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Dossiê : Psicologia e Sexualidade no Século XXI

Por:   •  20/8/2018  •  1.695 Palavras (7 Páginas)  •  410 Visualizações

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(2008, p. 643 9° paragrafo)

As “descobertas” do período sexológico resultaram em modelos clínicos de intervenção operados por psicólogos, médicos e psicanalistas até hoje. Os autores-heróis acima identificados por Gagnon & Parker, por exemplo, dedicavam-se à saúde mental e, depois dos anos 60, passaram a tratar também da “saúde sexual” - a normalidade biológica teria sido “revelada” pelo laboratório e a normalidade estatística pelas pesquisas sobre crenças, atitudes ou práticas sexuais de populações e grupos.

(2008, p. 643 12° paragrafo)

Na esfera da sexualidade, importante ressaltar, uma das grandes contribuições do período sexológico para a mudança social foi naturalizar o prazer no mundo de tradição judaico-cristã, legitimar a sexualidade independente da reprodução, separação que a pílula anticoncepcional massificou. Também descrever - como fizeram Kinsey e a epidemiologia comportamental ou a psicologia social de inspiração sócio-cognitivista pós-Aids - a prevalência maior e insuspeitada de certas atitudes e práticas sexuais. O prazer pôde emergir como “verdade revelada” sobre a natureza do sexo, natureza que a sociedade ocidental teria reprimido e que as sexologias poderiam des- reprimir ou tratar como “disfunção.

(2008, p. 644 15° paragrafo)

O SURGIMENTO DO PARADIGMA CONSTRUCIONISTA

No final dos anos 60, o sexo inicia sua emancipação da essencialidade e da reprodução. A verdade sobre o sexo como vida instintiva ou impulsiva começou a ser questionada por teóricos dos movimentos feminista e homossexual que contribuíram definitivamente para a explosão de estudos no campo das ciências humanas e sociais, aprofundando a crise do paradigma sexológico. Essa perspectiva crítica tem sido chamada de construcionista (contructionism).

(2008, p. 644 16° parágrafo)

Como discutiu C. Vance (1991/1995) no Como discutiu C. Vance (1991/1995) no texto clássico que inspirou o título desse artigo, de 1975 a 1990 o discurso construcionista1 re-definiu o gênero e a identidade sexual, separou a identidade das práticas sexuais, questionou o determinismo biológico, construiu a história da homossexualidade e da origem da dominação masculina.

(2008, p. 644 17° parágrafo)

“um conjunto de medidas mediante o qual a sociedade transforma a sexualidade biológica em produto da atividade humana e essas necessidades sexuais transformadas são satisfeitas” (Rubin, 1975). Em outro artigo seminal (Rubin, 1984/1999) propôs que, embora imbricados, sexo e gênero são domínios distintos, constituem sistemas distintos e exigem teorias próprias. Observou como as classificações da sexualidade (heterossexual ou homossexual ou bissexual) também hierarquizam o sexo bom/mal, normal/anormal, natural/não natural .’’

A tradução desse texto de C. Vance na revista Physis usa construtivismo. Preferimos construcionismo usado também por outros autores, também para não confundir com outros construtivismos, inclusive da pedagogia de Paulo Freire que frequentemente aparece no debate sobre prevenção e educação sexual.

(2008, p. 644 18° parágrafo)

Jeffrey Weeks (2000) usa o termo construcionismo social para descrever essa abordagem, historicamente orientada, que pretende compreender atitudes em relação ao corpo e à sexualidade, apreendendo as relações de poder que modelam o que se define como normal e anormal.

(2008, p. 645 19° parágrafo)

Ao invés de pensar que o sexo teria prioridade na explicação do comportamento, da cultura, da civilização e da sociedade (interpretado com base em regras de parentesco, libido, repressão e tabus) passou- se a pensar como a atividade sexual (física e simbólica) poderia configurar outras atividades sociais, expressando conjugalidade, trabalho, política, negócio ou religião. Como insistiu J. Weeks ao longo de sua obra: qualquer coisa pode ser sexualizada, nada seria intrinsecamente sexual.

(2008, p. 645 22° parágrafo)

A PSICOLOGIA SOCIAL DE MEAD

Do ponto de vista da redescoberta da sexualidade pela psicologia e, mais especialmente, para informar processos de trabalho no campo da sexualidade no âmbito de uma psicologia necessariamente social, vale a pena notar a forte presença da inspiração da obra de George Mead (1934/1992) no campo construcionista, mais conhecida do estudante de psicologia brasileiro nas obras de P.Berger e T.Luckmann e de J.Habermas.

Mead afirmava, no início do século XX, que separados da sociedade seríamos ao mesmo tempo “mudos” e “desprovidos de mente”.

(2008, p. 646 27/28° parágrafo)

O self, como a sociedade para Mead, é processo e não substância. Cada experiência social é responsável pelo aparecimento do self, que não existe independentemente dessa experiência. O alcance da auto-consciência se dá por meio do outro, requer se colocar no lugar do “outro generalizado”, do surgimento do outro no self.

(2008, p. 646 29° parágrafo)

O self é conversação e linguagem que originaram- se nos gestos. A mente surgiria da comunicação, da conversação de gestos no processo social que constitui o contexto da experiência. A comunicação discursiva permanece ocorrendo integrada ao gesto. Pensar é comunicação, conversação entre o indivíduo e o “outro generalizado”.

(2008, p. 646 30° parágrafo)

A sociedade humana, insistimos, não carimba simplesmente os padrões de seu comportamento organizado nos seus membros individuais como padrão do self individual; ao mesmo tempo lhe dá uma mente (mind) que lhe permite conversar

(2008, p. 646 )

AS TEORIAS INTERPELADAS PELA AIDS: A SEXUALIDADE NÃO SE REDUZ AO DISCURSO OU AO COMPORTAMENTO

A emergência do HIV/Aids foi definitiva para estimular a crítica mais radical aos paradigmas sexológicos ou de influência cultural. Contribuiu, então, para a crítica da epidemiologia comportamental que importava para a Aids a tradição dos estudos sócio-cognitivos no campo da psicologia da saúde (sobre stress e comportamento alimentar, p. ex.), rapidamente identificados

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