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MOBILIDADE SOCIAL NO BRASIL: Relação Entre Classe e Raça

Por:   •  28/5/2018  •  2.476 Palavras (10 Páginas)  •  388 Visualizações

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Carlos Hasenbalg (2005, p. 20)

Para descreverem as desigualdades existentes entre os indivíduos e os grupos dentro das sociedades humanas os sociólogos falam da estratificação social. Ela pode ser definida de maneira simples como as desigualdades estruturadas entre diferentes agrupamentos de pessoas. O texto “Classe, Estratificação e Desigualdade” de Anthony Giddens diz que historicamente existiram quatros sistemas básicos de estratificação nas sociedades humanas: a escravidão, a casta, o estamento e a classe. Como uma das variáveis encontradas nos três textos escolhidos é a classe, falarei mais profundamente sobre ela.

Os sistemas de classes diferem em muitos aspectos da escravidão, das castas e dos estamentos. Pode-se definir uma classe como um agrupamento, em larga escala, de pessoas que compartilham recursos econômicos em comum, os quais influenciam profundamente o tipo de estilo de vida que podem levar. A posse de riquezas, juntamente com a profissão, são as bases principais das diferenças de classes.

O termo “classe baixa” é geralmente empregado para descrever o segmento da população que está situado na parte mais baixa da estrutura de classes, e por sua vez, ela é normalmente associada aos grupos étnicos minoritários desprivilegiados. Grande parte do debate sobre essa classe teve origem nos Estados Unidos, onde a preponderância de negros pobres morando em áreas urbanas decadentes levou à discussão de uma “classe baixa negra” (W. J. Wilson, 1978; Murray, 1984, 1990). Porém, esse não é um fenômeno meramente norte-americano.

A população que forma o grupo 10% mais pobre, com renda média de R$ 130 por pessoa na família, continua majoritariamente negra. O percentual aumentou nos últimos 10 anos. Em 2004, 73,2% dos mais pobres eram negros, patamar que aumentou para 76% em 2014. Esse número indica que três em cada quatro pessoas é negra entre os 10% mais pobres do nosso país.

O texto “Tirando a Máscara: Ensaios sobre o racismo no Brasil” apresenta a extensão das desigualdades raciais no Brasil. Lovell (1989) utiliza dados do Censo de 1980 relativos às áreas metropolitanas brasileiras para mostrar que o rendimento médio da população de cor é cerca da metade do correspondente para a população branca. Desta forma o texto mostra que constitui um elo na cadeia de desvantagens que se acumulam ao longo do ciclo de vida dos indivíduos e que tem como resultado a sujeição de negros a condições de vida marcadamente inferiores às que os brancos usufruem na sociedade brasileira.

Recentemente, tem sido constante o debate público sobre as desigualdades raciais e de classe. Embora não haja dúvidas sobre os altos níveis de desigualdade (Oliveira, Porcaro e Costa, 1983; Hasenbalg, 1979; Hasenbalg e Silva, 1988; 1992; Hasenbalg, Lima e Silva, 1999; Henriques, 2001), a principal questão do debate continua sendo a de definir se as desigualdades de oportunidade são determinadas por preconceito de classe ou de raça. Alguns comentadores afirmam que o preconceito racial é menos importante do que o de classe, ao passo que outros argumentam que o preconceito racial é importante e deve ser levado em conta como um fator que vai além do estigma de vir de uma classe baixa.

O fato é que tanto a raça quanto a classe são fatores que influenciam a mobilidade social, e o texto “Tirando a Máscara: Ensaios sobre o racismo no Brasil” mostra que quando se opina sobre as desigualdades raciais no Brasil, o argumento que essencialmente aparece é o de que a situação de pobreza vivenciada pela grande maioria das pessoas de cor hoje é o resultado do fato dessas pessoas serem oriundas de famílias que no passado também eram pobres. Esta explicação mostra que a mobilidade social dos negros é ainda mais afetada por estas duas variáveis.

Com base nos estudos dos autores dos respectivos textos analisados aprofundarei de forma mais específica sobre a mobilidade social, que é o tema que ambos os três textos trazem de forma mais ampla e significativa.

3. MOBILIDADE SOCIAL: Relação entre Classe e Raça

Existem duas maneiras de estudar a mobilidade social, então antes de adentrar no tema explicarei o que significa mobilidade intrageracional e mobilidade intergeracional, pois é em cima delas que Hasenbalg trabalhou sua teoria.

A mobilidade intrageracional observa as próprias carreiras dos indivíduos – até que ponto eles se deslocam para cima e para baixo na escala social, no decorrer de sua vida de trabalho. Na mobilidade intergeracional, analisa-se até que ponto os filhos ingressam no mesmo tipo de profissão de seus pais e avós, ou seja, através das gerações.

As evidências de Hasenbalg confirmavam sua hipótese acerca da presença de barreiras raciais atuando nos processos de mobilidade social. Analisando o grau educacional atingido segundo a origem social, o autor constata que o dos negros era menor mesmo se comparado ao dos brancos de mesma origem social. O mesmo fato acontecia com o índice de realização ocupacional, este baseado em renda, educação e ocupação – os filhos dos negros apresentariam nítida tendência de concentração nas ocupações características dos estratos inferiores¹.

“(...) a evidência empírica indica que os brasileiros não-brancos estão expostos a um ‘ciclo de desvantagens cumulativas’ em termos de mobilidade social intergeracional ou intrageracional. Nascer negro ou mulato no Brasil, normalmente significa nascer em famílias de baixo status. As probabilidades de fugir às limitações ligadas a uma posição social baixa são consideravelmente menores para os não-brancos que para os brancos de mesma origem social. Em comparação com os brancos, os não-brancos sofrem uma desvantagem competitiva em todas as fases do processo de transmissão de status. ”

(Hasenbalg, 1979, p. 220-221)

Hasenbalg então conclui que há, na sociedade brasileira, barreiras raciais veladas nos processos de mobilidade social inter e intrageracional que produzem o confinamento dos negros nos estratos socioeconômicos inferiores. Valle Silva (1988) mesmo com base empírica mais sólida e análise mais complexa e sofisticada que a de Hasenbalg chega essencialmente as mesmas conclusões gerais².

“É importante ainda que se observe em relação às diferenças raciais na distribuição de rendimentos que, se por um lado as diferenças na situação de origem dos indivíduos, explicam quase metade das diferenças de rendimentos observadas, a metade restante dessa diferença é explicável pela discriminação sofrida por não-brancos

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