Comparação Entre o Filme Invictus Com o Livro O Príncipe
Por: Carolina234 • 25/3/2018 • 4.284 Palavras (18 Páginas) • 447 Visualizações
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O principal objetivo do príncipe no momento era estabelecer um governo mais sólido. Precisava conquistar a confiança de seu povo. O meio que encontrou foi através do principal esporte do país, o rugby. Os brancos tinham paixão pela modalidade e pelo time local, os Springboks. Os negros odiavam o time, pois representava o apartheid. Mandela sabia que seria fácil conquistar a simpatia dos negros pelo time. Seria mais fácil que tentar alguma coisa com os brancos. Desde o começo Mandela fala para sua secretária que era apenas uma estratégia política.
Assim, conseguiu juntar ambos para terem algo em comum e deixar alguns problemas de lado para ver seu time do coração ganhar a copa do mundo. Essa estratégia foi usada no Brasil em 2014 durante a Copa do Mundo de futebol. Acabou não funcionando, pois, o time brasileiro perdeu vergonhosamente para um país invejado por todos pelo seu nível de desenvolvimento, a Alemanha. Só mostra que o governo não tinha a astúcia que tinha o time de Mandela em que faltou planejamento e seriedade na preparação da copa. O governo pretendia calar os manifestantes que estavam contra a copa e o partido com uma vitória do Brasil, mas conseguiram o contrário.
Maquiavel trata das razões que levam os príncipes a serem louvados ou desprezados. Quanto ao modo como o príncipe deve portar-se afirma ser sempre necessário que o príncipe esteja no controle da situação a fim de reconhecer a hora certa de agir e também a melhor forma de agir, afinal toda ação será acompanhada de consequências. O príncipe deve, então, manter-se focado e sempre definindo limites concretos para seus planos e ações desenvolvidas. Em síntese, não é suficiente uma ideia que não avança o estágio teórico ao mesmo tempo em que avançar ao estagio prático requer cuidado. O trecho “Tanta diferença existe entre o modo como se vive e como se deveria viver, que aquele que se preocupar com o que deveria ser feito em vez do que se faz, antes aprende a própria ruína do que a maneira de se conservar” (MAQUIAVEL, O Príncipe, p. 90) vai ao encontro dessa ideia.
No filme, Mandela apresenta esse mesmo posicionamento a partir da questão com os brancos. Por senso comum, devido a sua prisão ter sido ocasionada por brancos, a reação esperada era que Mandela aproveitasse essa nova condição de superioridade para então vingar-se, porém, manteve-se voltado para tornar o país um lugar melhor para sua população. Essa característica fica clara em diversos momentos, dentre eles quando em um discurso Mandela ordena que os negros joguem ao mar suas facas e armas, indicando que não usaria o poder como forma de vingança, o que seria prejudicial ao país além do fato que geraria revolta por parte dos brancos, contribuindo para a decadência do Estado. De forma geral, Mandela poderia ter governado como gostaria, mas esse método não teria sido condizente a realidade enfrentada.
Maquiavel constata “... e um homem que desejar fazer profissão de bondade, mui natural é que se arruíne entre tantos que são Perversos Deste modo, é preciso a um príncipe, para se conservar que aprenda a poder ser mau e que se utilize ou deixe de se utilizar disto conforme a necessidade.” (MAQUIAVEL, O Príncipe, p. 91).
O trecho retrata a posição do príncipe como um mediador, isto é, cabe a ele ponderar o momento em que deve ser bom ou mau de acordo com o cenário estabelecido. No contexto do filme, pode-se considerar que, para Mandela, ser bom significaria exercer seu governo voltado para beneficiar os negros, afinal eles haviam sido os maiores prejudicados com a segregação. Porém, ser bom ou ser mau é relativo, já que se analisarmos por outro ângulo, ao governar dessa forma, o país estaria sendo prejudicado. Em síntese, pode-se dizer que as escolhas que Mandela fez não prejudicou nem a negros nem a brancos e ainda foram construtivas para o país resultando na manutenção do poder e enquadrando-se mais uma vez nos parâmetros de Maquiavel:
“... é preciso que o príncipe seja tão prudente que saiba evitar os defeitos que lhe tirariam o governo e praticar as qualidades próprias para lhe garantir a posse dele, se lhe é possível; não podendo, porém, com menor preocupação, deixe-se que os fatos sigam seu curso natural...” [1]
Partindo para outra questão, Maquiavel afirma: “cada príncipe deve querer ser considerado piedoso e não cruel; não obstante. Deve cuidar de empregar de modo conveniente essa piedade.” (MAQUIAVEL, O Príncipe, p. 97). Nesse sentido, Mandela enquadra-se perfeitamente na situação ainda com a questão dos negros, ao ter preferido a unificação ao radicalismo. Empregou seu método através do time nacional de rúgbi de forma que interviu na questão sem, no entanto, prejudicar seus súditos. Em: “Não deve, pois, importar ao príncipe a pecha de cruel para conservar seus súditos unidos e com fé. Porque, com pequenas exceções, ele é mais piedoso do que os que por excesso de clemência deixam que surjam desordens, das quais podem se originar assassínios ou rapinagens.” (MAQUIAVEL, O Príncipe, p. 75)
Fica claro que governar para os negros somente alimentaria ainda mais a segregação e o levaria a ruína. Por isso, sua postura, aproximando-se da clemência, foi, mais uma vez, construtiva.
Quanto a ser amado ou temido, é necessária uma análise que se estende pelo decorrer do filme. Inicialmente, a reação da torcida de atirar copos quando Mandela entra em campo antes de o jogo começar pode ser usada como referência de como a sociedade branca estava como um todo em relação a ele além da crise político-econômica descrita como: “...estagnação econômica, desemprego, aumento da criminalidade. Tinha que conter aspirações dos negros e temores dos brancos.”(Filme Invictus, 2009). Nesse momento, é preciso ressaltar que Mandela era inexperiente quanto a governar um país, o que aumentava ainda mais sua instabilidade no comando. Em outra cena, a família do capitão do time conversa sobre o que esperam do recém-eleito presidente e as expectativas não são positivas. Em meio a esse caos, a tendência natural seria que reinasse o ódio “Deve, pois, o príncipe fazer-se temido de modo que, se não for amado, ao menos evite o ódio” (MAQUIAVEL, O Príncipe, p. 99)
Nesse sentido, como um bom príncipe, Mandela deveria trabalhar de forma a transformar esse ódio em amor ou em temor. Para que esse processo seja compreendido, é preciso notar que havia uma sociedade culturalmente segregada na maioria dos aspectos. Mandela identificou que um dos elementos de diferenciação era o esporte, mais especificamente o rúgbi, o time nacional, ao mesmo tempo em que representava o país como um todo, dividia seus indivíduos,
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