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O Livro Macunaíma

Por:   •  22/8/2017  •  970 Palavras (4 Páginas)  •  426 Visualizações

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Macunaíma, vítima do seu próprio desaire, nunca perde as suas infantilidades. Brinca com a realidade, joga com a tradição e com a infância. Acredita Betty Milan que o amor é um sentimento europeu, justificando-se assim que este seja estranho ao brasileiro. O brasileiro troca a tragédia pelo humor, e compreende-se, então, que o ritual amoroso de Macunaíma, “o herói de nossa gente”, seja somente uma “brincadeira”.

Na nova terra, o herói deparou-se com Ci, adormecida. A Mãe do Mato, pertencente a uma tribo amazónica, despertou-lhe o desejo de “brincar”. A guerreira tentou resistir, mas, com a ajuda de seus irmãos, Macunaíma conseguiu dominá-la. Nasceu, fruto deste abuso, não só uma paixão idílica, onde se reinventavam “brincadeiras” amorosas, mas também o novo Imperador do Mato-Virgem.

Disfarça-se o desrespeito pelo “sexo fraco” com a constante referência à brincadeira. Ou não tivesse o herói cabeça de criança. É a força que faz nascer um filho encarnado, seis meses mais tarde. Ultrapassam-se as condutas europeias e reina a coerção. Foi, este filho da força, recebido com entusiasmo pela tribo, desconhecedora deste respeito que nos é incutido desde nascença. Uma noite, Ci foi mordida por uma cobra no único seio que ainda tinha. O seu filho, ao mamar, padeceu envenenado. Desgostosa, antes de se tornar numa estrela, ofereceu a Macunaíma um amuleto - a Muiraquitã - e da cova do fruto deste amor brotou o guaraná, fonte da vida e da energia.

Considerei sempre que a canção que tanto ouvi ía contra a cultura que me tinha sido inculcada, mas, hoje, creio que todas vivências estão corretas se fizerem bem ao próprio e não fizerem mal aos outros. Principalmente no contexto cultural brasileiro que, carente de uma biografia, mas repleto de tantas ruínas e memórias, se revela confinado a uma enorme inocência no que concerne ao real.

Contrariam-se as normas do “romance de formação” alemão, no qual as características das personagens refletem uma realidade pedagógica, de formação da nacionalidade. Macunaíma apresenta-se como romance-(de)formação, em que o herói corrompe o próprio caráter que desconhece ter. Tupi or not tupi: Macunaíma parece-se ao herói nietzschiano que cria os próprios valores. Por oposição às Academias Europeias, manifesta-se um ritual de antropofagia intelectual, em que é reverenciado o direito de usar como inspiração a cultura popular brasileira. Metáfora da absorção concernente à não tolerância ao outro e à sua inclusão respeitosa. “É a história de um brasileiro que foi comido pelo Brasil”.

Revelam-se, agora, as palavras de Caetano: “e quem não dança não fala/ Assiste a tudo e se cala/ Não vê no meio da sala/ As relíquias do Brasil.”. Demover e devorar são as artes do “brincar” Brasil(eiras), um país antropofágico, sedento de canibalismo social: consumo, aniquilação e inserção. Despreocupado e irreverente. Não existe propriedade nem interessa o lugar das coisas. A cultura do brincar é pagã e a “alegria é a prova dos nove”.

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