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A Cultura e Sua Influência no Campo Religioso

Por:   •  22/3/2018  •  2.318 Palavras (10 Páginas)  •  517 Visualizações

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Vivemos em vários mundos quase sem perceber que estamos projetados para planos diferentes, dependendo dos campos simbólicos que colocamos em prática. Esses territórios são mediados por espetáculos realizados a partir de experiências: dramas, danças, músicas, concertos, poesia, disputas esportivas, acontecimentos, manifestações coletivas, cerimônias, ritos, etc. O mundo do ritual faz parte dos mundos múltiplos em que vivem a cultura e a religião.

”O que define o pós-moderno, embora isso seja apenas um nome em busca de um significado, não é reconhecer esses mundos múltiplos como outras tantas realidades em que nós vivemos, e sim o perceber que esses mundos vão se sobrepondo, fragmentando-se, cruzando-se, anulando-se e depois de novo, empregando técnicas recorrentes, voltam e nos fazem sonhar...”(Terrin, 2004, p 372).

Na esfera cultural e religiosa, assistimos a um a série de espetáculos que nascem e morrem. Que não tem regras, que afirmam e negam a si mesmas. É a crise dos grandes mitos e dos meta-relatos; textos e normas que constituem o substrato último de nossa cultura em sua totalidade. É a crise do pensamento objetivo, definitivo, de regras e valores considerados intocáveis.

Segundo especialistas do fenômeno, o pós-moderno é num certo sentido, sem tempo, passado, presente e futuro coexistem, e assim todas as repetições são mentiras e todas as diferenças, ilusões. Também o espaço e a matéria adquirem novas dimensões. A pessoa entra num novo circuito e a verdade sofre mudança de paradigma: é verdade aquilo que eu creio ser verdade. Diante desse panorama, os ritos, que são por si mesmos momentos de recolhimento de todas as forças em vista da estruturação dos próprios campos simbólicos para afirmar o espaço organizado, podem ter alguma consistência? Podem ainda pretender para si o significado do rito como ordem cósmica?

A religião interpreta o processo da cultura, ela expressa aquilo que é importante no processo cultural.

A organização da consciência é, significativamente, a questão central da cultura. Os valores que sustentamos, nossas visões de mundo, as decisões que tomamos, se origina no modo como nossa consciência está organizada. A dimensão psicológica da personalidade atua como um filtro para nossos dados de entrada genéticas e culturais, selecionando aquilo ao qual daremos mais atenção e pelo qual seremos influenciados. Essa função de filtro, assim como a tomada de decisões, está na base da organização da consciência. No clássico trabalho, as Formas Elementares da Vida Religiosa, o sociólogo Emile Durkheim reconhece que a religião, acima de tudo, diz respeito ao modo como organizamos a nossa compreensão da realidade e, nesse caso, ela é precursora da ciência e não sua antítese.

“A religião busca organizar a consciência de acordo com as mais profundas realidades da vida, que relativizam todas as outras e fazem parte do nosso ser ou não-ser no nível mais profundo” (TILLICH, 1988:3-40).

A religião compartilha a dialética da cultura ao mover-se entre os domínios da livre exploração e da memória, entre o que é novo e a sabedoria herdada do passado. A religião é desafiada a equilibrar ambos os domínios. O estudo científico da religião tende a enfatizá-la como um receptáculo da sabedoria herdada. A maioria dos antropólogos considera a religião um fator de preservação da cultura. As comunidades religiosas, em geral, concordam com esse veredicto científico.

Os rituais religiosos, como todos os outros rituais, possuem diversos significados e não comunicam somente mensagens relacionadas com o sobrenatural, mas também com o econômico, o social , o lúdico, o étnico, a identidade e todo o sistema cultural daqueles que neles estão envolvidos.

Analisar a religião dentro de um prisma antropológico-cultural impõe, antes de tudo, a noção de que qualquer manifestação a ela relacionada é legítima.

O fenômeno religioso é uma realidade viva que se modifica inter-relacionado com a economia, com a política, com as formas de organização da sociedade, com as mudanças ecológicas e com todos os elementos que constituem a cultura.

A arte, no contexto das religiões, permeia praticamente todos os seus momentos, desde a construção do texto sagrado, que passa pela metáfora poética a fim de exprimir por meio de seu símbolo aquilo que é inexprimível de outra maneira, até a construção de seu espaço, por meio da arquitetura, que promove a transformação do lugar a fim de que o sagrado seja expresso em uma localidade, uma espacialidade construída e definida pelos seres humanos, ou ainda na delimitação de uma espacialidade natural que se torna lugar privilegiado de encontro com o divino. Exemplos: a construção de uma mesquita, com seus minaretes que apontam para o céu, onde simbolicamente habita Deus, ou uma montanha que em seus contornos e belezas naturais torna-se a expressão do próprio corpo divino.

As pinturas nos templos, as cores, vestimentas, aromas, sabores, sons e a própria construção dos templos revelam de maneira estética e, portanto, artística- mensagens sobre o transcendente/imanente e visa a proporcionar uma experiência religiosa.

Nota-se, do mesmo modo, que questões econômicas evidenciam-se na maneira como as pessoas fazem uso das criações de formas artísticas que as tradições geram, preservam e veiculam para seus seguidores. Templos tornam-se cada vez mais suntuosos, as músicas sacras necessitam de palcos favorecidos pela tecnologia do som, as reproduções das obras sacras são comercializadas, gerando fluxo monetário para a administração dos centros religiosos.

Por outro lado, existem momentos e comunidades formadas com base em outras estruturas, e que seguem valores diferenciados. Poe exemplo: A prática da pajelança, muitas vezes com função curativa, exige a elaboração simples do espaço, pois comumente se realiza no interior da própria oca ou em algum outro lugar privilegiado da natureza, mas exige do pajé cantos precisos, movimentos, etc. Certas vezes, é o próprio pajé que faz o desenho ritual na areia, uma espécie de mandala, na qual o indivíduo que busca a cura é inserido e que define um espaço sagrado e estético, ao mesmo tempo. Nesse caso, a estética e a sacralidade se fundem em uma só expressão.

A intenção da arte, no espaço religioso é promover a experiência do contato direto com o divino.

Em sua estruturação, a música abrange a racionalidade, inclusive a matemática, mas também provoca sentimentos e estados emocionais. Pode provocar uma espécie

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