MATEMÁTICA NO COTIDIANO E NA PRÉ-ESCOLA
Por: Lidieisa • 27/9/2018 • 2.481 Palavras (10 Páginas) • 324 Visualizações
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Outro grande problema refere-se ao fato de que a matemática é frequentemente tratada como sendo uma área do conhecimento humano desligada da realidade e do cotidiano onde o indivíduo encontra-se inserido. Sendo assim, é comum ouvirmos nossos alunos perguntarem: “Para que serve isso”? “Onde vou utilizar aquilo”? Em muitos casos, tais perguntas não chegam sequer a ser respondidas. Com isso, teremos mais dúvidas, mais conflitos e mais fracassos estudantis.
Por outro lado, se nos dirigirmos a certas escolas e observarmos alguns professores de matemática entrarem na sala de aula, verificamos que eles colocam-se imediatamente à frente da turma diante do quadro-negro. Parecem encontrar, neste local, seu ponto de apoio e de referência com relação à turma. Assim, estes professores passam a dissertar sobre seus conteúdos, propõem questões, formalizam algumas perguntas à classe e, seguros, podem até efetuar algumas demonstrações, exposições, correções, etc. A postura destes professores pode ser classificada, sem sombra de dúvidas, como uma postura ou metodologia tradicional.
Nas escolas onde professores de matemática trabalham com o ensino tradicional, podemos observar que o processo ensino-aprendizagem dos alunos torna-se mera transmissão da matéria, ou seja, o professor “transmite” e os alunos “recebem”. Esta atividade de transmissão e recepção vem acompanhada da realização repetitiva e puramente mecanizada de exercícios, acarretando, por parte do aluno, futuras memorizações de como estes exercícios foram inicialmente desenvolvidos.
De forma mais abrangente, o professor reproduz a matéria para a classe e, por sua vez, os alunos respondem o “questionário” do professor. E a prova? Ah, cabe agora os alunos decorarem tudo o que foi dito, feito e esquematizado pelo professor. Este, então, se esquece de que cada educando é um ser humano e como tal possui capacidades natas, como pensar.
Mas há aqueles alunos que ainda tentam apresentar suas próprias soluções de forma a solucionar os problemas propostos pelo seu professor. Entretanto, tais considerações ou são ignoradas ou quando não, são consideradas pelo professor como não sendo adequadas. Nesse momento, o professor então apresenta o “modo correto” de resolver o problema e os alunos, por sua vez, esquecem suas sugestões; apagam suas anotações e copiam o “modo correto” fornecido pelo professor.
Neste tipo de contexto, a ênfase na disciplina de matemática é dada ao “é assim que se faz” ao invés de “pense um pouco sobre isso” ou “que relação poderá existir entre este problema e os conhecimentos que você possui, que já foram anteriormente adquiridos por você”?
Diante destes fatos, podemos concluir que muitas vezes a atividade mental de nossos alunos é subestimada, privando-os de desenvolverem suas potencialidades cognitivas, suas capacidades e habilidades. Devemos estar cientes de que o ensino da matemática deve ser algo mais do que mera transmissão da matéria, deve ser algo mais do que mera cópia dos exercícios resolvidos pelo professor no quadro-negro, deve ser algo mais do que mera memorização.
Outro fator presente em nossas escolas que afeta o aprendizado de matemática se refere ao fato de que muitos professores possuem excessiva preocupação em apenas “vencer” o conteúdo a qualquer custo. Para estes professores, o importante é a matéria que se encontra no livro didático que foi adotado no início do ano letivo. De forma alguma estou negligenciando aqui a importância do livro. Apenas acredito que ele deva ser usado pelo professor de matemática como recurso auxiliar. Por essa razão, é fundamental que o docente domine muito bem a disciplina que está ministrando, além, é claro, de possuir forte discernimento para saber selecionar o que realmente é básico e indispensável para o desenvolvimento da capacidade de pensar dos alunos.
Outro problema grave que pode ocorre em salas de aulas é o fato de que o ensino somente transmitido não toma muitas vezes o cuidado de verificar se realmente os alunos encontram-se preparados para enfrentar assuntos novos a serem transmitidos pelo professor. Nestes casos, o acúmulo de dúvidas por parte dos alunos é quase que inevitável. Este problema, por um lado, também deve ao fato do professor utilizar a metodologia tradicional de ensino.
Talvez, dos problemas mais corriqueiros que o professor enfrenta em sala de aula, o mais difícil de solucionar seja o da falta de motivação dos alunos. Consequentemente, este problema produz atitudes de resistência àquilo que está sendo ensinado. E assim, diante de perguntas tais como: “Eu preciso estudar isto para a prova”?, “Isto é importante”?, o professor tende a desistir de melhorar sua atuação e então passa a racionalizar, e o seu discurso passa a ser: “Os estudantes não estão interessados em minhas aulas porque lhes faltam pré-requisitos necessários à compreensão da minha matéria”.
Agravando mais ainda a situação, alguns professores utilizam o método de distribuir recompensas, na tentativa de motivar esses alunos a “participarem” de suas aulas. Podemos observar que o que está acontecendo aqui é a antológica frase “Eu finjo que ensino e vocês fingem que aprendem”. Mas e se as recompensas não funcionarem? Bem, o professor passa a utilizar um outro método para conseguir a atenção dos alunos, ou seja, o professor passa a fazer ameaças – implícitas ou explicitas. Mas e se isso também não funcionar? Pode-se recorrer para o último estágio – a punição. Resultado, mais rebeldia, insatisfação, apatia com relação ao professor e a disciplina de matemática.
Lembro-me, neste momento, da história do projeto dos frigoríficos de avicultores que, para facilitar a criação e o abate de aves, estabelecem certas regras que deveriam as praticadas pelos avicultores. O objetivo era colocar em prática a Gestão da Qualidade Total e facilitar a morte em série.
Não é difícil fazermos uma relação entre o projeto dos frigoríficos e o sistema educacional. Isso se verifica no conteúdo passado aos alunos durante séculos, sempre pronto, balanceado, mastigado. Também se verifica esta relação na disciplina exigida em sala de aula, no silêncio, na obediência.
Como resultado deste emaranhado de problemas, encontramos de um lado alunos desinteressados, considerando a matemática como um processo de aprendizagem árdua, mas necessária para a tão sonhada aprovação, e por outro, professores desgostosos de seus alunos pois, segundo eles, estes alunos não sabem nada do que foi supostamente “trabalhado” em sala de aula.
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