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BRINQUEDO E CULTURA GILLES BROUGÈRE - RESUMO

Por:   •  16/5/2018  •  9.998 Palavras (40 Páginas)  •  514 Visualizações

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O que caracteriza a brincadeira é que ela pode fabricar seus objetos, em especial, desviando de seu uso habitual os objetos que cercam a criança; além do mais, é uma atividade livre, que não pode ser delimitada. Brincar com uma bonequinha ou um automóvel em miniatura, falta uma definição precisa da utilidade, só se podendo dizer que ela tem relação com o fato de que o brinquedo é um automóvel ou uma representação humana, o que é voltar à imagem.

Se analisarmos o brinquedo em relação à função (uso em potencial) e ao valor simbólico (significação social produzida pela imagem), podem-se distinguir aqueles nos quais predomina a função daqueles em que o valor simbólico parece essencial sem que se possa, no entanto, eliminar sua função. Sem função, o objeto pode perder seu sentido usual, ou seja, perde sua utilidade.

O brinquedo não se deixa incluir nessa análise: ele é marcado, de fato, pelo domínio do valor simbólico sobre a função, ou seja, a dimensão simbólica é a sua função principal. Esse domínio aproxima-o da obra de arte e nos indica a grande riqueza simbólica da qual ele dá testemunho. Porém, nem por isso, ele é não funcional, na medida em que essa dimensão funcional vem, justamente, se fundir com seu valor simbólico, com sua significação enquanto imagem.

Precisamos, em primeiro lugar, delimitar o que é legítimo chamar de brinquedo, apoiando-nos no uso comum da palavra.

É claro que os jogos de sociedade não são puras expressões de princípios lúdicos. Após o Monopólio, os jogos são cada vez mais a representação de um aspecto da vida social. Eles associam valor simbólico e função, como o jogo de xadrez.

O brinquedo é, antes de tudo, de um objeto que a criança manipula livremente, sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra natureza.

Podemos destacar como diferença entre o jogo e o brinquedo:

O brinquedo é um objeto infantil e falar em brinquedo para um adulto torna-se, sempre, um motivo de zombaria, de ligação com a infância. O jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto à criança quanto ao adulto: ele não é restrito a uma faixa etária. Os objetos lúdicos dos adultos são chamados exclusivamente de jogos, definindo-se, assim, pela sua função lúdica.

O brinquedo é um objeto distinto e específico, com imagem projetada em três dimensões, cuja função parece vaga. Com certeza podemos dizer que a função do brinquedo é a brincadeira. Mas, desse modo, definimos um uso preciso.

A brincadeira não pertence à ordem do não funcional. Por detrás da brincadeira, é muito difícil descobrir uma função que poderíamos descrever com precisão. O que caracteriza a brincadeira é que ela pode fabricar seus objetos, em especial, desviando de seu uso habitual os objetos que cercam a criança; além do mais, é uma atividade livre, que não pode ser delimitada.

No brinquedo, o valor simbólico é a função. A brincadeira é a associação entre uma ação e uma ficção, ou seja, o sentido dado à ação lúdica.

A brincadeira não pode estar limitada ao agir: o que a criança faz tem sentido, é a lógica do fazer de conta e de tudo o que Piaget chama de brincadeira simbólica (ou semiótica). O objeto tem o papel de despertar imagens que permitirão dar sentido a essas ações.

O brinquedo é, assim, um fornecedor de representações manipuláveis, de imagens com volume: está aí, sem dúvida, a grande originalidade e especificidade do brinquedo que é trazer a terceira dimensão para o mundo da representação. Essa imagem manipulável deve ser adaptada à criança tanto no que diz respeito ao seu conteúdo quanto na sua forma, para ser verdadeiramente reconhecida como brinquedo.

Indo em direção ao jogo, a função vai levá-lo para a representação: é o que encontramos nos objetos que chamamos indiferentemente de jogo ou de brinquedo de descoberta.

É preciso considerar dois polos no universo dos objetos lúdicos: do jogo ao brinquedo, do domínio da função ao domínio do símbolo.

O polo brinquedo, que nos interessa mais particularmente, é marcado pelo domínio do simbólico sobre o funcional, até pelo fato de que o simbólico é a própria função do objeto.

Importa, por trás de tudo, a função expressiva do objeto. O objeto deve significar, deve traduzir um universo real ou imaginário que será a fonte da brincadeira.

Um exemplo de valor da imagem que se torna função nos é dado pela predileção pelo fantástico e monstruoso nos bonecos destinados aos meninos. É preciso analisar essa imagem como essencial ao brinquedo: está na origem do sucesso de bonequinhos como os “Masters of Universe — He Man" e, mais do que o quadro, aparece como o verdadeiro estímulo da brincadeira, permitindo dar um sentido às ações, e até construir ações (magia) em relação ao universo de referência.

O aspecto simbólico no brinquedo não deve ser tomado como uma característica independente do contexto econômico no qual ele evolui. O brinquedo vem sendo objeto de publicidade na televisão. Esse fato tem incidência sobre o que ele é. As pressões da propaganda na televisão, a publicidade, assim como os desenhos animados que dão origem aos personagens de brinquedos, levam a aumentar, ainda mais, a dimensão expressiva e simbólica do brinquedo, pela qual ele vai se diferenciar de todos os outros. Consequentemente, o grande sucesso de alguns brinquedos origina-se na concepção de novas imagens.

Hoje, grande parte dos sucessos e fracassos das empresas multinacionais podem ser exemplificados pela adequação do conteúdo simbólico dos brinquedos, cuja concepção é resultado de uma produção de imagens.

Os brinquedos mais próximos da brincadeira, ou seja, que valorizam uma abordagem funcional da brincadeira, precisaram, igualmente, trabalhar na elaboração da forma de seu produto.

O brinquedo se tornou uma indústria da imagem, especialmente sob a pressão da televisão, que é hoje o único meio de se dirigir diretamente à criança.

Os brinquedos utilizam abundantemente, o animismo e o antropomorfismo, transformando os objetos em seres animados e os animais em representações infantis. Códigos que dão conotação da infância, na nossa sociedade, são amplamente usados (como cores, por exemplo). O brinquedo para bebês evoca a exaltação da infância que está na base de sua imagem social. Através do brinquedo, os pais marcam a importância que eles dedicam a seu filho. Assim,

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