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A Condiçao Urbana

Por:   •  8/3/2018  •  3.306 Palavras (14 Páginas)  •  501 Visualizações

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Esses dois tipos descritos correspondem a duas formas de ser-no-espaço e são simultaneamente duas formas de-ser-do-espaço. Na primeira, o espaço é uma condição para a ordem formal; ele se constitui na verdade em um classificador das coisas e das ações que neles passam, e a forma de organizá-lo ou produzi-lo é solidária à forma de organização e da reprodução social e vice-versa. A segunda estabelece uma relação ontológica entre um grupo e o local, ou melhor, uma identidade ontologicamente fundada em um local. Págs. 79 e 80

Civilização é a expressão da pretensa superioridade do Ocidente erigida em consciência social. Exprime a idéia de um progresso geral e irreversível que conduz ao estabelecimento de um código de condutas lógico, virtuoso e justo. O apelo à civilização nos dois últimos séculos tem sido marcado pela suposição da superioridade das sociedades ocidentais, de seu comportamento, formador de uma Humanidade coesa, justa e equilibrada, uma vez que se constitui por intermédio do respeito às regras que delimitam as fronteiras de liberdade individual dentro de um universo plural. De certa forma, essa consciência civilizatória é vista como já alcançada pela maioria dos povos ocidentais, devendo apenas ser expandida para que haja uma plena realização da humanidade em seu verdadeiro sentido. Pág. 105

A fragmentação territorial elege a cultura como elemento de unificação e diferenciação. Os valores proclamados pelo Iluminismo francês, ao contrário, têm uma base cosmopolita e se pretendem, gerais, uniformes e inteligíveis por todos. Urbanidade é o conjunto de atitudes e comportamento que da ênfase à reciprocidade entre indivíduos diferentes, mas expostos a um lugar de permanentes trocas sociais, a urbe. A cidade é, pois, nesse modelo o locus da temperança, do controle das pulsões individuais, e da ordem estabelecida sobre as bases racionais e lógicas. Podemos portanto, concluir que a civilização e cultura, nos termos em que são descritas por Elias, compõem dois quadros distintos em relação ao espaço, opostos e antagônicos. Pág.109

O sentimento de identidade e de pertencimento, por exemplo, embora subjetivo, tem sempre um sentido. Como tentamos demostrar, esta identidade é simultaneamente uma forma de relação social, e uma forma de representação espacial que resulta em um certo tipo de territorialidade. Em outros termos, essa identidade não é um dado irredutível da realidade, mas sim uma construção, que associa de maneira vital e orgânica os vínculos entre um grupo e o seu território. Cada manifestação deste tipo de territorialidade tem, no entanto, seus interesses, suas propriedades e seu alcance definido em contextos que lhes são próprios. A significação conferida e o tipo de discurso que sustenta essa identidade socioterritorial podem ser a cada momento muito diferentes, como, aliás já havíamos dito. Etnia, consanguinidade, religião, cultura etc. podem ser, juntos ou separadamente, os elementos ativos deste discurso. Págs. 118, 119

Segundo Sack, a territorialidade humana se define como uma estratégia para afetar, influenciar ou controlar recursos e pessoas, controlando uma área. É a forma de expressão geográfica do poder social. Seu uso depende de quem a esta influenciando ou controlando e dos contextos espaciais e temporais nos quais essa territorialidade se exerce. Ela é por isso relativa à forma como as pessoas usam o território, como elas estão organizadas no espaço e como são atribuídos valores e sentidos a um lugar. Págs. 120, 121

A identidade territorial da comunidade é a construção de um espaço politico, a forma de mobilização, o discurso que congrega, imprime a ideia de consenso e representa o grupo, pois é a própria definição dele. Mais uma vez, segundo Sack, a territorialidade é uma forma de classificação das coisas pelo espaço e de definir coisas sem enumerá-las; nesse caso, classificando-as como nossas ou estranhas a nós. Pág. 121

No mundo grego, onde a expressão tem sua origem, cidadania era uma forma de relação social, mas não apenas isso. Ela significou também uma nova forma de arranjo espacial dessas relações, e isso poucas vezes nos é dito. O poder cidadão surgiu da confrontação dos habitantes, concentrados em uma certa área, no caso a cidade de Atenas, contra o poder de uma oligarquia rural que controlava o poder politico e a produção da riquezas dessa sociedade. Essa oligarquia, como tantas outras da Antiguidade, até então se reproduzia segundo as regras da filiação e da limitação ao acesso a um grande números de lugares (nos dois sentidos do termo, isto é, como hierarquia social e como lugar físico). Págs. 130, 131

A democracia começa quando uma divisão territorial das tribos é adotada, segundo a maior parte dos historiadores, e termina ou se enfraquece, segundo alguns, pela excessiva fragmentação também territorial, A dinâmica territorial está assim associada de forma necessária ao fato político da democracia sob todos os seus ângulos. Pág.134

Dessa forma, a democracia e a cidadania surgem a partir de uma reorganização do território. O ancestral comum deixa de ser o elemento-chave da solidariedade comunitária, e esse laço agora é exercido pela delimitação de um território, um limite físico de inclusão, e consequentemente pela delimitação de outros territórios de exclusão. Isso demonstra que ser cidadão é, em certa medida, uma localização na teia de relações sociais e simultaneamente uma localização espacial. Nada mais significativo de que o fato de polis não ser só o nome dessa estrutura espacial, “a cidade”, mas também ao mesmo tempo, um feixe de relações sociais formais que originou a palavra “política”. Resumidamente, ser cidadão é pertencer a uma determinada porção territorial, ou seja, esta é sem duvida uma classificação espacial. Corrobora com essa interpretação a etimologia da palavra cidadão, que tem origem no fato de habitar na cidade. Não uma cidade qualquer, mas uma cidade que se define como uma associação de pessoas unidas por laços formais e hierárquicos; uma cidade que dispõe de lugares próprios a essa nova atividade e natureza do homem grego, espaços públicos; uma atividade e natureza que advêm do fato de habitar juntos, pois nem todos os moradores são originariamente cidadãos, o que nos dá uma medida da diferenciação espacial interna à própria cidade. As cidades de cidadãos exibem representações espaciais do exercício dessa cidadania, definindo ao mesmo tempo espaços de exclusão, assim o foi desde a Grécia Clássica até a moderna aglomeração urbana, que exprime com complexidade, toda uma rede espacial de pertencimento diferencial. Págs.134,

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