BULLING NA ESCOLA: FALTA DE LIMITES E AGRESSIVIDADE
Por: Hugo.bassi • 20/6/2018 • 6.230 Palavras (25 Páginas) • 451 Visualizações
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Além disso, é necessário entendermos que brincadeiras normais e sadias são aquelas nas quais todos os participantes se divertem. Quando apenas alguns se divertem a custa de outros que sofrem, isso ganha outra conotação bem diversa de um simples divertimento. Nessa situação específica, utiliza-se o termo bullying escolar, que abrange todos os atos de violência (físico ou não) que ocorrem de forma intencional e repetitiva contra um ou mais alunos, impossibilitados de fazer frente às agressões sofridas.
O bullying tornou-se um problema crônico nas escolas de todo o mundo. Um dos casos mais conhecidos e com fim trágico ocorreu nos Estados Unidos, em 1999, no colégio Columbine High School, em Denver, Colorado. Os estudantes Eric Harris, de 18 anos e Dylan Klebold de 17, assassinaram 12 estudantes e um professor. Deixaram mais de vinte pessoas feridas e se suicidaram em seguida. O que teria sido o motivo para o ataque seria vingança pela exclusão escolar que os dois teriam sofrido durante muito tempo.
A palavra bullying, de origem inglesa e ainda sem tradução no Brasil, ainda é pouco conhecida do grande público. Se recorrermos ao dicionário encontraremos as seguintes traduções para a palavra bully: indivíduo valentão, tirano, mandão, brigão. Os bullies (ou agressores) são responsáveis por atitudes de violência física ou psicológica contra uma ou mais vítimas que se encontram impossibilitadas de se defender. Seja por uma questão circunstancial ou por uma desigualdade subjetiva de poder. Em geral um bully domina a maioria dos alunos de uma turma e "proíbe" qualquer atitude solidária em relação ao agredido.
Algumas atitudes podem se configurar em formas diretas ou indiretas de praticar o bullying. Porém, dificilmente a vítima recebe apenas um tipo de abuso, normalmente, os comportamentos inadequados dos agressores costumam vir em grupos. Assim, uma mesma vítima pode sofrer variadas formas de agressões tais como: verbal (insultar, xingar), física (bater, ferir), psicológica ou moral (humilhar, isolar), sexual (assediar, abusar) e virtual (ciberbullying) realizado através de celular e internet.
Além de os agressores escolherem uma pessoa que se encontra em franca desigualdade, podendo ser de nível físico ou de poder aquisitivo, e geralmente também já apresenta uma baixa autoestima. A prática de bullying agrava o problema que já existe, assim como podem ocorrer casos graves de transtornos psíquicos e/ou comportamentais que, muitas vezes, trazem prejuízos irreversíveis. No cotidiano escolar, observa-se que não somente crianças e adolescentes sofrem com essa prática absurda, como muitos adultos passam por aflições intensas, as quais muitas vezes são decorrentes advindas de uma experiência traumática da época escolar. Dentre esses problemas: sintomas psicossomáticos (insônia, náuseas, tonturas etc.), transtorno do pânico, fobia escolar (medo intenso de freqüentar a escola), fobia social (timidez patológica), ansiedade generalizada, anorexia, bulimia, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), esquizofrenia e, em casos mais dramáticos, homicídio e suicídio.
Como se não bastasse todo o sofrimento e adoecimento das vítimas, diversos estudos apontam para o fato de os agressores possuírem maior probabilidade de praticarem atos de delinqüência e criminalidade. A maioria deles se comporta assim por uma nítida falta de limites em seus processos de educação. A ausência de um modelo educativo que associe auto-realizarão pessoal com atitudes socialmente produtivas e solidárias faz com que os agressores se sintam gratificados somente com atitudes egoístas e maldosas, que lhes conferem notoriedade e autoridade sobre os demais alunos. Outros adotam comportamentos transgressores por estarem vivenciando dificuldades circunstanciais em seus relacionamentos familiares (doenças graves, separação dos pais, morte de um parente querido etc.). Por fim, encontramos também uma minoria de jovens agressores que tenha a transgressão pessoal e social como base de sua personalidade. Suas atitudes expressam uma maneira de sentir na qual o outro tem a única função de lhe proporcionar diversão, status e poder.
Não há dúvida de que o fenômeno bullying estimula a delinqüência e induz a outras formas explícitas de violência, capazes de produzir, em níveis diversos, cidadãos estressados, com baixa autoestima e reduzida capacidade de autoexpressão. Além disso, como já mencionado, as vítimas de bullying estão propensas a desenvolver doenças psicossomáticas, transtornos mentais leves e moderados e até psicopatologias graves.
É preciso ainda reiterar a interferência nefasta que o bullying produz no processo de aprendizagem e de socialização das crianças e jovens. Para algumas vítimas, mesmo após a interrupção do bullying, as conseqüências, causadas por essa violência, tendem a se propagar por toda a vida em decorrência das experiências traumáticas difíceis de serem removidas da memória. Em caso mais graves, quando a violência é intensa e contínua, a vítima pode chegar a cometer suicídio ou atos de heteroagressão e autoagressão (homicídio seguido de suicídio).
Desta forma, os profissionais de educação, de saúde mental, de assistência social, da área do Direito (como juízes, promotores, delegados de polícia) e os agentes policiais devem adquirir o máximo de conhecimento sobre o fenômeno bullying. Somente dessa maneira, ao se depararem com o problema, poderão contribuir para a busca de soluções eficazes.
O diagnóstico do bullying deve ser feito o mais precocemente possível, em cada realidade escolar. A partir daí, é preciso se estabelecer um diálogo amplo entre todos os envolvidos em cada caso específico. Agir de forma rápida e coesa tem o objetivo de evitar que os jovens envolvidos com os comportamentos bullying assimilem uma mensagem social equivocada de que os problemas podem ser resolvidos com violência ou com a anulação moral dos mais fracos.
A luta antibullying deve ser iniciada desde muito cedo, já nos primeiros anos de escolarização. A importância da precocidade das ações educacionais se deve ao incalculável poder que as crianças possuem para propagar e difundir idéias. Elas facilmente se transformam em agentes multiplicadores capazes de "educar", por vias alternativas, seus familiares e funcionários domésticos, criando-se assim um círculo vicioso no empenho pela paz.
Nessa luta épica, cujo cenário principal é a escola e os atores principais são os profissionais de educação, estão em jogo os bens mais preciosos da humanidade: a solidariedade, a tolerância, a justiça, a dignidade, a honestidade, a amizade, o respeito às diferenças
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