Memória e o Direito
Por: Kleber.Oliveira • 25/4/2018 • 3.548 Palavras (15 Páginas) • 262 Visualizações
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Na memória de curto prazo também ocorre o último estágio do processamento e codificação das informações. Experimentos mostraram que a representação de um item, na maioria das vezes, toma forma de representação acústica. Um bom exemplo é o caso da memorização de uma sequência alfabética. Experimentos mostram que ao tentar recuperar a memória da letra B, é comum que as pessoas se recordem do V, que possui um som semelhante, ao invés do E, que tem uma imagem semelhante. Isto acontece naturalmente, tão natural quanto o fato de a maioria das pessoas conseguirem se ouvir enquanto estão lendo silenciosamente. Ou seja, é normal transformar uma representação visual em sonora.
Sabe-se que as memórias de curto e longo prazo estão ligadas, e que as informações, sempre que necessário, se transferem de um depósito ao outro. Também se verifica que o conhecimento prévio sobre um tópico, afeta a capacidade de codificar e armazenar uma informação nova relacionada. Portanto, pessoas que possuem um rico conhecimento sobre uma temática, são capazes de melhor codificar uma nova informação a esta relacionada.
O esquecimento de informações armazenadas a curto prazo pode ser relacionado não somente a passagem do tempo, mas também pode ser resultado de alguma intercorrência. Ou seja, sabe-se que o espaço de armazenagem da memória de curto prazo é limitado, logo, quando um novo item chega, um desgaste é gerado nos itens já armazenados.
MEMÓRIA DE LONGO PRAZO
A memória de longo prazo consiste na formação consolidada de um arquivo, e este pode ter duração variando entre minutos a décadas. Exemplos desta são: o que aprendemos na escola, a refeição que tivemos no café da manhã, ou até nossas memórias de infância. Nela estão armazenadas as informações que temos disponíveis, isto de maneira mais ou menos permanente e seus limites são desconhecidos. As informações nela contida influenciam direta e indiretamente nossas percepções do mundo assim como age frente a nossa tomada de decisões. Ela é a responsável pelo armazenamento, esquecimento e recuperação.
Esta pode ser subdividida em dois tipos, a episódica e a semântica. A primeira consiste em recordações baseadas em experiências pessoais ou eventos, associada a um tempo ou lugar particular. Já a segunda consiste em informações não associadas a tempo ou lugar particular, esta inclui todo o conhecimento sobre palavras, linguagens, símbolos, assim como seus significados, relações e regras de usos. Pode-se dizer que o conhecimento contido na memória semântica, é derivado da episódica, portanto, podemos aprender novos fatos e conceitos, baseados em nossas experiências de vida. O registro semi-permanente das informações na memória de longo prazo pode ocorrer através da repetição ou através de sua carga afetiva.
ESQUECIMENTO
O esquecimento pode ser definido como a incapacidade de recordar ou recuperar os dados, informações ou até mesmo experiências do passado que foram armazenadas em nossa mente. Este pode ser classificado como provisório ou definitivo. Embora visto como algo ruim, o esquecimento é considerado essencial, já que só conseguimos continuar memorizando todas as informações obtidas ao longo da vida se tivermos a capacidade de esquecer outras. Portanto sua função é seletiva e adaptativa, já que despreza a informação inútil, impedindo assim que o cérebro tenha um excesso de informação acumulada que acabaria por bloquear a captação de novos conteúdos.
Na Teoria da Deterioração, o esquecimento é explicado como um processo gradual, que depende da passagem do tempo. Izquierdo (2007, p.17), acredita que “(...) talvez o esquecimento seja o aspecto mais predominante da memória; mas conservamos e usamos suficientes memórias ou fragmentos de memória para ter um desempenho ativo, funcional e relativamente satisfatório como pessoas”.
O esquecimento das informações ocorre principalmente pela passagem do tempo, mas também pode ocorrer por alguma interferência. O esquecimento é fisiológico e ocorre de maneira continua, enfraquecendo aos poucos os traços do que foi aprendido e guardado. Questões emocionais também são responsáveis por afetar a memória de longo prazo.
Já as memórias extintas, se diferem das memórias esquecidas pois podem ser evocadas. Claro que para relembrar é necessário uma circunstância especial e muito precisa, ou um estímulo muito forte e acurado, ou até de uma “dica” muito apropriada.
TRAUMA
O trauma se tornou uma ideia, conceito ou noção que passou para o lado das palavras de uso corriqueiro quando se fala em violações, violências e atrocidades cometidas entre os seres humanos. A palavra foi elevada em seu status e frequenta uma imensa quantidade de estudos sobre a memória com atravessamentos disciplinares muito prolíficos .
Herdado do conceito de trauma físico, que pode ser definido pela invasão e golpeamento de um agente externo sobre o corpo físico que, por efeito desse mesmo golpe, é lesionado, ferido ou machucado, o conceito de trauma psíquico pouco a pouco se tornou portador de outros matizes e exigiu outras inteligibilidades de maior complexidade, a reivindicar, portanto, maior exigência e cuidado por parte dos que dele se apropriam.
Nos estudos sobre a memória, o arcabouço conceitual que suporta fundamentalmente o conceito de trauma psíquico é fortemente influenciado pela psicanálise, mas tem sido pouco a pouco alterado em função dos debates uni e interdisciplinares, dos movimentos sociais e das inúmeras pesquisas que prosseguem em torno dos estudos sobre memória social, memória política, memória e identidade, memória coletiva, memória cultural, memória contida (contained memory) e dos estudos cerebrais sobre a memória.
Nos processos envolvendo a necessidade e a possibilidade de restauração, não raro, a avalização da categoria médica é sugerida para a aferição ou a constatação do dano, mesmo em cortes internacionais de direitos humanos.
Determinados problemas e confusões em torno de definições, entretanto, não se concentram exclusivamente em eventuais divergências entre as definições e conceitos advindos do saber médico e aqueles, outros, definidos no campo das humanidades. É possível reconhecer divergências e imprecisões no uso banal e corriqueiro que se pode fazer do trauma, com finalidades politicamente orientadas .
Do ponto de vista dos matizes e das consequências de violações e violências, a delimitação consequente do conceito de trauma é
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