A COLONIZAÇÃO, MISCIGENAÇÃO E QUESTÃO RACIAL
Por: eduardamaia17 • 24/10/2018 • 789 Palavras (4 Páginas) • 417 Visualizações
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Nas décadas de 30 e 40 mudaria a maneira de lhe dar com a miscigenação racial e cultural que Von Martius sugeriu estudar havia quase cem anos. Daí, apareceram três grandes sínteses da nossa historiografia.
Uma delas foi o grande livro ”A casa grande e senzala” de Gilberto Freyre.
Esse foi um livro que produziu verdadeira inflexão no modo de tratar o assunto. Porque de um lado, encarou sem pudor a questão da sexualidade inerente à miscigenação racial e o fez sem associa-lo “jesuiticamente” ao pecado da luxuria, como fez Caio Prado.
O contraste entre Caio Prado e Freyre é, radical e desconcertante, Caio por ter sido um militante de esquerda dos mais lúcidos e notáveis e Freyre, por um homem de posições políticas muito discutíveis, para se dizer o mínimo. Enquanto Freyre abriu caminho para se pensar a originalidade da cultura brasileira, Prado não fez senão, reiterar preconceitos antigos.
É certo que nenhum dos autores acima citados assinaria os juízos implacáveis de Caio Prado quanto “ao nível ínfimo e bárbaro” das culturas africanas e indígenas empenhados que estavam em denunciar a violência da escravidão e acentuar o racismo dela derivados.
Foi preciso esperar o meado da década de 1980 para que nossa historiografia desse mostras de que o tema da mestiçagem cultural não era em vão. Nem tanto em relação ao índio, que praticamente não foi objeto dos historiadores, exceto como alvo da catequese, mão-de-obra da colonização ou inspiração do imaginário europeu.
Nossa historiografia atual avança, é certo, no tocante à mescla cultural, e nisso busca nossas originalidades, mas evita o tema da miscigenação racial. Outrora, a miscigenação era abordada sem sexo, “asséptica”, como se isto fosse possível. Hoje busca-se a mescla cultural, quando muito; a sexualidade, um pouco. Mas predomina o silêncio sobre a mestiçagem, no sentido o mais amplo possível, incluindo o racial. Na realidade, a ênfase nas mesclas ou hibridismos culturais convive com a busca dos particularismos, rivaliza com ela, à procura das recriações ou sobrevivências, sobretudo d’África, na cultura brasileira.
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