Essays.club - TCC, Modelos de monografias, Trabalhos de universidades, Ensaios, Bibliografias
Pesquisar

DESAFIOS DO ENSINO NA PERSPECTIVA DO LETRAMENTO NO ENSINO FUNDAMENTAL: REVISÃO DA LITERATURA

Por:   •  17/5/2018  •  3.897 Palavras (16 Páginas)  •  503 Visualizações

Página 1 de 16

...

Reafirmamos o que diz David Barton (1998) ao mencionar que mesmo antes de constituir um conjunto de habilidades intelectuais, “o letramento é uma prática cultural, social e historicamente estabelecida, que permite ao indivíduo se apoderar das suas vantagens”, e assim participar efetivamente, e decidir, como cidadão do seu tempo, dos destinos da comunidade a qual pertence, como também das tradições, hábitos e costumes com os quais se identifica. Por conseguinte, confirmamos que as práticas educativas devem estabelecer um elo dualista entre a proposta curricular das disciplinas do conhecimento científico com os conhecimentos populares trazidos pelos alunos a partir das atividades cotidianas carregadas de traços culturais.

Nas diferentes concepções apresentadas sobre o letramento, buscamos atentamente compreender como a dimensão individual e social no uso da leitura e da escrita, descritas por Soares (2004): como posse de tecnologias complementares aos atos de ler e escrever, no primeiro caso, e como um fenômeno cultural, no segundo, se manifesta no contexto em que a pesquisa inicial foi aplicada. Então compreendemos que na dimensão individual as tecnologias complementares são aquelas mediadas por outros indivíduos, como a alfabetização escolarizada. Enquanto que na dimensão social, a necessidade de comunicação e sobrevivência nos leva a desenvolver mecanismos comunicativos baseados em aspectos da cultura humana.

Na sociedade do conhecimento na qual estamos inseridos, o uso da língua é carregado de avaliações que vão além da sua funcionalidade. Ela é um meio de prestígio muitas vezes excludente. Segundo Kleiman (1995); Rojo (1998); Soares (2004), para que o indivíduo seja socialmente inserido, ele precisa ser capaz de compreender os usos sociais da leitura e da escrita, mesmo que nunca tenha ido à escola e passado pelo processo de alfabetização. Talvez por isso o letramento adquirido na vida fora do espaço escolar seja mais significativo e eficiente do que o proposto na escola, logo que o indivíduo é testado a todo instante sobre o significado das coisas inerentes ao seu meio e precisa estar apto a desenvolver suas funções, sobretudo comunicativas.

Pelas experiências vividas, torna-se bastante cuidadoso definir se alguém é letrado ou iletrado, uma vez que se corre o risco de padronizar poucas características – contraditórias – diante de inúmeras especificidades. Um indivíduo pode ser alfabetizado, ou seja, ter o domínio de uma tecnologia de ler e escrever, como na dimensão individual, mas não ser um sujeito letrado, isto é, não ser capaz de exercer funcionalmente a leitura e a escrita em práticas sociais.

Não se considera “alfabetizada” uma pessoa que fosse apenas capaz de decodificar símbolos visuais ou símbolos sonoros, “lendo”, por exemplo, sílabas ou palavras isoladas, como também não se consideraria “alfabetizada” uma pessoa incapaz de, por exemplo, usar adequadamente o sistema ortográfico de sua língua, ao expressar-se por escrito (SOARES, 2011, p. 16).

Muitos estudos no assunto têm mostrado a diferença entre alfabetização e letramento, mesmo que interligados no processo de codificação do idioma do usuário, diante da dicotomia de aquisição de ambos. O problema não é mais definir o que as crianças devem aprender e/ou conhecer; ou ainda, que habilidades devem adquirir para que sejam consideradas alfabetizadas numa perspectiva do letramento; e sim, o de identificar e promover as condições que as conduzam a esses conhecimentos, a essas aprendizagens, a essas habilidades. Portanto, se isso for feito dentro de uma relação de convívio social estaremos caminhando para o que se convém chamar de letramento.

Um fato comprovado no contexto vivenciado é o alfabetismo das crianças consideradas alfabetizadas.

Para ler não basta apenas conhecer o alfabeto e decodificar letras em sons da fala. É preciso também compreender o que se lê, isto é, acionar o conhecimento de mundo para relacioná-lo com os temas do texto, inclusive o conhecimento de outros textos/discursos (intertextualizar), prever, hipotetizar, inferir, comparar informações, generalizar. É preciso também interpretar, criticar, dialogar com o texto: contrapor a ele seu próprio ponto de vista, detectando o ponto de vista e a ideologia do autor, situando o texto em seu contexto (ROJO, 2009, p. 44).

Se considerarmos esses conceitos e relacionarmos às capacidades leitoras encontradas nas salas de aulas dessa realidade presenciada, não ficaremos muito otimistas quanto aos resultados obtidos. Para Rojo (2009), isso demonstra que a escola parece estar ensinando mais regras, normas e obediência a padrões linguísticos que o uso flexível e relacional de conceitos, interpretação crítica e posicionada sobre fatos e opiniões, como também, a capacidade de defender posições e de protagonizar soluções.

Para isso, faz-se necessário olhar a alfabetização e o letramento de uma forma mais crítica e reflexiva. As especificidades que envolvem o processo de aquisição da língua, principalmente na sua forma escrita, são vistas como um instrumento carregado de sentidos, sejam estes sociais, culturais ou históricos. A maneira de ver e pensar sobre o letramento não mudou somente o ensino dentro da sala de aula, como também, o mundo que existe fora dela dentro do ensino. É mais do que necessário avançar no campo das discussões sobre esse assunto de enorme relevância para a constituição dos currículos escolares que urgem por mudanças ideológicas e práticas quanto à formação de indivíduos letrados capazes de entender o mundo nas suas mais diferentes formas.

[...] é preciso compreender a realidade enquanto processo em movimento, enquanto um processo contraditório e dialético em que o todo não se explica fora das partes e as partes não se compreendem fora do todo; portanto, é preciso agir sobre o todo agindo simultaneamente sobre as diferentes partes (SAVIANI, 1991, p. 55).

Assim, uma ampla discussão com todas as instâncias envolvidas na educação escolar desse contexto específico precisa ser estabelecida para encontrar soluções cabíveis e realizáveis ao encontro de um processo de alfabetização e letramento mais eficaz.

2.1 Dos aspectos positivos e negativos da alfabetização pelo método de letramento

Analisando mais detidamente os aspectos positivos e negativos relacionados à pesquisa, observamos que, pela complexidade envolvida na aquisição e apropriação do código escrito, para que o letramento seja atingido de maneira sistemática é necessário que a alfabetização escolar aconteça, mesmo

...

Baixar como  txt (26.5 Kb)   pdf (77.6 Kb)   docx (24.1 Kb)  
Continuar por mais 15 páginas »
Disponível apenas no Essays.club