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ATPS Psicologia Social

Por:   •  21/2/2018  •  1.317 Palavras (6 Páginas)  •  599 Visualizações

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que a divisão de classes se tornasse ainda mais notória foi à industrialização no país, provocando o aumento da população desenfreada nas grandes cidades, a saída do homem do interior à procura de melhorias de vida (urbanização). Entretanto os indivíduos que se deslocaram para as grandes cidades ficaram sem opção de trabalho, tendo que recorrer aos trabalhos mais humilhantes e menos reconhecidos pela sociedade, como os de garis, catadores de reciclados, domésticas, pedreiros entre outros. Trabalhadores desconsiderados pela sociedade, invisíveis de certa forma, e na maioria das vezes sem direitos trabalhistas. Para Gonçalves Filho dá-se o nome de invisibilidade pública:

Expressão que resume diversas manifestações de um sofrimento político: a humilhação social; um sofrimento longamente aturado e ruminado por gente das classes pobres. Um sofrimento que, no caso brasileiro e várias gerações atrás, começou por golpes de espoliação e servidão que caíram pesados sobre nativos e africanos, depois sobre imigrantes baixo-salariados: a violação da terra, a perda de bens, a ofensa contra crenças, ritos e festas, o trabalho forçado, a dominação dos engenhos ou depois nas fazendas e nas fábricas.

Através do estudo realizado por Fernando Braga da Costa entende-se a invisibilidade pública como um fator predominante na sociedade capitalista, que prejudica de certa forma a comunicação entre os homens, deixando de lado a ideia de se preocupar em entender a situação em que se encontram as pessoas que fazem parte do cotidiano desta mesma sociedade, consagrando o que é primordial na sociedade capitalista, troca de serviços, pagamentos, custos etc. Enquanto a sociedade capitalista acredita de alguma forma na “evolução” das pessoas que nela vivem provocam mudanças significativas no comportamento social destas pessoas. Em outras palavras, invisíveis são todos os trabalhadores baixo-salariados, pertencentes à classe menos favorecida que passam despercebidos diante daqueles que tratam seres humanos como simples instrumentos de negócios. Invisíveis são os catadores de reciclados, as domésticas, os garis, pessoas que estão apenas lutando para sobreviver em uma sociedade injusta, indiferente, individualista que não consegue perceber sequer a importância destes trabalhadores nas nossas vidas. Dentre estas profissões, consideradas de certa forma humilhante para quem as exerce, abre-se aqui um parêntese para tratar da realidade dos garis, de como estes profissionais são tratados em seu cotidiano, de como os mesmos são vistos pela sociedade, enfatizando a difícil tarefa deste profissional, que trabalha diariamente para manter a cidade limpa.

“Os garis são os responsáveis pela limpeza urbana, são profissionais de grande importância para a sociedade, pois os mesmos tem a função de manter a cidade limpa”, assim são tratados pela sociedade, no entanto o dever de manter a cidade limpa é de todo cidadão. De fato, os garis exercem uma profissão desvalorizada, na maioria das vezes não possuem direitos trabalhistas, são mal remunerados, expostos diariamente aos riscos da profissão e ainda são alvos de preconceitos. O termo lixeiro, que os mesmos recebem da população, ou ainda aquele ditado que muitos ouvem dos professores no colegial “Estudem ou vão acabar varrendo rua” só engrandecem ainda mais o preconceito e a desvalorização da profissão.

Para ser um gari o profissional não precisa ter uma formação mínima, é necessário apenas ter algumas técnicas de limpeza. O trabalho é braçal e exige muito esforço dos trabalhadores. A maioria dos garis é contratada por órgãos públicos, entretanto em outros casos os profissionais são contratados por empresas privadas.

Para entender mais do assunto é importante que se escute o próprio trabalhador da área, conversamos com o Senhor José Nunes que trabalha como gari na cidade de Aldeias Altas Maranhão há dois anos.

Na conversa, o senhor José Nunes afirma que o trabalho não é fácil, as condições de trabalho são precárias, mas o mesmo afirma que não sofreu e ou percebeu algum tipo de discriminação vindo da população. No entanto afirma ainda que com o salário que recebe não dá para suprir as necessidades da sua família e que completa a renda fabricando lavanderias na própria casa.

“Só um salário mínimo mermo, pra quem tem quatro filho não dá pra segurar não”, diz José Nunes ao perguntarmos sobre o salário que ganha. Em relação às ferramentas e uniforme seu José Nunes faz a seguinte colocação: “A ferramenta é o seguinte, eles só dão a luva pra se trabalhar, mas o cabra usa uma pá e a pá é nois que compra porque eles não dão mais a pá, eles dava de primeiro, mas eles procurava as pior pá...agora só dão mermo só a luva”. Seu José Nunes ainda fala que espera que a profissão seja mais valorizada, que gosta do trabalho que faz, entretanto “tem que melhorar muita coisa” como o mesmo coloca.

A problemática é que enquanto o profissional não for reconhecido de fato como ser humano, que merece trabalhar e ter seus direitos garantidos, que exercem uma função de extrema importância para a sociedade e ainda para o meio ambiente a profissão de gari será sempre desvalorizada.

Referências Bibliográficas:

GONÇALVES FILHO, J. M. Humilhação social – um problema político em psicologia. Psicol. USP [online]. Vol. 9, nº 2 [citado 4 jun. 2006], 1998, p. 11-67. Disponível em: https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=explorer&chrome=true&srcid=0B_iQRJWKpWlM2Q3OWRiYmQtMDY5My00ZWNmLWIwMzItYzg4OGEwZWI4ZmFl&hl=en.

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