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O Discurso Científico

Por:   •  22/3/2018  •  29.494 Palavras (118 Páginas)  •  246 Visualizações

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discurso jornalístico, considerado nestes termos, pode ser exemplificado com maior clareza pelos editoriais de jornais. Os editoriais são textos destituídos de compromissos com a imparcialidade e com a objetividade, pois expressam a visão da empresa a respeito de algum assunto em evidência naquele momento. Os editoriais não são, portanto, textos informativos. São chamados de opinativos ou apreciativos.

O discurso científico, muito pelo contrário, procura excluir a presença de apreciações, dando uma condição especial àquelas que, apesar disso, apareçam nele. Os textos científicos comprometem-se com as demonstrações ao pretenderem provar, desenvolver conhecimentos e convencer. Diz-se, então, que as características do conhecimento científico podem nortear a elaboração de trabalhos acadêmicos, como veremos mais adiante.

Observe ainda que a opinião tem sido tradicionalmente refutada pelos estudiosos das ciências. O que serve de sustentação para a opinião?

Segundo Hühne (1988), estudiosos renomados entenderam que a opinião lança mão de exemplos resgatados ao acaso para sustentar raciocínios (HÜHNE, 1988). “A opinião pensa mal; ela não pensa: ela traduz necessidades em conhecimento. Ao designar os objetos por sua utilidade, ela se impede de conhecê-los”( BACHELARD apud HÜHNE, 1988, Idem, p.59) A opinião é tendenciosa e, por isso, elabora discursos questionáveis. “A opinião costuma trocar a parte pelo todo, com exemplos casuais e isolados, inventa fatos tomando o contingente e imaginário pelo real” (HÜHNE, 1988, p. 57)

2.1 Discurso Científico e seus Principais Referenciais

Os textos científicos preocupam-se com a objetividade e a clareza das declarações, secundarizando o objetivo artístico. A arte com palavras é típica do texto literário, no qual a realidade é fictícia, sendo recriada pelas afetividades, pelas qualificações. O emissor emprega vocabulário abstrato sem indicação do sentido para o receptor da mensagem.

Diferentemente das livres interpretações literárias, o discurso científico tem “preocupação central com a correção, a exatidão e a autenticidade dos dados e dos raciocínios desenvolvidos. Escrever textos científicos é, antes de tudo, comunicar corretamente dados e informações corretas.” (SANTOS, 2007, p.36). A preocupação com a clareza, na maior parte das vezes, obriga o estudioso a indicar os limites, a valorizar algum aspecto em acordo com o ponto de vista adotado. Não há, assim, neutralidade nos trabalhos científicos. Demo (2000, p.24) nos diz que

Não vemos a realidade de modo neutro, mas postados em algum lugar da sociedade, tendo por trás de si história que já passou, e à frente de si história que está por vir. Ideologia é o conhecimento forjado para justificar o poder, nosso ou de outrem, usando para tanto, de preferência, conhecimento científico, donde provém sobretudo a dificuldade de distinguir os dois, muitas vezes. Ideologia inteligente é a que sabe posar de ciência,

para provocar tanto maior acato, de preferência sem resistências. Possivelmente, a referência mais adequada para entender ideologia é sua relação com o fenômeno do poder, tanto para mostrar como se diferencia, como também para mostrar como se iguala ao conhecimento científico. Diferencia-se porque, enquanto o conhecimento científico busca usar metodologias que – pelo menos na intenção – salvaguardam a captação da realidade, a ideologia dedica-se a produzir discurso marcado pela justificação. Iguala-se, porém, porque a presença do poder é sempre inegável também no conhecimento científico, pela simples razão de que é, cada vez mais, fonte de poder.

Os trabalhos acadêmicos constituem-se em textos de comunicação e divulgação de estudos resultantes da investigação metódica. E a importância do rigor ultrapassa a utilização dos métodos e técnicas de pesquisa, alcançando a produção e a apresentação gráfica dos textos científicos1. Neste item, trataremos especialmente do rigor imprescindível à elaboração dos textos científicos, associando-o à caracterização desse tipo de conhecimento.

Diz-se, comumente, que o conhecimento científico é racional, devendo alicerçar-se em conceitos e em ideias. Nos trabalhos acadêmicos, os verbos adequados para referirem-se ao entendimento do estudioso (que é quem escreve) são: compreender, entender e similares. O uso do verbo acreditar torna-se inapropriado, por relacionar-se a fé, à revelação, ao dogma. Da mesma forma, ocorre com o emprego do verbo achar, que diz respeito a um conhecimento superficial, de quem tem apenas uma rápida e infundada impressão sobre algo. Lembre-se de que o discurso científico deve ser explicativo, analítico e verificável, sendo validado pela realização da prova da experiência ou da demonstração. ( LAKATOS; MARCONI, 1991) As declarações, então, necessitam de evidências, de provas, para serem validadas e, portanto, aceitas por seus pares. Entretanto, algumas exceções precisam ser consideradas, a saber:

• quando expressam algo universalmente aceito;

• quando já são evidentes por si mesmas;

• quando são respaldadas por autoridade (testemunhos autorizados).

1 As aulas 7 e 8 desta disciplina tratam da apresentação gráfica do TCC.

As citações são também conhecidas como testemunhos autorizados porque, além de emprestarem ao texto maior credibilidade, devido aos autores considerados, facilitam a aceitação das ideias pelos pares. As citações referem-se à caracterização do conhecimento científico como sistemático e acumulativo, por se basearem em saberes demonstrados, confirmados e reconhecidos pela comunidade acadêmica.

Assim, dois pontos centrais destacam-se na elaboração dos textos acadêmicos e científicos: as citações e o vocabulário. Lembre-se de que, muito provavelmente, você será identificado e avaliado de acordo com os autores citados e a terminologia usada. Atividade 1 – Atende aos Objetivos 1 e 2

Leia, com muita atenção, o editorial abaixo, publicado recentemente no jornal O Globo.

Carências na Saúde e na Educação

“É uma tradição na administração pública recorrer-se ao diagnóstico da ‘falta de recursos’ para explicar todas as mazelas. País hoje de renda média, mas já classificado de ‘subdesenvolvido’, o Brasil tem, é verdade, carências, mas, por contar com um dos oito maiores PIBs do mundo, e uma carga tributária(36% do PIB) superior à de qualquer outra economia emergente, a justificativa

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