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CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA

Por:   •  30/1/2018  •  3.521 Palavras (15 Páginas)  •  504 Visualizações

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Quando reestabeleceram a comunicação os exploradores pediram para falar novamente com a equipe médica. Roger Whetmore falando em seu próprio nome e em representação dos demais, indagou se eles seriam capazes de sobreviver por mais 10 (dez) dias se alimentassem com a carne de um dentre eles. O presidente da comissão, a contragosto, respondeu em sentido afirmativo. Continuando o questionamento, a vítima inquiriu se seria aconselhável que tirassem a sorte para determinar qual dentre eles deveria ser sacrificado. Nenhum dos médicos da equipe atreveu-se a enfrentar a questão, pois não só como o presidente da comissão médica como também os membros da equipe, sabiam que não haveria outra alternativa de subsistência dentro da caverna. Além disso, sabiam também que qualquer ser humano, mesmo enfrentando caso gravíssimo de falta de alimento sobreviveria tempo suficiente para ver o acesso da caverna ser obstruído e assim conquistar a liberdade que lhes fora tomada.

Diversos artigos médicos que encontramos na Rede Mundial de Computadores afirmam que sim, é possível sobreviver pelo período de 32 dias ou mais sem ingerir um alimento, apenas sobrevivendo de água. Neste caso, por conta das chuvas e constantes desmoronamentos, não faltaram dentro da caverna, por ser um local úmido e frio, propicio para infiltrações de água (estalactites e estalagmites), crescimento de musgos e gramíneas além de outras formas de vida e alimentos sobre os quais desconhecemos, mas que a vida animal ensina a como sobreviver, e nada mais flexível do que a capacidade humana de sobreviver.

Whetmore inquiriu mais uma vez se havia algum juiz ou outra autoridade governamental que se dispusesse a responder à pergunta - nenhuma das pessoas integrantes da missão de salvamento mostrou-se disposta a assumir o papel de conselheiro neste assunto. Mais uma vez, a vítima tornou a perguntar se haveria algum sacerdote para lhes responder ao questionamento, mas não encontrou quem pudesse fazê-lo, depois disto as mensagens de dentro da caverna, supondo-se (erroneamente depois como se evidenciou) que as pilhas do rádio dos exploradores tinham se descarregado. Quando os homens foram finalmente libertados soube-se que no trigésimo terceiro dia após a entrada na caverna, Roger Whetmore havia sido morto e servido como alimentos aos réus.

Através do depoimento dos acusados, aceitas por este júri, Roger Whetmore foi o primeiro a sugerir que buscasse nutrientes da carne de um deles sem o qual a subsistência seria improvável, o detalhe neste relato é que quando a vítima indagou ao médico sobre a probabilidade de sobreviver sem consumir alimentos o próprio médico induziu a vítima a um erro no qual custaria a sua própria vida e a sorte dos réus, e o presidente da comissão (médico) afirmou que havia possibilidades de sobreviver sem o consumo da carne humana, sendo escassa, mas existente a porcentagem de sobrevivência. Os réus, cientes dessa afirmativa tornaram-se autores de um crime bárbaro, onde três homens contra um que demonstrou arrependimento por conta de um erro foi morto barbaramente e servido como alimento para esses homens. Whetmore queria que não só ele, mas os réus saíssem dessa situação vivos com a esperança de reencontrar as suas famílias.

A vítima, apesar de ter sido o primeiro a propor esse ato infame, coincidentemente no dia da expedição portava consigo um par de dados, pois acreditava que passariam a noite explorando, conversando com as coisas de homens por que não um joguinho entre amigos? Amigos esses que aparentemente apresentam-se como homens decentes, pais amorosos, companheiros presentes, filhos exemplares e que no mais íntimos deles carregavam consigo a raiva, a frieza e a capacidade de executar a sangue frio o próximo, o próprio amigo. A vítima creu na confiança desses homicidas. O qual passaram-se de pessoas sem inclinação para o mal para unir-se e formar a equipe de exploração espeleológica. Apesar dos acusados hesitarem em adotar um comportamento tão nocivo, eles concordaram com o plano proposto. Após uma longa discussão sobre probabilidades matemáticas a respeito um lançamento de dados, chegaram a um acordo sobre o método a ser empregado para a solução do problema: os dados de Roger Whetmore.

Chamo a atenção da sequência de erros em que foram se desdobrando para o episódio desta catástrofe. Primeiro, que a vítima e os réus neste caso não são culpados pela falta de informação entre a Sociedade Espeleológica e as famílias, mas são culpados pelo fato não analisarem as condições que o local poderia apresentar. Verificar se os equipamentos eram de fato seguros, que não causariam danos entre si e também se a quantidade de insumos era suficiente. Afinal, eles sabiam que arriscariam suas vidas nesta expedição, assim como em qualquer uma que poderia ser feita. Planejamento, cautela, paciência e um psicológico forte, são requisitos fundamentais para os praticantes desta modalidade. O segundo fato que incito é que a equipe médica junto com o presidente do comitê, profissionais graduados e com experiência em residência médica nos mais diversos casos, negligenciaram a condição de resolver os dilemas que, naquele momento, a vítima apresentou-lhes. Esqueceram-se do fato de que os exploradores se encontravam abatidos, desesperados, inconsoláveis, sem capacidade de construir ideias lógicas, costurar sentenças concretas por conta do abalo emocional e das emoções afloradas nesse momento.

Whetmore declarou que desistia do acordo, mostrando arrependimento. Refletiu que subtrair o direito à vida, sua ou de seu semelhante não era atitude certa para se tomar. Decidindo esperar, dar uma chance que a equipe de resgate para desobstruir a única passagem de acesso a caverna, plantou a esperança, a fé, a certeza de que os quatro iriam sair vivos. Abandonou um procedimento frio, raivoso, nocivo e venenoso, onde tal ato encaminha o maior sofrimento para a família do escolhido, assim como os amigos e todos aqueles a quem lhes demonstrou o seu amor.

Os outros o acusaram de violação do acordo e, mesmo assim, procederam ao lançamento de dados. Quando chegou a vez de Whetmore, um dos acusados lançou os dados em seu lugar, nenhum dos acusados falou que a vítima cedeu a sua escolha de lançar os dados, esse direito lhe foi tomado e mesmo que a vítima cedesse a oportunidade aos acusados em tirar a sua vida, a própria vítima não poderia conceder tal ação ofensiva. Pois os membros do nosso judiciário, os nossos operadores do Direito também são dotados de humanismo e dualidade humana, e o fato de absterem-se da pergunta que a vítima inquiriu mostrou-se que além da lógica que constantemente usamos em nossos casos, somos dotados de humanidade e dilemas filosóficos

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