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Os Maias de Eça de Queirós Filmes. Livro

Por:   •  26/12/2018  •  3.145 Palavras (13 Páginas)  •  544 Visualizações

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o primeiro encontro de Maria Eduarda e Carlos, assim como a primeira reunião da “elite” lisboeta em que Carlos participa. No decorrer do jantar, as conversas focam diversos aspetos da sociedade portuguesa: o estado deplorável das finanças públicas, o endividamento do país e a consequente necessidade de reformas extremas e radicais, de que Ega é o defensor mais convicto. “ – Portugal não necessita reformas, Cohen, Portugal o que precisa é a invasão espanhola. (…) Sovados, humilhados, arrasados, escalavrados, tínhamos de fazer um esforço desesperado para viver. (…) Sem monarquia, sem esse tortulho da “inscrição”, porque tudo desaparecia, estávamos novos em folha, limpos, escarolados, como se nunca tivéssemos servido. E recomeçava-se uma história nova, um outro Portugal, um Portugal sério e inteligente, forte e decente, estudando, pensando, fazendo civilização como outrora… Meninos, nada regenera uma nação como uma medonha tareia… Oh! Deus de Ourique, manda-nos o castelhano!” – Cap. VI, pp. 147 e 148.

O jantar é dominado pela contenda literária entre Ega e Alencar. Ega defensor do naturalismo que considerava como uma ciência envolve-se em disputa verbal e física com Alencar, o protótipo do poeta ultra-romântico.

Alencar cujo aspeto físico era o de uma romântico (“… muito alto, todo abotoado numaa sobrecasaca preta, com uma face escaveirada, olhos encovados, e sob o naruz aquilino, longos, espessos, românticos bigodes grisalhos: já todo calvo na frente, os anéis fofos de uma grenha muito seca caíam-lhe inspiradamente sobre a gola: e em toda a sua pessoa havia alguma coisa de antiquado, de artificial e de lúgubre.” – Cap. VI, p. 140.) ataca ferozmente a Ideia Nova, dirigindo o seu ódio contra o Craveiro, o defensor da nova estética literária e que satirizara Alencar num já conhecido epigrama. A discussão literária rapidamente cai nos ataques pessoais (“… desse Craveirote da “Ideia Nova”, esse caloteiro, que se não lembra que a porca da irmã é uma meretriz de doze vinténs em Marco de Canaveses!” – Cap. VI, p. 153), sublinhando-se, assim, a pouca credibilidade e seriedade da crítica literária em Portugal.

Os episódios das corridas, a que Carlos assiste com um único objetivo de rever Maria Eduarda, o que não acontece, constitiu mais uma visão caricatural da sociedade lisboeta que, num desesperado esforço de cosmopolitização, resolvo promover um espetáculo que nada tem a ver com a tradição cultural do país, como Afonso sublinha: “ – O verdadeiro patriotismo, talvez – disse ele – seria, em lugar de corridas, fazer uma boa tourada. (…) Cada raça possui o seu sport próprio, e o nosso é o toiro; o toiro com muito sol, ar de dia santo, água fresca, e foguetes…” – Cap. X, p. 267.

O jantar dos Gouvarinhos oferecido a Carlos pelo conde, aparece num momento em que Carlos, já desinteressado da condessa, passa grande parte das manhãs na Rua de S. Francisco, em casa de Maria Eduarda.

O jornalismo português do século XIX é representado pelos seguintes episódios de “A Corneta do Diabo” e do jornal “A Tarde” nos quais se evidencia:

– o jornalismo corrupto e desprovido de ética – os jornalistas deixavam-se corromper, motivados por interesses económicos ou evidenciavam uma parcialidade comprometedora, originada por motivos políticos;

– os compadrios políticos: Neves, o diretor do jornal A Tarde, acede a publicar a carta em que Dâmaso Salcede se confessa embriagado quando a redigiu, mencionando a relação de Carlos e de Maria Eduarda; Neces publica a carta ao concluir que, afinal, não se tratava do seu amigo político Dâmaso Guedes, o que o teria levado a rejeitar essa divulgação;

– a apetência pelos assuntos “escabrosos”o sensacionalismo jornalístico: o Carlos dirige-se, com Ega, a este jornal, que publicara uma carta, escrita por Dâmaso Salcede, insultando e expondo, em termos degradantes, a sua relação amorosa com Maria Eduarda. Palma Cavalão revela o nome do autor da carta e mostra aos dois amigos o original, escrito pela letra de Dâmaso Salcede, a troco de “cem mil réis”.

O Sarau Literário aparece num momento do romance em que Carlos e Maria Eduarda vivem já um amor sem sobressaltos, fazendo planos para o futuro e esperando apenas o momento mais propício para que Carlos comunique a Afonso os seus planos.

Carlos e Ega vão ao Teatro da Trindade apenas para cumprir uma obrigação social ( o sarau destinava-se a ajudar as vítimas das cheias do Ribatejo), mas é precisamente no final do mesmo, quando Ega e Cruges passavam à porta do Hotal Aliança, que o Sr. Guimarães ( o “demagogo”, o tio do Dâmaso, que vivia há longos anos em Paris) interpela Ega e lhe entrega o fatídico cofre de Maria Monforte, que contém as revelações relativas ao parentesco entre Carlos e Maria Eduarda.

Inesperadamente, um episódio que, à partida, pouco ou nada parece ter a ver com os amores entre Carlos e Maria Eduarda, revela-se crucial para o desencadear da catástrofe final. Neste episódio são relevados aspetos caricatos da sociedade lisboeta.

Como último espaço social temos o desencantado passeio final de Carlos e Ega situa-se dez anos após a partida de Carlos para a viagem à volta do mudo e consequente instalação em Paris – “ E numa luminosa e macia manhã de janeiro de 1887, os dois amigos, enfim juntos, almoçavam num salão do Hotal Bragança, com as duas janelas abertas para o rio.” – Cap. XVIII, p. 597.

Para concluir, podemos dizer que o estudo do espaço social não se esgosta nestes episódios. Os serões no Ramalhete, o chá dos Gouvarinhos, as conversas ocasionais, todos estes momentos contribuem para a visão crítica da sociedade portuguesa do final do século XIX.

O TEMPO

RELAÇÃO ENTRE O TEMPO DA HISTÓRIA E O TEMPO DO DISCURSO

“Os Maias” abarcam uma faixa temporal de cerca de setenta anos, de 1820 a 1877, dos quais apenas catorze meses são objeto de uma atenção diferenciada – outono de 1875 a janeiro de 1877.

Inicialmente, apresenta-se o Ramalhete e Afonso da Maia em 1875; depois com recurso a uma analepse, recua-se a 1820 para se resuir a história da família; e regressa-se a 1875 e ao Ramalhete para a narração da intriga central que tem a duração de catorze meses.

Este período de tempo destes meses constitiu o fulcro do romance e prolonga-se por várias centenas de páginas, ao passo que o período correspondente aos cinquenta anos da história dos antecedentes familiares aparece resumido, ocupando poucas dezenas de páginas do romance.

Devido a este desfasamento, ao longo do romance

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