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CINEMA E LITERATURA: ADAPTAÇÕES NO CENTRO DA DISCURSÃO CRIATIVA, NARRATIVA E MERCADOLÓGICA

Por:   •  21/4/2018  •  3.262 Palavras (14 Páginas)  •  417 Visualizações

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Como dito acima, compreende-se que essa alternativa ligada a adaptações literárias, não é uma exclusividade da vida moderna. Porém, o debate acerca dessa crise narrativa, também, não é exclusivo de nosso tempo. André Bazin, expoente da Nouvelle Vague francesa, se opunha a suposta “impureza” que foi colocava como implícita a obras que surgiam como adaptativas ou que usassem outras peças estéticas como suporte narrativo, sem uma análise ainda na década de cinquenta do século passado:

“O que provavelmente nos engana no cinema, é que, ao contrário do que ocorre geralmente num ciclo evolutivo artístico, a adaptação, o empréstimo, a imitação não parece situar-se na origem. Em contrapartida, a autonomia dos meios de expressão, as originalidades dos temas nunca foram tão grandes quando nos primeiros 25 ou 30 anos do cinema. Podemos admitir que uma arte nascente tenha procurado imitar seus primogênitos, para depois manifestar pouco a pouco suas próprias leis e temas; mas não compreendemos bem que ela ponha uma experiência cada vez maior a serviço de obras alheias a seu talento, como se essas capacidades de invenção, de criação específica estivessem em razão inversa de seus poderes de expressão. Daí a considerar essa evolução paradoxal como uma decadência só há um passo, que quase toda a crítica não hesitou em dar no início do cinema falado. (BAZIN, 1991) ” SCHLÖGL, Larissa. 2011, PG. 3.

Neste ponto de vista, seria natural entender o processo de adaptações, no contexto histórico, como um processo evolutivo e de encontro de sua própria possibilidade narrativa, para o cinema. Entretanto, décadas se passaram, e o mercado absorveu o uso de tal recurso para obtenção “certa” de retorno financeiro.

Hoje, se analisado parte do que compõe os números das maiores bilheterias da história recente do cinema, encontraremos, facilmente, nomes de importantes lançamentos literários que serviram de suporte para obtenção de lucros para os grandes estúdios de Hollywood. No top 15 das maiores bilheterias da história temos seis histórias adaptadas de livros ou quadrinhos (uma nova tendência de adaptação absorvida pelo mercado cinematográfico):

5º. Marvel: Vingadores (2012)

US$ 1, 519.6

7º. Marvel: Vingadores – A Era de Ultron (2015)

US$ 1, 405.4

8º. Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 (2011)

US$ 1, 341.5

10º. Marvel: Iron Man 3 (2013)

US$ 1, 215.4

12º. Marvel: Capitão América – Guerra Civil (2016)

US$ 1, 153.3

14º. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003)

US$ 1, 119.9

Fonte: Box Office Mojo (IMDB) http://www.boxofficemojo.com/alltime/world/

Ou seja, em um cenário onde filmes de verão (Blockbuster), que são os maiores lançamentos do ano, para os grandes estúdios, possuem cada vez maiores orçamentos, a necessidade de se investir “certo”, por parte dos produtores, recaí sob o uso do suporte de sucesso de outras mídias, o que se “justifica” na obtenção de direitos de licença para adaptação de cada vez mais livros, histórias em quadrinhos/graphic novels e as mais diversas obras de diferentes suportes (games, peças de teatro, fanfictions, etc.).

Linguagem X Suporte

Nessa escolha de adaptação, uma das maiores críticas, seja do ponto de vista especializado ou dos fãs das obras originais, repousa no que diz respeito a fidelidade dessa transposição de um formato para outro, de um suporte para o outro. Eis que surge a primeira crítica a indústria cinematográfica hegemônica hollywoodiana, que cabe, de forma pertinente, às preocupações de Adorno e sua Indústria Cultural, que foram analisadas por Bourdieu, por exemplo, e tantos outros, como constam em trabalhos como os de Santini:

“(...) há um nexo histórico entre a produção cultural com a formação e/ou a mudança dos hábitos e gostos. “A produção contribui para produzir o consumo” (BOURDIEU, [1984] 2008, P. 159). (...) esta relação de interdependência entre produção e consumo é preciso considerar que há uma busca consciente de adequação social e econômica (...). Em certa medida, as Indústrias Culturais tentam adaptar a demanda às suas condições de produção e vice-versa, e enquanto mediadores atuam para “produzir seus consumidores”. Em um sistema baseado na produção em série e na transformação dos bens simbólicos em commodities faz-se necessário aprimorar as técnicas de ajude entre a oferta e a procura para garantir a acumulação de poder e riqueza. Esta correspondência estrutural é imperativa dada à especial imprevisibilidade e risco do mercado cultural, tanto da perspectiva dos produtores como dos consumidores. “A incerteza e as vicissitudes caracterizam a produção de bens simbólicos (BORDIEU, [1977] 2006, P. 60), e por isso “os produtos das Indústrias Culturais de massa tendem a ser concebidos segundo receitas seguras e confirmadas” (BOURDIEU, [1977] 2006, P. 34). SANTINI, p. 4.

Tais adaptações, em sua grande maioria, se tornando o principal alvo da crítica coletiva, surgem justamente dessa concepção “segura” citada anteriormente. A fragmentação narrativa de textos complexos como os de Asimov criador do livro Eu, Robô (1950), que em 2004 ganhou uma adaptação para o cinema; as adaptações de textos e livros de Philip K. Dick, escritos entre os anos cinquenta e sessenta, que renderiam filmes como Total Recall (1990 – 2012), Minority Report (2002), Os Agentes do Destino (2011) ou Blade Runner (1982); ou tantas obras como as adaptações dos trabalhos de Arthur C. Clarke (2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Kubrick), a revolucionária e impactante obra de H. G. Wells e sua Guerra dos Mundos, escrita em 1898, que rendeu sua primeira adaptação em 1953 e tantas outras e inúmeras obras que poderiam ser citadas, sejam de ficção cientifica ou não.

Essas fragilidades nas adaptações surgem, ora por decisão dos próprios estúdios/produtores, para tonar seu produto mais palatável para o consumidor médio, ora por licença poética dos roteiristas e diretores que decidem adaptar tais obras para o novo suporte com a liberdade de dar vida a ideias de uma forma física ou que uma transposição

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