas mais adequadas à conservação do sistema em que está inserida" (idem, 1981, p. xxii). (pág. 138-139; p. 3).

Ressalto a partir da terceira fase da obra e vida de Basaglia, pois foi a partir deste momento que ele assume a direção do manicômio em Gorízia, em 1961. Quando se vê confrontado pela realidade de um hospital psiquiátrico e posteriormente pela realidade do cárcere. Esse período é caracterizado pela violência da exclusão, da segregação, do poderio sobre a vida do outro, do sofrimento institucional instaurado e legitimado dentro das unidades manicomiais, uma face italiana que não chegava às salas das universidades, uma face que Basaglia desconhecia, mas que pôde sentir na carne. Essa também é a fase de negação/superação. Negação às verdades instituídas e enfatizadas pela Psiquiatria como soberanas e indiscutíveis, ditas em prol da “moral, segurança e bem-estar”, mas que visava a manutenção e abrangência do seu sistema considerado científico, racional, de forma a produzir o sofrimento mental/físico e mázelas sociais, na maioria das vezes, irreparáveis. Superação ao “duplo da doença mental”, colocando a doença entre parênteses para denunciar o caráter da instituição manicomial ao que se conceitua ser doente mental, ao caráter dos métodos destrutivos da doença e do doente.

A quarta fase é demarcada pela abertura ao exterior da problemática psiquiátrica, na qual Basaglia ensaia os primeiros passos de uma atuação que busca incorporar a compreensão crítica das fases anteriores numa prática objetiva de transformações. (pág. 140; p. 8).

Essa fase é caracterizada pela a expansão da problemática antimanicomial e da incorporação das fases anteriores para a formulação de construtos de uma prática transformadora. Neste momento, também surge a “nova psiquiatria”, que para Basaglia é mais uma faceta da antiga, mais tolerante, porém ainda visando o controle social através de teorias da personalidade, teorias binárias (normal e anormal), teorias do comportamento desviante, psicótico e etc.

Manicômios: da instituição da tolerância à desinstitucionalização

O autor disseca

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