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Semântica, Semânticas: Resenha crítica do livro

Por:   •  6/12/2018  •  1.667 Palavras (7 Páginas)  •  506 Visualizações

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Já no segundo texto, Barbisan (2013) apresentará algumas noções sobre o ramo da Semântica Argumentativa. Mencionando pesquisadores como Oswald Ducrot e Jean-Claude Anscombre e seus papéis como criadores e orientadores dos primeiros estudos sobre este foco da semântica, a autora destaca que, desta vez, o sentido das sentenças que será observado não se remete às noções de verdade observadas na Semântica Formal, mas sim no que é expresso pelo linguístico. Neste momento, é possível notar que a autora apresenta a importância do locutor e do alocutário nas construções do enunciado. Compreende-se aqui que “o sentido não está nele [locutor], nem no outro [alocutário], mas na relação que se estabelece entre ele e o outro” (p. 21). Entende-se que o momento da enunciação, ato de fala, é um recurso de expressão do pensamento e que o objetivo neste caso é fazer o alocutário conduzir o diálogo a partir das possibilidades que é possível se obter do enunciado fornecido pelo locutor, dando continuação. A partir disso, a autora apresenta, baseada na teoria de Ducrot, a noção de escolha, a qual se refere às opções feitas pelo enunciador no momento do ato de produção do enunciado, efetivando a argumentação e resistindo à descrição extralinguística. Descrevendo em poucas palavras, a Semântica Argumentativa deixa à parte os fatores extralinguísticos, confirmando que “seu objetivo é o de descrever o sentido criado por um locutor, ser de fala, responsável pelo enunciado” (BARBISAN, 2013. p. 24).

Sob outra óptica, Paula Lenz (2013) nos apresenta em seu tópico sobre Semântica Cognitiva uma visão semântica ligada aos processos cognitivos do ser humano na construção e uso das sentenças da língua. Como vimos no tópico sobre Semântica Formal, podemos perceber que a Língua é analisada na sua forma literal de representação dos sentidos. Contudo, nesta abordagem cognitiva, estudada por autores como Fillmore e Lakoff, podemos perceber que a literalidade da sentença é superada por uma compreensão voltada para o individual. As noções de verdade, neste caso, levarão em conta as intenções e percepções que o ser humano tem do mundo ao seu redor. Na Semântica Cognitiva, também chamada Semântica de Frames, as estruturas serão compreendidas agora por conceituais e incluirão no acervo de significações do indivíduo os seus conhecimentos de mundo, experiências, culturas, convenções sociais etc. Segundo a autora, “os estudos em Semântica Cognitiva voltam-se tanto para a investigação da semântica linguística quanto para a modelagem da mente humana” (p. 37). Acatando que a mente é corpórea e que os processos que levam a atribuição de sentido só se dão através do relacionamento sensorial do corpo com o mundo externo, podemos inferir que a Semântica Cognitiva situa o indivíduo como produtor dos sentidos da sua linguagem, o qual pode atribuir conceitos a determinados referentes aos quais, levando em consideração a linearidade cronológica, antes lhe significavam algo e no momento passam a significar outra coisa, a qual se concretiza por seus experimentos sensório-motores com o mundo que o cerca.

E para além destas três abordagens semânticas apresentadas aqui, outras também se incorporam ao arcabouço de estudos da Semântica. O título do livro organizado por Ferrarezi e Basso (2013) nos permite compreender, se tomarmos conta apenas do sentido do título isoladamente, que a Semântica não é uma área fixa, mas que compreende em abordagens pontos que se tornam independente, criando mais semânticas. Se considerarmos a existência de semânticas individuais, fragmentamos uma área magna do saber da Língua. Podemos ver, tomando as três ideias tratadas neste texto, que todas dialogam seus conteúdos interdisciplinarmente. As três buscam compreender a formação dos sentidos das sentenças formadas na Língua em distintos aspectos, estes que, em uma observação reflexiva, se conectam de modo a construir uma identidade de fala individual. Tomemos o indivíduo usuário da fala na construção de seus enunciados. Através das sentenças que ele profere veremos que cada estrutura enunciada tem significado real no mundo, de modo que, divergindo deste, causará estranheza no alocutário a quem se dirige o discurso. Para que o enunciado escolhido gere diálogo, logo argumentação, o indivíduo que enuncia precisa acessar as cadeias cognitivas de seu intelecto, o qual o legará paradigmaticamente conhecimentos oriundos de suas interações com o mundo real, sobre o qual trará seus aspectos argumentativos em seu discurso acerca do tema escolhido. Encaramos o falante aqui como um ser sensorial e reflexivo, capaz de pensar o seu discurso. O indivíduo usuário da fala faz uso dos recursos observados pelas semânticas formal, argumentativa e cognitiva. A realidade do falante só acontece através de seu interagir com o mundo, o que lhe fornece arcabouço linguístico para argumentar em seu discurso. Desta forma, a Semântica pode assemelhar-se ao tronco de uma árvore na qual suas ramificações (abordagens específicas) integram sua composição.

Por ser um assunto amplo e por vezes complexo para mentes iniciantes, tal como muitas vezes acontece na Academia, a necessidade de achar material que auxilie didaticamente o discente é notável. Este livro, por sua estrutura dinâmica, composição didática e linguagem acessível, é recomendado a acadêmicos, alunos e professores, das áreas de Língua, aos quais, seja por desejo de iniciar nos estudos da Semântica, seja por assimilar um apanhado geral sobre este conteúdo, encontrarão um recurso deveras construtivo.

Leci Borges Barbisan é graduada em Letras Neolatinas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mestre em Lingua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutora em Didactique des Langues pela Université de Grenoble III, na França.

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