Essays.club - TCC, Modelos de monografias, Trabalhos de universidades, Ensaios, Bibliografias
Pesquisar

A INSTRUMENTALIZAÇÃO DO DISCURSO RELIGIOSO NA TENTATIVA DE DOMINAÇÃO DO OUTRO NA AMÉRICA LATINA

Por:   •  17/2/2018  •  3.181 Palavras (13 Páginas)  •  425 Visualizações

Página 1 de 13

...

os países ricos sempre serão favorecidos, por conta da divisão de tarefas, a organização de mercados (menos livres) e as transformações técnicas vinculadas aos parâmetros dos grandes polos financeiros que formam a base econômica das grandes metrópoles. Pelos meados de 1910, temos a consolidação da hegemonia exclusiva dos países estrangeiros. Podemos citar, a título de exemplo, os capitalistas alemães que monopolizaram e controlaram o comércio de café, apossaram-se das terras cultiváveis da Guatemala e os norte-americanos, após a dominação espanhola, adquirem plantações de cana-de-açúcar em Cuba e estende o seu controle sobre Porto Rico, Haiti, São Domingos e nas planícies da América central. Gradativamente a transição do monopólio foi passada à tutela dos Estados Unidos e fortalecida com a retomada dos pressupostos da Doutrina Monroe (A América para os americanos) de 1823. Diante dessa conjuntura política os Estados Unidos assumiam a prerrogativa de polícia a serviço das relações financeiras consolidadas durante o período de maturidade do neocolonialismo. Vale ressaltar o que escreveu Donghi (1975, p. 205):

Nesse contexto, a vocação pedagógica dos Estados Unidos transforma-se num mecanismo de dominação e identifica-se com o compromisso para impor uma imagem das relações entre Estados Unidos e suas áreas de influência que reflita indubitavelmente tradições ideológicas preciosas; e tem como consequência prática – uma vez aceita nos países dominados – tornar inconcebível a ruptura com os vínculos de submissão.

O fato é que os Estados Unidos, através de decisões unilaterais, buscava obter o controle da América, que já era devedor crônico dos países europeus, e para controlar as questões financeiras e lançar as bases do um regime para o âmbito internacional. Os norte-americanos se arrogavam no direito de exercer a prerrogativa de fiscal junto as grandes potências europeias para desenvolver reformas para benefício próprio e também dos europeus.

2. A busca por uma legitimidade jurídica.

Sempre foi objeto de desejo norte americano formar e implantar organizações regionais para fomentar relacionamentos enlaçados pelos dispositivos jurídicos. No pós-guerra, temos a formação da Organização dos Estados Americanos. Em 1901-1902, foram estabelecidos, no México, um comitê de governo – presidido pelos norte-americanos. Em 1910, em Buenos Aires, temos a criação do Secretariado das Repúblicas americanas cujo objetivo era fiscalizar e coletar informações sobre a economia dos Estados Americanos. Essa organização depois teve seu nome alterado para União Pan-Americana.

A reunião em Santiago do Chile (1923) foi preponderante para estabelecer a maneira como a União Pan-Americana haveria de funcionar. Pelo menos dois objetivos foram pontuados: A “política isolacionista” e o “direito de intervenção”. Estava lançada a base de uma política que recusaria qualquer proposta multilateral e, por conseguinte a promoção e a manutenção de iniciativas unilaterais. Outro órgão formado, por ocasião da segunda Guerra mundial, foi a Organização dos Estados Americanos que ganhou notoriedade no âmbito das Nações Unidas. Com a consolidação do projeto político em escala regional e global e o fortalecimento do monopólio norte americano os outros Estados do continente ficaram condicionados e dependentes economicamente.

3. A “vitória” das metrópoles e o colapso das periferias.

Os governos “populistas”, dos anos 50 e 60, não se desvencilharam do contrassenso inerente do projeto desenvolvimentista forjado na lógica do capital que, ao mesmo tempo, gerou dependência e exclusão da maioria o que, dentre outros fatores, resultou na crise do modelo. A despeito das profundas contradições, o modelo capitalista tem lançado os seus tentáculos em escala global. (Cunha, 2004) aponta que o capitalismo tornou-se globalizado e com a queda do muro de Berlim em 1989, um novo mapa mundi foi instaurado. Isso resultou na vitória do capitalismo liberal. As relações comerciais foram ajustadas, política e economicamente, conforme as regras do livre mercado.

A total abertura para o mercado mundial, um forte apelo ao consumo, investimentos em tecnologia – especialmente a da informação, a não intervenção direta do Estado na economia, a privatização, dentre outras questões, são faces fundamentais do capitalismo. Portanto está posto o desafio para os Estados periféricos da América. Com esse aparato funcionando em conjunto com o princípio da acumulação do capital e o controle das forças de produção e da informação, as grandes metrópoles com suas organizações multinacionais e transnacionais se mantêm ditando a lógica e estabelecendo relações de poder.

Para os países “periféricos” restou-lhes o colapso: a fragmentação da economia local, a exploração do trabalhador e sua exclusão sistêmica por conta do fenômeno da automação, a manutenção da política assistencialista, a desigualdade social, a precarização administrativa do poder público – a ineficiência Estatal em face dos anseios da sociedade, o arrocho tributário e fiscal, o aumento da inflação, os profundos problemas nos campos da Saúde, Educação e Segurança etc. O fato é que “desenvolvimento” e “subdesenvolvimento” é cara e coroa da mesma moeda. A miséria experimentada pelos países do “Terceiro mundo” é o preço a ser pago para que o os países do “Primeiro Mundo” permaneçam ricos e possam desfrutar da “bonança”.

4. O TOTUS como elemento indispensável para a dignidade do evangelho.

Na década de 1960, pastores e teólogos latino-americanos reagem diante do quadro caótico de profunda desigualdade e opressão social que solapava as camadas populares. O discurso protestante, como já foi citado logo acima, visava somente a salvação da alma e não preocupava-se com as “estruturas dominantes”. A doutrina da Providência de Deus na História, segundo a ortodoxia protestante, significava e conceituava as estruturas como parte essencial do Projeto de Deus antes dos Tempos Eternos. Isso acabava legitimando a dominação do outro por conta da acepção de que os sistemas dominantes eram autoridades constituídas por Deus, enquanto que para os dominados restava-lhes a submissão. A Escatologia fundamentalista gerava um pessimismo diante das tragédias, sob pena, de que “tudo ia de mal a pior” e a história seria puxada, incondicionalmente, para esse fim por forças deterministas.

Diante desse contexto, havia

...

Baixar como  txt (21.7 Kb)   pdf (69.9 Kb)   docx (21.7 Kb)  
Continuar por mais 12 páginas »
Disponível apenas no Essays.club