A ESCOLA QUE SEMPRE SONHEI SEM IMAGINAR QUE PUDESSE EXISTIR.
Por: Juliana2017 • 21/11/2018 • 16.208 Palavras (65 Páginas) • 342 Visualizações
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É importante ressaltar que cada abordagem trará uma técnica de aprendizagem e que de um modo geral, ambas trabalharão dentro do seu objetivo comum que é a garantia de aprendizagem, aonde nos permitira adquiri uma visão critica e construtiva de cada uma.
- DESENVOLVIMENTO
- Resumo do livro
Tudo começou acidentalmente num lugar de Portugal cujo nome eu nunca ouvira: Vila Nova de Famalicão. Onde vivera Camilo Castelo Branco, romancista gigante de vida trágica; Camilo se apaixonou por uma mulher casada que, por sua vez se apaixonou por ele, e os dois fugiram para viver um amor louco e criminoso. Naqueles tempos do século passado adultério era crime, o marido traído pôs a polícia ao encalço do sedutor que foi preso e passou anos na prisão - sem que o seu amor diminuísse. Imagino que o título do seu livro "Amor de Perdição" tenha sido inspirado por sua própria desgraça.
Camilo Castelo Branco ficou cego e foi abandonado pelos amigos. De tristeza, pôs um fim à sua vida, a casa onde morou hoje é um museu .
Existe ali um "Centro de Formação Camilo Castelo Branco", dirigido pelo professor Ademar Santos, chegou às mãos do professor Ademar um livrinho meu, velho e surrado, "Estórias de quem gosta de ensinar".
Ademar, passou a caçar o que eu escrevia, descobrindo-me finalmente nas crônicas que publico aqui no Correio Popular aos domingos, passamos a nos corresponder via e-mail e o "Centro de Formação Camilo Castelo Branco" acabou por convidar-me a lá passar uma semana. Cada ocasião era uma aprendizagem que me assombrava. Dentre elas a "Escola da Ponte". Pedi que o Ademar me desse explicações preliminares, antes da visita. Ele se recusou. Disse-me que explicações seriam inúteis. Eu teria de ver e experimenta.
A "Escola da Ponte" é dirigida por José Pacheco, um educador de voz mansa e poucas palavras. Imaginei que ele seria meu guia e explicador. Ao invés disso ele chamou uma aluna de uns 10 anos que passava, ela acenou que sim com um sorriso e passou a me guia.
Quando a gente vai a uma escola, sabe o que vai encontrar: salas de aulas, em cada sala um professor, o professor ensinando, explicando a matéria prevista nos programas oficiais, as crianças aprendendo.
“Não temos classes separadas, 1º ano, 2º ano, 3º ano... Também não temos aulas, em que um professor ensina a matéria. Aprendemos assim: formamos pequenos grupos com interesse comum por um assunto, reunimo-nos com uma professora e ela, conosco, estabelece um programa de trabalho de 15 dias, dando-nos orientação sobre o que deveremos pesquisar e os locais onde pesquisar. Usamos muito os recursos da Internet. Ao final dos 15 dias nos reunimos de novo e avaliamos o que aprendemos. Se o que aprendemos foi adequado, aquele grupo se dissolve, forma-se um outro para estudar outro assunto”
Ditas essas palavras ela abriu a porta e, ao entrar, o que vi me causou espanto, as crianças trabalhavam nos seus projetos, cada uma de uma forma. Moviam-se algumas pela sala, na maior ordem, tranquilamente, ninguém corria ninguém falava em voz alta.
Notei, entre as crianças, algumas com síndrome de Down que também trabalhavam. As professoras estavam assentadas com as crianças, em algumas mesas, e se moviam quando necessário. Nenhum pedido de silêncio. Nenhum pedido de atenção. Não era necessário.
Havia frases escritas com letras grandes, afixadas na parede. A menina explicou: "Aprendemos a ler lendo frases inteiras"; eram frases propostas pelas próprias crianças, frases que diziam o que elas estavam vivendo ,aprendiam, assim, que a escrita serve para dizer a vida que cada um vive. "Mas é importante saber as letras na ordem certa", ela continuou, "porque é assim que se aprende a ordem alfabética, necessária para o uso dos dicionários". Na "Escola da Ponte" é assim. As crianças que sabem ensinam as crianças que não sabem. Isso não é exceção. É a rotina do dia a dia. A aprendizagem e o ensino são um empreendimento comunitário, uma expressão de solidariedade. Mais que aprender saberes, as crianças estão a aprender valores. A ética perpassa silenciosamente, sem explicações, as relações naquela sala imensa.
Ando um pouco mais e encontro uma menina com síndrome de Down trabalhando, ela trabalha de forma concentrada, sua presença é uma presença igual à de todas as demais crianças.
Acima de tudo ela aprende que ela tem um lugar importante na vida. Andando, vi um texto intitulado: "Direitos das crianças quanto à leitura". O primeiro direito rezava: "Toda criança tem o direito de não ler o livro de que não gosta".
Li depois, o texto dos "Direitos e Deveres", elaborados pelas próprias crianças. Dentre todos, o que mais me impressionou foi o que dizia assim: "Temos o direito de ouvir música na sala de trabalho para pensarmos em silêncio". A menina que me guiava apontou para um computador num canto da sala imensa: "É o computador do "Acho bom" e do "Acho mal”. Quando estamos contentes, escrevemos no ACHO BOM, quando estamos infelizes escrevemos no ACHO MAL.
A menina me havia falado sobre problemas de disciplina. Para tais situações as crianças estabeleceram um tribunal, aquele que desrespeita as regras de convivência terá que comparecer perante este tribunal. Aí fomos para o refeitório. Havia um grupo de alunos e professoras reunidos à volta de uma mesa. "Estão a preparar a assembléia de hoje. Temos uma assembléia que se reúne semanalmente para tratar dos problemas da escola e para sugerir soluções. Aquele é o presidente", ela me disse, apontando para um menino.
Ao fim do dia reuniu-se a assembleia. Fui convidado a falar alguma coisa. Havia levado comigo um carrinho, feito com uma lata de sardinha.Perguntei uma pergunta tola: "Em que loja se compra um carrinho assim?" Esperava a resposta óbvia: " Esse carrinho não se compra em lojas..." Uma menina levantou o dedo. O que ela disse me assombrou: "Esse carrinho se compra na loja das mãos". "Loja das mãos”. Seguiu-se um período de perguntas. Pasmem: em nenhum momento qualquer aluno interrompeu o outro. Isso é lei que as crianças estabeleceram. Está escrito na lista de "Direitos e Deveres". Pensei que o senador Antônio Carlos Magalhães e o deputado Jader Barbalho deveriam fazer um estágio na Escola da Ponte.
Um menininho chegou à minha frente segurando um chaveiro: uma correntinha
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