A PSICOPATOLOGIA ESPECIAL
Por: Rodrigo.Claudino • 20/12/2018 • 1.867 Palavras (8 Páginas) • 370 Visualizações
...
- Medicalização da vida e inflação diagnóstica
Allen Frances, autor da obra “Voltando ao Normal”, caracterizou e denominou como inflação diagnóstica, o fenômeno do aumento do consumo de fármacos psicoativos a fim de amenizar ou solucionar transtornos mentais que, muitas vezes, pode ser resolvida apenas com a psicoterapia, sem a necessidade da utilização de substâncias exógenas comercializadas pela indústria farmacêutica. O autor interpreta o contexto social vivido como de estresse constante e competição, tornando-se nocivo para a saúde mental e fragiliza a população de maneira geral, tornando-a vulnerável ao desenvolvimento de transtornos mentais. Com esse desenvolvimento de estresses decorrentes do convívio social, costuma-se ter como interpretação de solução imediata a medicalização, por muitas vezes desnecessária, por parecer o recurso mais rápido e que movimenta capital para a grande indústria farmacêutica, porém, esse recurso não deveria ser aproveitado tão banalmente visto que medicamentos psicotrópicos podem gerar muitos efeitos adversos muito danosos como, por exemplo, a dependência química dessas substâncias.
Esse fenômeno também é muito presente com crianças, onde as crianças são supradiagnosticadas. Situações em que quadros clínicos são desnecessariamente diagnosticados como psicopatologias são comumente encontrados, situação também descrita por Frances quando o autor expõe que o mundo está se tornando gradativamente mais intolerante com singularidades, mesmo que essas sejam leves desvios de padrão.
Frances exprime a percepção da alta necessidade de tratamentos preventivos na visão médica e da indústria farmacêutica, no intuito de gerar lucro. Para isso, as comunidades médicas, em geral, junto às grandes indústrias farmacêuticas estabelecem e reestabelecem padrões a fim de englobar maior número de pessoas e que essas se tornem usuários/consumidores de seus produtos, os medicamentos, neste caso em específico, psicotrópicos. O aumento dos índices de prescrições de medicamentos com intuito terapêutico de tratar psicopatologias deve ser analisado como uma questão de saúde pública, mas também deve gerar a discussão sobre as intenções desses grandes órgãos interessados no comércio dessas substâncias, o custo-benefício relacionado à sua utilização, a cautela que deve ser tomada no diagnóstico e se ela está de fato ocorrendo.
Com base nesta problemática, Frances apresenta artifícios a fim de controlar esta situação de inflação diagnóstica e prescrição inadequada de psicofármacos como a reflexão e discussão sobre a utilização, fruto predominantemente da prescrição prévia, errônea desses princípios ativos. Diz, ainda, que deve haver políticas sobre a utilização destes psicotrópicos tratadas com a mesma importância de como são para substâncias ilícitas. Na visão do autor, para o controle da inflação diagnóstica, deve-se partir do controle de marketing de grandes indústrias farmacêuticas que propagam a informação de que transtornos mentais são muito comumente encontrados e podem ser tratados de forma simples e breve com a utilização de medicamentos, sem expor as cautelas necessárias.
Outro fator importante a ser mudado na sociedade capitalista é em questão de fiscalizar os órgãos que produzem medicamentos causadores de danos para os usuários destes, apenas por interesses econômicos. Tendo também um acompanhamento rigoroso durante sua venda, para comprovar sua qualidade e eficácia, sem falhas. E, continuando nessa mesma linha de raciocínio, haver uma supervisão para os profissionais de saúde, para que possa controlar sua atuação, visto que é um papel fundamental para os indivíduos que tem algum tipo de psicopatologia e necessitam deles. E para finalizar, o DSM-V, ter cautela na utilização e produção deste um manual diagnóstico, em que pode ser tendencioso no quesito de rotular o paciente e podendo assim ter o aumento da taxa de transtornos mentais.
Através dessas duas abordagens em que se tratam de maneira crítica a prescrição e uso de psicofármacos como solução para psicopatologias, pode-se perceber a grande importância que existe no cenário atual da saúde em debater esse assunto e questionar a necessidade real de medicalização.
Allen Frances (2015), em seu livro “Voltando ao Normal: Como o excesso de diagnósticos e a medicalização da vida estão acabando com a nossa sanidade e o que pode ser feito para retomarmos o controle’” aborda o questionamento acerca da existência de uma indústria de diagnósticos que promove um discurso médico patologizador e impõe intervenções que, muitas vezes, são desnecessárias. O conceito de “inflação diagnóstica” é usado por ele para intitular as elevações das taxas diagnósticas de doenças mentais e seu trabalho traz diversas contribuições para o entendimento de suas causas e consequências.
Segundo Frances (2015), forças externas influenciam o DSM e levam a modificações que estão de acordo com interesse econômicos. Uma dessas forças é a da Indústria Farmacêutica que lucra com a venda dos psicofármacos e que inserida em uma lógica capitalista busca, através da ampliação dos critérios diagnósticos do DSM, expandir o seu mercado consumidor. Além disso, essa mesma indústria aplica copiosamente estratégias de marketing e pesquisas tendenciosas, a fim de favorecer seus produtos em um mercado competitivo.
A inflação diagnóstica se dá também por uma tendência atual de patologização da vida, na qual se transfere para o discurso médico, comportamentos, emoções ou características, que mesmo fazendo parte da natureza e da subjetividade do homem, são tratados como doença. A sociedade cada vez mais passa por uma banalização dos diagnósticos de transtornos mentais, que muitas vezes, patologiza sentimentos normais e converte em transtorno as singularidades, tornando a sanidade em algo quase inatingível. Essa dinâmica tem se estendido até na infância, onde as crianças e adolescentes estão sendo bombardeadas com uma série de diagnósticos para justificar qualquer mínimo desvio do padrão esperado, tanto no comportamento, quanto no rendimento escolar.
Geralmente, após o diagnóstico feito pelo médico baseado no DSM, o único método descrito como tratamento é através de medicamentos, deixando a psicoterapia de lado e muitas vezes nem citando essa possibilidade. Sendo dessa forma, os protagonistas nesse cenário de doenças mentais são os psicofármacos, que surgem a cada nova síndrome, distúrbio ou transtorno, quase que simultaneamente.
Já os efeitos colaterais da utilização desenfreada
...