Creche e educação infantil
Por: Sara • 26/9/2018 • 5.823 Palavras (24 Páginas) • 366 Visualizações
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Culminando este processo, a própria Constituição de 1988 reflete o movimento recente de repensar as funções sociais da creche. Ela reconhece a creche como uma instituição educativa, “um direito da criança, uma opção da família e um dever do Estado”. Tal concepção opõe-se à visão tradicional da creche como uma dádiva, como um favor prestado à criança, no caso à criança pobre e com funções apenas assistencialistas e de substituição da família. (OLIVEIRA, Zilma de Moraes – 1992 p.22)
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É a partir do século XX que a criança na infância (período do desenvolvimento humano entre 0 e 6 anos) começa a ter reconhecido seu estatuto enquanto sujeito de direitos, um cidadão no mundo e do mundo. Tratar a criança como cidadão implica no reconhecimento dos seus direitos. Em 1989, com a Declaração do Direito da Criança, começou a ser reconhecido que a criança é legalmente um ser humano singular, com características específicas e com direitos próprios.
A Educação Infantil foi por muito tempo vista como um período neutro na vida da criança. Ela era educada dentro do ambiente doméstico, onde seus educadores eram representados principalmente pela mãe, que por sua vez, mostrava o caminho que a criança deveria seguir para se enquadrar numa determinada sociedade, sendo cada criança educada de acordo com a sua cultura. Hoje percebe-se que é uma fase fundamental para a formação humana mas ainda há muito o que conquistar. O grande desafio da educação infantil tem sido emparelhar o desenvolvimento da criança (que hoje está em contato com tantas informações tão cedo devido ao avanço da tecnologia) e o planejamento tradicionalista que muitas escolas persistem em aplicar.
Essa fase de 0 a 5 anos e 11 meses é uma fase para a criança brincar, a educação deve ser voltada para o desenvolvimento pessoal, estimulando atividades lúdicas, linguagem e jogos simbólicos. O desafio é alinhar essa prática com os relatórios, as cartilhas e planejamentos que devem ser cumpridos e atingidos no período letivo. A correria dos profissionais de educação para cumprir o planejamento é tanta que mata sua criatividade para trabalhar de forma diferente com as crianças, observando o que elas, como crianças, precisam. O grande problema é que as crianças têm tido acesso a muitas informações em curtíssimo período de tempo, como demonstra o escritor Mario Sergio Cortella:
Calcula-se que uma criança assista, em média, três horas de TV por dia (mil horas por ano), a partir dos 2 anos de idade. Portanto, dos 2 aos 7 anos, quando ela entra no ensino fundamental, já assistiu Discovery Channel, National Geographic, filme pornográfico, novela, bombardeio dos prédios de Nova York, desenhos animados, enfim, ela já assistiu muita coisa. E é assim que ela chega na escola, senta no primeiro dia de aula e fica esperando. E nós, quantas vezes, começamos a aula dizendo: "A pata nada." (CORTELLA, Mario Sergio – “A pata nada, mas será que brinca?”)
A criança, ao chegar à escola, traz consigo sua história e sua cultura. Isto deve ser considerado como algo relevante no processo de ensino-aprendizagem na educação infantil onde a criança constrói seu conhecimento na interação com os objetos de conhecimentos que fazem parte do meio onde vive. O que nos leva à outra dificuldade enfrentada pela educação infantil atualmente, a ausência da integração família e escola. Reynaldo L. Damazio conceitua que “a família é o primeiro microcosmo da criança, seu primeiro contexto referencial e o primeiro elemento “fazedor” de sua cabecinha.” (DAMAZIO, Reynaldo Luiz. O que é criança. 1994 p.28) E que “Outro referencial importante da criança é a escola. Aí ela começa a tomar um contato mais amplo com a coletividade, passa a enriquecer seu repertório de experiências e relacionamentos, assim como passa, também, a receber o treinamento para a vida social.” (DAMAZIO, Reynaldo Luiz. O que é criança. 1994 p.31). As famílias gritam, as famílias falam palavrão, as crianças não são orientadas à liberdade e isso prejudica o seu aprendizado.
Há muitos desafios na educação infantil e o principal desafio a ser conquistado hoje é a mudança na forma de ver o bebê e a criança. É fazer a sociedade e os educandos enxerga-los como seres pensantes, como sujeitos de inteligência, de um saber.
Alguns aspectos do cotidiano sociocultural têm dificultado a prática educativo-pedagógica, pontuamos 5 destes aspectos:
- Rapidez na troca de informações em função do avanço tecnológico
A criança constrói seu conhecimento na interação com os objetos de conhecimento que fazem parte do meio onde vive. Por isso as crianças chegam na escola já carregadas de informações adquiridas pelo contato com televisão, internet, etc.
A leitura do mundo precede a leitura da palavra. (FREIRE, Paulo)
Sobre isso a pedagoga Lívia Alves Branquinho cita em seu artigo “A prática pedagógica da educação Atual” que “a sociedade atual se vê confrontada com o desenvolvimento acelerado que ocorre à sua volta, onde o desenvolvimento e as descobertas ocorrem em frações de segundos, ocasionando um certo desgaste e comprometimento das ações voltadas para o aprimoramento do ensino, colocando a sala de aula como um ambiente de pouca relevância para a consolidação do conhecimento, enfatizando a vivência social o requisito primordial para a busca do aprendizado”.
- A creche considerada como um “depósito” de crianças enquanto suas mães trabalham
Para que a prática educativo-pedagógica cumpra seu papel com as crianças é necessário um trabalho conjunto entre a instituição de ensino, família e o sujeito principal da situação, a criança. Mas o desafio está em as pessoas tanto educadores, quanto pais, a sociedade em geral, não verem a creche apenas como um local para “deixar” suas crianças e sim como um local onde elas irão se desenvolver ampliando suas experiências e conhecimentos. Houve muitos avanços neste sentido mas ainda há muito o que conquistar, principalmente com relação à integração família-escola.
O atendimento em creches e pré-escolas como um direito social das crianças se concretiza na Constituição de 1988, com o reconhecimento da Educação Infantil como dever do Estado com a Educação, processo que teve ampla participação dos movimentos comunitários, dos movimentos de mulheres, dos movimentos de redemocratização
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