A Psicologia Social
Por: YdecRupolo • 3/9/2018 • 15.939 Palavras (64 Páginas) • 286 Visualizações
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A entrada no hospício é marcada por “rituais”, onde o sujeito não se despe apenas de suas roupas, mas também de sua individualidade e de sua historia. Ele sofre uma amputação social, tendo sua dignidade extirpada ao ser rotulado com a marca estigma do diagnóstico e a partir deste momento, tem que conviver com o preconceito da sociedade.
O processo de internação pode ser visto como uma despedida e um começo, visto que as barreiras que separam o hospício do mundo externo acarretam em perdas de papéis sociais e na aquisição de um padrão de comportamento homogeneizado a ser seguido. Moffat denuncia a forma como o tratamento manicomial da época, deteriorizava o paciente quando desumanizava o interno. Desqualificava sua cultura e sua individualidade gerando uma desintegração do eu, com uma profunda sensação de inexistência, um autismo, onde o tempo passa a ser indefinível, considerado um eterno presente, sem nenhuma perspectiva, nenhum tipo de estímulo social e afetivo.
O grupo em destaque é a classe operária baixa argentina, os típicos gaúchos, os mais explorados e com menos direitos no sistema capitalista. Moffat explora o papel da mídia, do Ministério da Educação, da Igreja, e das sociedades "beneficentes" na formação do oprimido, dando a idéia de que a opressão psíquica dos pobres, começa desde cedo, nas escolas, prosseguindo nas fabricas, e em seguida nos asilos, reformatórios, penitenciarias, etc
Com sua experiência prática, observa que a psicoterapia freudiana ortodoxa é absurda para a grande população que demanda tratamento especializado e ressalta as alternativas que os cidadãos usam para suprir essa necessidade. Encontra então, o trabalho dos curandeiros populares que preenchem esse papel, ao estabelecerem uma forte conexão emotiva com quem os procura e, usando a intensidade deste vínculo criado conseguem propor sugestões terapêuticas prontamente aceitas pelo povo.
A psicopatologia está mais centrada nos transtornos de identidade, considera que “a crise se manifesta pela invasão de uma experiência de paralisação da continuidade do processo de vida”. O que provoca a crise é o inesperado de uma situação em que se é exigido viver; se a perturbação se intensifica há uma descontinuidade na própria percepção de vida do indivíduo como história coerente, organizada de forma que cada etapa é consequência da anterior.
O surgimento do movimento da anti-psiquiatria, trouxe novas formas de encarar o tratamento e o sofrimento dos pacientes psiquiátricos, e, nesse contexto a psicologia social se fortaleceu. Técnicas que atendiam a um número maior de pessoas como a dramatização corporal foram inseridas no dia a dia dos pacientes. Atividades que ocupam o tempo e a mente como alfabetização, construção civil e oficinas de trabalho se mostram extremamente eficientes na recuperação e reintegração social dos pacientes. É na soma desses pequenos fragmentos recuperado do seu eu, que o sujeito possibilita sua reformulação.
Temos também uma proposta de psiquiatria popular, embasando-se em vários casos e experiências, principalmente na retomada do orgulho crioulo (como eram chamados os nativos pelos espanhóis colonizadores), no sentimento de pertença e valor.
Moffatt conta sua experiência de trabalho, na comunidade popular “Penã Carlos Gardel”. A comunidade funcionou nos fundos do hospital nacional argentino de Borda. Ele destaca uma proposta de revisão total da metodologia hospitalar da psiquiatria, aonde as experiências já realizadas demonstram que um hospício pode trabalhar pela cura dos doentes mentais e não pela cronificação.
- “A Internação Psiquiátrica e o Drama das Famílias” (Tânia Tsu)
Tsu aborda em seu livro a internação psiquiátrica e a relação disto com a família. Diz que o psiquiatra de instituições publica não se preocupa em aprofundar a investigação do caso (anamnese) porque isso não é realmente preciso, em termos práticos, para a decisão que deve tomar. Há pouco a oferecer ao paciente.
A variável decisiva, mesmo numa fase de política institucional cerradamente contra à internação, é a impossibilidade do acompanhante responsável de manter o paciente em tratamento ambulatorial, por não contar com condições emocionais e materiais para tanto. A atitude do “familiar acompanhante” revelou-se como o fator isolado de maior peso na tomada de decisões do clinico, independente de todas as outras variáveis.
A desospitalização é vivida, no cotidiano da clientela, como espécie de descumprimento, por parte do estado, de uma obrigação. Os discursos aparentemente humanitários, que sensibilizam a classe média intelectualizada, não convencem ao pobre, de que é melhor para ela e para o paciente que o tratamento seja realizado em casa.
Tsu cita hipóteses mais frequentes para a aparição das doenças mentais, segundo Miles em seu livro, onde um delas é esclarece que a maior tensão de vida enfrentada pelas classes economicamente dominadas é o fator explicativo da maior incidência de distúrbios mental. É hipótese mais consistente, conforme o qual é a vida tensa característica das camadas populares o que desempenha papel fundamental, ao invés da analise sociológica, no desencadeamento das desordens mentais. O que parece ocorrer é que a insegurança econômica afeta não apenas a sobrevivência materialmente considerada como também a autoestima e a relação do individuo com os grupos primários. Na vigência do desemprego ou da ameaça de desemprego, a relação do individuo consigo mesmo e com o ambiente social imediato pode sofrer marcada deteriorização. Ou seja, as taxas de doenças metal são maiores na classe trabalhadora, provavelmente em função das tenções que enfrenta, notadamente devidas à sua forma de inserção do mundo produtivo.
Demonstra-se uma “carreira de doente mental” até o ato da internação psiquiátrica. Tanto o protagonista como os familiares são observadores que apresentam vários graus de objetividade em relação ao problema, na medida em que sempre se encontram profundamente envolvidos do ponto de vista emocional. A primeira fase do processo é a observação ou reconhecimento de alguma ou varias mudanças na conduta habitual do individuo. A segunda fase corresponde à interpretação acerca do que a mesma significa. As mudanças são usualmente interpretadas em três contextos gerais: caracterológico, somático e psicológico. A terceira fase é a qual o grupo familiar passa a consultar o grupo social mais próximo para confirmar ou desmentir sua interpretação, assim como para decidir se alguma medida pratica deve
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