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Resenha Crítica - Livro O Pato, a Morte e a Tulipa

Por:   •  27/5/2018  •  2.031 Palavras (9 Páginas)  •  646 Visualizações

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É uma narrativa curta contada em páginas simples e duplas, sendo todas elas compostas por ilustrações e texto verbal escrito. O uso de cores frias, com predominância do tom pastel, remete a um lugar sem vida, sem brilho, envelhecido. São ilustrações feitas com colagens e traços de lápis que dão um toque sutil para um assunto tão sério, tratado nesta obra de forma tão pura. Ainda sobre as ilustrações podemos destacar que o arranjo na página traz uma disposição especifica, com imagens grandes no centro da página e o texto escrito geralmente ocupando a parte superior da página. No que se referem aos recursos técnicos, todas as ilustrações estão enquadradas pela borda da página, em sua grande maioria estão na perspectiva clássica, e algumas (a exemplo da página 8) estão na perspectiva oblíqua. O enquadramento completa-se com os planos em que as imagens se apresentam. Esta obra traz ilustrações no plano geral (FIGURA 1.2), no plano médio (FIGURA 1) e no plano americano (FIGURA 2.1), exemplificadas em anexo.

O autor inicia a obra com um fato acerca do pato: “Fazia tempo que o pato sentia que algo não ia bem”. Nesse momento, o pato observa que a morte o está acompanhando. A morte é apresentada de forma até amigável com seu pijama quadriculado e sapatilhas pretas, carregando consigo uma tulipa roxa. A reação do pato mediante a morte que o seguia é de susto, mas nada alarmante. Com os olhos arregalados e o corpo ereto o pato pergunta: “você vai me levar agora?”. E a morte diz de forma sutil, que sempre esteve por perto, por precaução. O pato na sua inocência convida a morte para nadar no lago. A morte não é uma adepta da água, e logo depois do mergulho, sente muito frio e o pato se oferece para esquentá-la, porém “ninguém jamais havia feito a ela uma proposta parecida”. A partir daí o pato e a morte, estreitam um laço de amizade. Dormem e acorda juntos, no dia seguinte da ida ao lago, o pato acordo feliz a vida porque não tinha morrido, e morte fica até contente pelo pato. Em certo momento o pato convida a morte para subir em uma árvore, e lá do alto o pato pensa um pouco triste que o rio ficará sozinho e solitário quando ele morrer (neste momento o pato começa de fato a entender que ele morrerá um dia), e a morte como pode algumas vezes ler mente, tranquilizou o pato dizendo que: “quando você estiver morto, o lago também não vai estar mais lá – pelo menos não pra você”, nos mostrando que todas as coisas ficam no mesmo lugar quando a morte chega, porém somos nós quem não estaremos no mesmo lugar. Depois deste diálogo, o pato começa a ceder, neste momento passa um corvo voando sem rumo, sozinho, um aspecto sombrio como se quisesse falar algo ao pato, como se fosse um prenuncia de que a vida do pato estaria bem mais perto de ter um fim do que ele estava pensando. Nas semanas seguintes eles iam cada vez menos ao lago, passavam o maior tempo sentado na grama, falando muito pouco, em uma noite o pato diz que está com frio, e pergunta a morte: você não quer me esquentar um pouco? A ilustração que acompanha essa pergunta é do pato e da morte de mãos dadas, olhando um para o outro, com um olhar tão inocente, tão amigo, como em nenhuma outra página foi ilustrado antes, uma imagem que traz uma leveza, um carinho, uma parceria, uma cumplicidade tão grande neste olhar que por alguns minutos esquecemos que estamos falando da morte. A página seguinte traz um fundo na cor azul, relatando que algo aconteceu, a morte sentada ao lado do pato, observando com um olhar puro o corpo do pato estirado no chão, sem esboçar nenhum movimento, a expressão da morte traz um tom de tristeza (tristeza porque por alguns minutos a morte conseguiu esquecer-se do seu proposito, quando vivenciou um pouco da vida do pato, construindo uma relação amigável). Uma neve fina cai sobre os dois, como um sinal de que o inverno, o luto e o tempo de recolhimento chegaram. “A morte alisou algumas penas que tinham se arrepiado um pouquinho” (mostrando seu carinho com o pato), com a tulipa na boca pega o pato em seus braços e caminha em direção ao lago, o coloca na água, e a tulipa em cima do seu corpo, dando-lhe um “leve empurrãozinho”. À beira do rio imenso, a morte observa o pato aos poucos desaparecer, ficou parado olhando por algum tempo, e “por pouco a morte não ficou triste”, novamente o vinculo criado o pato mexe com a morte. A última página mostra a morte arrodeada por uma raposa e um lebre, como sinônimo de que a morte é parte do ciclo da vida e que vem para todos. Essa última ilustração ainda traz um elemento que foi citado no comecinho da história quando a morte fala ao pato, que a vida é responsável por cuidar dos acidentes e de todas as outras coisas que podem tirar a vida do pato, como exemplo a raposa, já que as aves fazem parte da cadeia alimentícia delas. Agora o autor traz a morte caminhando entre a caçada da raposa em busca da lebre, mostrando mais uma vez que a vida é encarregada de tudo e que a morte sempre está por perto, por via das dúvidas.

O livro é destinado às crianças, porém, se qualquer pessoa de outra faixa-etária lê-la, também ficará sensibilizada e apaixonada por esta belíssima obra literária. Nesta, o autor narra uma história quase inacreditável, de um pato que se torna amigo da sua morte. Como assim? É isso mesmo, por algum instante a morte não veio com um caráter de tristeza, de saudade, de medo, ela foi apresentada com suavidade, maciez e sensibilidade. Mesmo sabendo como é difícil lidar com a morte, sobretudo quando chega o momento de ter que explicá-la à criança, se as ensinarmos desde pequenas (proporcionando leituras desse porte) que a morte se trata de um processo natural da vida, com certeza iremos fazer da morte um momento de despedidas (o que de fato ela é) ao invés da tragédia e de angústia (como normalmente tendemos a fazer).

Obra mais que indica para qualquer pessoa, de qualquer idade, pois o escritor trouxe a morte com perfeição e naturalidade. Tratando-a não como uma vilã causadora de dor, martírio e desespero, pelo contrário, a morte trazida por ele era até afetuosa. “A literatura dispensa adjetivos (...) A literatura te afeta, você não é o mesmo depois de ler um poema, um conto ou um romance” (PARREIRAS, 2009). Com base em Parreiras (2009), esta obra cumpre o seu papel com perfeição, por conseguir transmitir a morte, que é algo temido pelos adultos, de uma forma simples e sucinta para as crianças, sem alardes, sem meio termo. Apresenta a morte com excelência, nos colocando em posição de repensar sobre como tratar de um assunto corriqueiro, de um assunto que está presente em nossa vida, mas que é tão escondido por nós, com relação às crianças e a nós mesmos. Depois de ler uma obra deste porte, com esta

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