Os impactos da produção de alimentos e dos resíduos sólidos
Por: Rodrigo.Claudino • 28/6/2018 • 2.174 Palavras (9 Páginas) • 331 Visualizações
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Através da oferta de alimentos gratuitos ou oferecidos politicamente a baixo custo, essa estratégia implantou novos hábitos alimentares nos países pobres, criando mercados consumidores antes inexistentes.
Ao exemplo de Dakar, cidade senegalesa na qual a baguete fabricada com farinha de tribo tornou-se um verdadeiro ícone culinário, o painço, sorgo e milho, cereais tradicionais da região da Senegâmbia, passaram a representar menos de 10% do consumo local da cidade, e isto em oposição à tendência local de consumo destes alimentos (DELPEUCH, 1990, p. 99). O fortalecimento dos padrões ocidentais de alimentação estão normalmente acompanhados de uma demanda adicional de água. Recorda o ambientalista Lester Brown, “À medida que as pessoas ascendem na cadeia alimentícia e passam a consumir mais carne bovina, suína, aves, ovos e lactínios, consomem mais grãos. Uma dieta americana rica em produtos pecuários requer 800kg de grãos/pessoa/ano, enquanto as dietas na Índia, dominadas por uma alimentação básica de amidos como arroz, caracteristicamente necessitam apenas de 200kg. O consumo quatro vezes maior de grãos por pessoa significa igual crescimento no consumo de água” (BROWN, 2003). Mostra os dados dos impactos provocados pela produção de alimentos nos recursos hídricos, onde: a produção de 1kg de trigo reclama o suprimento de 900L de água; 1kg de milho, 1.400L; 1kg de arroz, 1.910L; 1kg de carne de frango, 3.500L; por fim, 1kg de carne de boi implica no consumo de 100.000L de água. (ARMAND, 1998); para se produzir uma tonelada de grãos são necessárias mil toneladas de água, e para uma tonelada de arroz, duas toneladas de água. (REBOUÇAS, 1999B, p. 49); no Brasil, apenas quanto ao item dessedentação, os rebanhos são responsáveis por 5% de água consumida no país, sendo que deste total, o gado bovino absorve cerca de 93% do total (TUCCI, HESPANHOL e NETTO, 2001, p. 60 e seguintes); além da agricultura e da pecuária, a aquicultura também tem se destacado como atividade consumidora de água. Atualmente, um em cada três peixes degustados pela população mundial é proveniente de fazendas de psicultura. Especialmente na China, país que responde por cerca de 90% da aquicultura mundial, o crescimento da aquicultura tem promovido a desaparição de pântanos e mangues para ceder lugar as fazendas de criação de peixes e camarões (Revista National Geographic, Exemplar de Setembro 2002); a produção de carne, ao relacionar – se diretamente com a criação de animais, significa também produzir dejetos. O esterco é um produto orgânico altamente poluente, podendo gerar a morte dos rios em razão da Demanda Bioquímica de Oxigênio. Neste particular, extensões inteiras do nosso planeta estão tornando – se inabitáveis devido às gigantescas montanhas de estrume atiradas no meio ambiente. Os restos orgânicos dos rebanhos contribuem para com o aquecimento global, dado que emitem metano, um dos principais Gases do Efeito Estufa; um aspecto nutricional do consumo de água na produção de alimentos reside em quesitos como a produção de bebidas e de refrigerantes. Contando com uma legislação corporativa a seu favor, os fabricantes de bebidas podem oferecer, por exemplo, bebidas engarrafadas a um preço mais baixo do que a água mineral ou mesmo do que o leite. Com base nesta lógica perversa, cada mexicano bebe em média uma quantidade três vezes maior de refrigerantes do que de leite, apesar deste ser mais barato e nutritivo (DELPEUCH, 1990, p. 109); outro aspecto, também negligenciado nas discussões de alimentos, é o custo energético que envolve a produção e a distribuição dos alimentos. Este dado importa pelo fato de fração significativa da energia mundial basear-se numa matriz hídrica, pelo que temos na energia um outro input (entrada) hídrico importante na questão da produção alimentícia. Este percentual energético tem crescido por conta da refrigeração e refeições de consumo rápido, tais como pratos congelados, legumes pré – cozidos, etc.; nesta perspectiva, embora a energia elétrica empregada na agricultura represente apenas 2% do total em um país como a França, a atividade alimentar como um todo, desde a fabricação de adubos até o consumidor final, utiliza 16 e 17% do total da energia consumida no país (DELPUCH, 1990, p. 43). A importância dada pelos ocidentais ao consumo de carne e de vegetais cultivados fora da estação é outra influência palpável na elevação do input energético dos alimentos. De resto, os alimentos “viajam” cada vez mais nos países afluentes: cerca de 2.100km em média nos Estados Unidos (SILVA, 2003); e, exemplificando, poderíamos recordar que os 100.000L de água requisitados para produzir 1kg de carne equivalem a 100 caixas d’água domésticas, o que naturalmente já significaria muita água. Outro dado, mais assombroso ainda, é assinalar que 100.000L de água são suficientes para uma pessoa tomar banho de ducha durante 4 anos e 8 meses e banho de imersão durante 1 anos e 7 meses. Assim, poupamos mais água não comendo ½ kg de carne do que deixando de tomar banho 1 ano inteiro!
Os dados do CEMPRE (Compromisso Empresarial para a Reciclagem) quanto ao desperdício de alimentos mostra que: o Ministério da Agricultura do Brasil estima que cerca de 14 bilhões de toneladas de alimentos são perdidos anualmente; cálculos do Instituto Brasileiro de Análise Socioeconômica (IBASE), demonstram que o brasileiro desperdiça cerca de R$ 4 bilhões anuais em frutas, verduras, legumes e outros alimentos perecíveis; percentualmente, as laranjas registram perda de 10% a 15%; hortaliças e pimentões 30%; grãos 31%; arroz 21%; carne de frango 25%; tubérculos 15,8%; leite 75%; outros 20% de milho, soja e feijão estragam por erros na operação das máquinas agrícolas nos armazéns; os grãos apodrecem devido ao excesso de umidade e por estarem acondicionados em sacos e outras embalagens impróprias; por falta de informação, donas de casa descartam 20% de certos alimentos, como cascas e folhas, de alto poder nutritivo; o brasileiro deixa no restaurante 20% da comida que pede; as embalagens mal projetadas são responsáveis por 30% das indenizações de seguros no transporte rodoviário; o comércio varejista também compra mais produtos do que necessita, contando com a perda na estocagem e na exposição de venda. No caso das bananas, o varejista oferece 1,66 kg para cada quilo vendido, que somado à perda de 20% na produção responde pelo incrível desperdício de quase 60%; o mesmo ocorre com abacates, tomates e mamões, sendo estimada uma perda de 40% das frutas produzidas no Brasil.
Esta gigantesca montanha de alimentos descartados torna – se, por sua vez, mais um elemento no ciclo de impactos que atingem os recurso hídricos, isto porque não encontram destinação
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