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O mundo das organizações

Por:   •  18/4/2018  •  5.583 Palavras (23 Páginas)  •  272 Visualizações

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O trabalho, além de ser um meio de prover as necessidades básicas do sujeito, representa uma possibilidade efetiva de promover a organização subjetiva. Conforme Dejours,

O trabalho ocupa um lugar muito mais importante na luta contra a doença do que se supunha até agora nas concepções científicas [...] a normalidade é fundamentalmente enigmática. Ela nunca é dada como um presente da natureza: ela supõe uma construção feita por cada um dos sujeitos, uma luta incessante para conquistar o que se perde, refazer o que se desfaz, reestabilizar o que se desestabiliza. Imediatamente descobrem-se a habilidade, a inteligência, a astúcia inacreditável dos homens e das mulheres em inventar estratégias defensivas que lhes permitem permanecer dentro da normalidade. (DEJOURS, 1992, p. 164-165).[r]

O trabalho é fundamental para a constituição da subjetividade humana, por ser uma das fontes de realização de importantes necessidades do homem.[s]

1.1 Trabalho e Subjetividade

Considerando que a vida é uma constante tensão entre o “eu” o projeto que somos [t]e as circunstâncias concretas, o ser humano, encontra-se frente à difícil tarefa de se realizar através das suas atividades.

O trabalho, quando não oprime e aliena, ou seja, quando realiza o desejo e as potencialidades do trabalhador, constitui uma dimensão de interioridade da vida; é um dos caminhos que levam o homem à sua plena realização, à sua felicidade. Mas a luta pela reprodução material impõe ao homem, muitas vezes, a execução de tarefas alheias ao seu desejo às quais ele jamais se habitua (DAVEL; VERGARA, 2001[u]).

Contudo, a alienação dos homens no processo de trabalho, em todas as suas formas, “não é uma consequência necessária da condição humana mas um desequilíbrio, fruto da configuração que tem tomado historicamente as forças produtivas e as relações sociais de produção.” (DAVEL; VERGARA, 2001, p. 42[v]).

Ainda de acordo com Davel e Vergara (2001, p.42[w]) ao considerar a subjetividade no estudo das pessoas nas organizações se está levando em conta a experiência humana no seu modo mais complexo, rico e profundo. Pois no pensamento filosófico grego “subjetividade é aquilo que é fundamental ao ser humano e que permanece subjacente.” Estando relacionado com o interior da pessoa, sua singularidade; enfim, tudo que diz respeito ao modo individual de cada um ser.[x]

O processo de trabalho é um conceito que se refere não só à base técnica, mas também aos componentes da organização social do trabalho, de modo que considera o processo técnico, social e econômico. Conforme Davel e Vergara (2001, p.43) [y]“a subjetividade pode também, [...], ser vista como constituída a partir da experiência social.” De modo que, torna-se parte integrante da organização do trabalho.

É preciso estar atento às sutilezas inerentes ao ser humano e às suas dimensões éticas e culturais e tentar compreender os elementos de sua subjetividade, o que significa considerar o indivíduo/profissional na sua especificidade, como ser singular, como ser de palavra, de desejos e emoções, e como sujeito de sua história.

Conforme Seligmann-Silva (1994, p. 46) “o trabalho, conforme a situação, tanto poderá fortalecer a saúde mental quanto levar a distúrbios que se expressarão coletivamente em termos psicossociais e/ou individuais, em manifestações psicossomáticas ou psiquiátricas.” [z]

Dejours et al (1994), propõem reservar aos elementos afetivos e relacionais da carga mental um referencial específico denominado carga psíquica do trabalho. O rebaixamento de tensão, a descarga da energia pulsional segundo o modelo freudiano é a origem e a fonte mesma do prazer, isto é, do alívio da carga psíquica de trabalho. Se o trabalho permite essa descarga ele passa a ser um instrumento de equilíbrio para o trabalhador.[aa]

A organização do trabalho é de certa forma, a vontade de outro, ela determina não somente a divisão do trabalho, mas também a divisão dos homens. A carga psíquica do trabalho resulta da confrontação do desejo do trabalhador, que possui uma história pessoal, motivações e necessidades psicológicas que confere a cada indivíduo características únicas, à injunção do empregador contida na organização do trabalho. Quando não há mais arranjo possível da organização do trabalho pelo trabalhador, quando a relação do trabalhador com a organização do trabalho (conflito com a tarefa) é bloqueada, o sofrimento começa. Para transformar um trabalho desgastante em um trabalho prazeroso, precisa-se flexibilizar a organização do trabalho, de modo a deixar maior liberdade ao trabalhador para rearranjar seu modo operatório. (DEJOURS et al, 1993, p. 21).

[ab]

Dejours (1987, p.40-41) aponta que à diferença da realidade do trabalho, o que ele denomina real do trabalho é o enigma a decifrar, “aquilo que no mundo se faz conhecer por sua resistência ao domínio técnico e ao conhecimento científico, [...] sobre o qual a técnica fracassa, depois que todos os recursos da tecnologia foram corretamente utilizados.” Um real que se apreende inicialmente no plano da experiência, sempre à frente da consciência que se tem do que se faz, de sua simbolização.

O mesmo autor, afirma ainda, que a saúde do corpo é função das condições de trabalho, enquanto que o sofrimento mental resulta da organização do trabalho, embora, evidentemente, não sejam componentes isolados. Por condição de trabalho entende-se: o ambiente físico, químico e biológico, as condições de higiene e segurança, as características antropométricas do posto de trabalho. Já a organização do trabalho refere-se à divisão do trabalho, ao conteúdo da tarefa, ao sistema hierárquico, às modalidades de comando e às relações de poder, às questões ligadas à responsabilidade, etc. Relações de trabalho seriam, portanto, todos os laços humanos criados pela organização do trabalho: relação com a hierarquia, com as chefias, com a supervisão, com outros trabalhadores... (DEJOURS, 1992).

O homem é um sistema que possui consciência de si mesmo e capacidade de utilizar linguagem e simbolismo na sua comunicação. O homem possui a qualidade auto reflexiva, inteligência, memória altamente desenvolvida, capacidade de falar, de absorver e interpretar símbolos e de armazenar conhecimentos. E está inserido num sistema social, onde deixa de ser indivíduo para exercer um papel, uma função.[ac]

De modo que, este ser que trabalha é, portanto, um homem com suporte biológico específico, que transforma

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