A Teoria da Técnica
Por: Rodrigo.Claudino • 2/10/2018 • 4.999 Palavras (20 Páginas) • 277 Visualizações
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Freud (1916), afirma que a relação terapêutica obedece certas regras. No que se diz a respeito ao paciente, associações livres: deve-se dizer, se possível, tudo que lhe vem à mente, sem dispensar qualquer pensamento. No que se diz a respeito ao analista, atenção flutuante: corresponde às associações livres do paciente. Deve ser neutro, não tendo nenhuma ideia pré-concebida quando escuta o paciente; renúncia a intervir junto aos circunstantes do paciente: o psicanalista se interessa pelo mundo interno do paciente e não pelos seus circunstantes; interpretação: principal instrumento terapêutico, que ajuda o paciente a perceber a origem real de seus sentimentos, medos ou inibições.
O autor também ressalta, ao fazer recomendações aos psicanalistas, que os aspectos importantes no início do tratamento são os acordos quanto a tempo e dinheiro, ou seja, o contrato realizado anteriormente ao tratamento efetivo. Nele, estão incluídos ainda o diagnóstico e indicação terapêutica realizados pelo analista.
Destaca-se uma dupla função do enquadre psicoterápico. A primeira delas teria um caráter dinâmico, criando um campo no interior do qual se desenrolaria a terapia. Já a segunda possuiria função tópica delimitando o lugar psicoterápico. Tal função se consistiria do conjunto de parâmetros espaço-temporais fixos do tratamento: neutralidade e constância dos locais, frequência das sessões, horários, duração, etc.
Assim, a função dinâmica é indissociável da função tópica, na medida em que, na opinião do grupo, é em relação ao campo cultural que se delimita o campo psicoterápico. O enquadre determina um “dentro” e um “fora”, sendo o dentro o campo psicoterápico, e o fora o campo sócio cultural.
Processos
O processo terapêutico psicanalítico consiste em revelar os conflitos originados submersos em seu inconsciente que provocam sofrimento em sua vida atual. Esse processo permite ao paciente, compreender seus conflitos e a razão da aparição de seu sintoma. Para isso, o estabelecimento de um contrato deve acontecer entre terapeuta e paciente, assim, o acordo entre os dois possibilita condições para que a terapêutica possa se desenvolver.
Esse acordo e a evolução do tratamento dependerão das duas partes – analista/analisando –, tendo em vista de que o que se busca no setting terapêutico possui o foco nos aspectos inconsciente do sujeito, cujas representações serão compreendidas por meio do comprometimento do paciente e da disposição do terapeuta em tentar descobrir quais as causas que levaram o paciente a essa situação.
Para o terapeuta conseguir ter acesso a informações do inconsciente do paciente, articula-se a livre associação (exercida pelo paciente), a escuta flutuante (exercida pelo terapeuta) e a interpretação elaborada pelo terapeuta a partir destes dois últimos. Além dessas técnicas, existem dois processos que acompanham a terapia, sendo eles a resistência e a transferência/contratransferência. É a transferência que possibilita o andamento da terapia, visto que sem ela é difícil obter resultados significativos. Já a resistência é o conjunto de reações que um paciente tem que criam barreiras para que a análise possa se desenrolar.
O processo psicanalítico é uma expressão que é criada pós Freud. Ao tentar buscar raízes na literatura de Freud sobre essa expressão são encontradas citações em que ele compara a análise a uma gravidez, metáfora traduzida nos diz que o processo psicanalítico seguirá um caminho natural, um caminho que lhe é próprio. O conceito de uma evolução natural se da em indicações precisas a partir de várias análises e do que o analista observa nas sessões, tendo como maior preocupação que sua contratransferência não venha a perturbar o curso da análise.
Assim, numa prática psicanalítica contemporânea a questão que nos interessa é sobre a relação analista e analisando, e o que o analista pode fazer em relação ao ritmo processual do tratamento. Quando a analise não está em seu curso natural o terapeuta deve se perguntar a respeito da “natureza das fixações, os danos possíveis do ego, a estrutura não neurótica do paciente”, como o autor André Green mesmo diz em seu livro:
“O que denominamos processo psicanalítico é a criação de uma ‘segunda realidade’ nascida de um olhar sobre as mudanças no correr das sessões, que se interroga a respeito da avaliação do modo de desenvolvimento das relações entre a conjectura, em perpetua modificação, sobre o que se dará a conhecer e sobre o que, em contrapartida, tornará a interpretação suscetível de desencadear os efeitos perturbadores que devem ser evitados”. (GREEN, 2001, p.72)
Green (2008) ainda coloca um peso grande no papel do paciente durante a analise, pois o processo psicanalítico caminha de acordo como o ele respeita e aplica em si a regra fundamental, que é a regra segunda a qual o paciente deve se esforçar para dizer tudo que lhe vier à cabeça.
A delicadeza do processo psicanalítico pode ser observada no caso do Homem dos Lobos descrito por Freud. Foi um caso em que ele atendeu em Viena, cujo paciente era um rapaz que tinha sintomas de depressão e de não conseguir defecar, tendo que fazer um edema para tal. Tal homem tinha um sonho no qual ele tinha aproximadamente 4 anos e, ao se levantar do berço e olhar através da janela, via vários lobos brancos olhando fixamente para ele. Freud interpretou esse sonho desse rapaz dizendo que foi o momento em que ele viu seus pais transando. Porém, o paciente não concordou com essa interpretação e Freud, então, estabeleceu um prazo de encerramento das analises. Neste caso o analisando não percebeu que o processo não estava adequado ao paciente.
No texto Orientações para uma psicanálise contemporânea, seu autor André Green (2008) ainda levanta a questão de que se o processo psicanalítico seria o mesmo em outras abordagens como a Kleiniana, Lacaniana, Winnicottiana, mas deixa tal questionamento em aberto.
Transferência
De acordo com Green (2008), o fenômeno da transferência está presente desde o inicio do tratamento em todos os indivíduos. Contudo, alguns pacientes podem ser mais transferenciais que outros e, com isso, torna diferenciada a transferência de psicóticos e neuróticos. Inicialmente, a transferência era vista como uma forma de resistência por parte do paciente, sendo só posteriormente considerada motor do tratamento.
A transferência deriva de uma compulsão que tende a reproduzir uma constelação infantil anterior espontaneamente
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