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ARTIGO ARGUMENTATIVO SOBRE A MANIPULAÇÃO NO DISCURSO RELIGIOSO

Por:   •  12/3/2018  •  1.504 Palavras (7 Páginas)  •  373 Visualizações

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Portanto, podemos sugerir que a ideologia do discurso religioso cristão sustenta-se nas oposições: plano espiritual versus plano mortal; salvação versus castigo; fé versus pecado. Se, por um lado, em meio ao discurso religioso existe a mistificação que envolve o pecado, recoberto figurativamente pela imagem do diabo, do inferno, por exemplo, como elemento intimidador muito forte que produz impacto considerável na crença de boa parte da sociedade de costumes e de posições tradicionais, por outro, há a salvação, recoberta pela figura do céu e da recompensa divina, que constitui uma estimulante tentação para que os fiéis nunca abandonem as doutrinas pregadas.

Seja como for, deparamo-nos sempre com questões que envolvem a forma como os representantes das instituições religiosas falam sobre Deus para os fiéis, que se mostram, em muitos casos, completamente vulneráveis a formas de manipulação. Seja por meio de tentações, intimidações, provocações ou seduções, ou de todas elas mescladas num único discurso, sempre manipulamos a linguagem e, conseqüentemente, tentamos manipular o interlocutor para atingir nossos objetivos.

No discurso religioso, tentação e intimidação parecem ter sido, durante muito tempo, as formas de manipulação dominantes. Tentadora porque, agindo da forma como a doutrina cristã é pregada pelos representantes das igrejas, os fiéis podem alcançar o reino dos céus, e intimidadora porque a não-aceitação do que lhes é pregado conduz a alma humana ao castigo, ao inferno. Contudo, em se tratando do discurso dos representantes das igrejas evangélicas, as estratégias de manipulação por tentação e sedução se destacam muito mais, pois intimidar o fiel é uma prática que pode afastá-lo. É muito mais vantajoso destacar o que o fiel pode conquistar de bom para sua vida do que lhe mostrar sempre as portas do inferno. Abrindo um parêntese, podemos chamar atenção aqui para um fato curioso: enquanto muitas religiões pregam o amor e a harmonia, a igreja evangélica sempre cita a riqueza que você irá adquirir. O carro do ano, a casa sonhada... Citam mais o demônio (e suas possessões) que Deus, e curam doenças gravíssimas com uma toalha molhada com o suor do próprio pastor. Tudo isso é transmitido ao vivo, seja por um canal de TV exclusivo da igreja, ou seja, por um canal com tendências evangélicas; o fato é que nenhuma cura ou exorcismo é praticado sem que seja televisionado ou divulgado de fiéis para fiéis.

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- As formações do discurso associadas às formas de manipulação

“[…] Persuadir é mais do que convencer, pois a convicção não passa da primeira fase que leva à ação […]” (PERELMAN; OLBRECHTS-TYTECA, 1996, p. 30). O locutor de um discurso pode até convencer seu público-alvo sobre um fato, uma idéia, mas para fazer com que esse público ponha em prática suas palavras, é necessária uma força ainda maior que depende de argumentação persuasiva que seja capaz de atingir o espírito e a vontade desse público.

A criação desse efeito de sentido depende de um trabalho com a linguagem que garanta a construção de uma rede discursiva com a qual os interlocutores se envolvam, para fazê-los crer e pôr em prática o que o locutor prega em seu discurso. Esse fato é observado com mais evidência se voltarmos nossa atenção para alguns discursos como o político (dos períodos eleitorais), o familiar – especificamente o resultado da interação entre mãe e filho – o pedagógico e o religioso. São discursos que trabalham com objetivos muito precisos. A aceitação e o pôr em prática o que esses discursos veiculam dependem muito do fazer persuasivo do locutor.

3. Considerações finais

A discussão das formas que o pastor textualiza em seu discurso sobre o fiel e sobre Deus confirma que a sedução e a tentação são os dois principais expedientes empregados para atrair a atenção do fiel e, ao mesmo tempo, manipulá-la, abordando-os por diversos meios de comunicação de massa. Com a sedução, o pastor diz, de forma explícita ou implícita, o que ele “sabe” sobre a vida do fiel, seus desejos e anseios, pondo-o numa posição de escolha quase forçada, pois, às vezes, é difícil esquivar- se dos elogios que lhe são feitos por uma pessoa que se apresenta sensível diante dos mais diversos problemas sociais.

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Esse envolvimento sedutor é associado à tentação, pois com ela o pastor propõe sempre ao fiel um bem de valor para convencê-lo a fazer o que lhe é solicitado. No caso da igreja evangélica, esses bens são claramente identificados pelo pastor: a transformação da vida do fiel interpretada por ações tais como: elevar padrão financeiro, curar-se de uma doença e livrar-se de problemas sentimentais. O pastor prefere destacar as formas como o fiel pode conquistar concretamente a tão sonhada transformação em sua vida na terra.

Ao contrário de outras, que pedem as contribuições prometendo a recompensa apenas após a morte, a Igreja Universal faz o oposto, ou seja, ela exige do fiel a demonstração de sua fé por meio de sacrifícios (doações), com a promessa de recompensa aqui na terra, sob a forma de dinheiro, saúde, felicidade, paz espiritual e familiar etc.

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Nota

- É importante esclarecer que as considerações aqui propostas sobre o discurso religioso valem para todas as instituições que cultuam os preceitos do cristianismo que exerce uma forte e grande influência em quase todo o mundo.

Referências

CITELLI, A. Linguagem e persuasão. 11. ed. São Paulo: Ática, 1997.

FOLHA UNIVERSAL. Edições 371 a 382 de maio a

agosto de 1999. São Paulo.

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