ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por: YdecRupolo • 24/10/2018 • 6.042 Palavras (25 Páginas) • 408 Visualizações
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e da escrita. Partindo dessa ampliação, o rito de alfabetização ultrapassa o ato de ensinar habilidades de codificação e decodificação do sistema alfabético, ele passa a abranger também o domínio dos conhecimentos permitindo assim a utilização dessas habilidades em suas práticas sociais. O termo letramento pode ser encontrado no cotidiano da criança antes mesmo que ela tenha tido a oportunidade de manusear um lápis ou até mesmo antes do conhecimento das letras e as formas de escrever. Esse fator ocorre sempre partindo de suas vivências cotidianas que pode se dar tanto no contato com a família, sociedade ou mesmo com seus pares, a participação dos pequenos nessa pratica se dá tão intensamente, através de diversas situações ou até mesmo no contato com diversidades de materiais escritos em variados locais ou formas de utilização. Devido a esses fatores podemos afirmar que a educação infantil se torna um espaço propício e extremamente importante para que esse trabalho seja iniciado na vida acadêmica da criança, uma vez que é ai que tudo começa, levando em consideração que os conhecimentos adquiridos em tal faixa etária receberão uma contextualização e compreensão de acordo com a função a que se propõe.
Porém, o que é letramento? O ato do letramento é melhor que o alfabetizador? O que podemos entender por uma pessoa letrada? Existem diferenças entre alfabetizar e letrar? É possível o processo de alfabetizar letrando?
Desenvolvimento textual
1 – A ORIGEM DA PALAVRA LETRAMENTO
De acordo Soares (2000b: 15), a palavra “letramento” surgiu a partir de um discurso entre especialistas nas áreas de Educação e de Ciências da Linguagem em meados dos anos 80. Uma das obras pioneiras em citar e se aprofundar o termo letramento se trata do livro: No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística (1986) por Mary A. Kato, em que a autora afirma que “... a chamada norma-padrão, ou língua falada culta é consequência do letramento, motivo por que indiretamente, é função da escola desenvolver no aluno o domínio da linguagem falada institucionalmente aceita”. A origem do termo se deu a partir de uma versão que foi feita da palavra da língua inglesa “literacy”, representando etimologicamente estado, condição, ou mesmo a qualidade de ser “literate”, se define então como educado, principalmente, no ato de aprendizagem do ler e escrever.
A partir dessa referência do livro de Mary Kato, em 1986, essa palavra letramento voltou a aparecer no ano de 1988, em um livro que pode ser considerado como essencial para o lançamento da perante o mundo educacional, “Adultos não alfabetizados - o avesso do avesso”, de Leda Verdiani Tfouni (São Paulo: Pontes, 1988), esse livro realiza um grande estudo acerca do modo que falam e pensam os adultos analfabetos, e já no momento da introdução do livro nos é apresentada um texto onde se pode distinguir alfabetização de letramento.
A partir de então podemos dizer que a palavra “letramento” vem se tornando cada vez mais utilizadas por especialistas em seus discursos, tanto falados quanto escritos, tanto é que no ano de 1995, esses termos já figuravam como título de livro, como podemos ver em alguns títulos organizados por Ângela Kleiman (1995) e Leda Verdiani Tfouni (1995).
Soares (2003) afirma ainda que “Literate” trata-se de um adjetivo que te como principal característica da pessoa o domínio pela leitura e pela escrita e “literacy” caracteriza o estado ou mesmo a condição daquele que é “literate”, ou seja, aquela pessoa que se desenvolveu além da leitura e escrita, mas sim se utiliza de forma competente e com frequência desse aprendizado. Devemos salientar que estado ou condição tratam-se de importantes palavras para a compreensão das diferenças encontradas entre analfabeto, alfabetizado e letrado; a conjectura versa sobre quem aprende a ler e a escrever e se utiliza da leitura e escrita, passa a se envolver em práticas de leitura e de escrita, acaba por se tornar uma pessoa diferente, adquirindo assim outro estado ou até mesmo outra condição. Para a construção do termo letramento, Soares (2003) realiza a decomposição da palavra:
[...] letra + mento, estabelecendo os significados dos termos: letra como forma portuguesa da palavra latina littera e, - mento como sufixo, que indica resultado de uma ação. Portanto, letramento é o resultado da ação de “letrar-se”, se dermos ao verbo “letrar-se” o sentido de “tornar-se letrado”. Resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita, o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais (SOARES, 2003, p. 38).
De acordo com Soares 2000, no conceito de “literacy” nos deparamos, de maneira implícita, com a ideia de que a escrita acaba nos trazendo consequências das mais variadas tanto em campos sociais, culturais, políticos, econômicos, cognitivos, linguísticos, essas variações se dão tanto em algum grupo social em que seja introduzida, tanto para que possamos aprender a utilizá-la de forma correta. Quando o letramento ocorre de maneira efetiva ele tende a se envolver em práticas sociais tanto de leitura quanto de escrita. Diante desse pressuposto, qual a diferença entre ser letrado ou alfabetizado?
O letramento é muito mais do que apenas saber ler e escrever. O professor tem o papel de realizar a orientação do aluno para que ele desenvolva flexibilidade linguística que se mostra necessária perante o desempenho exigido pela sociedade. Passando a realizar a analise de textos comparando-os, pesquisando suas distinções, realizando a construção de regras a partir da utilização da língua, para que fundamentado em suas descobertas possa iniciar a construção e reescrita de textos, fator que se torna de extrema importância na prática da escrita para que a língua seja utilizada de maneira correta. Nessa perspectiva podemos afirmar que letrar se torna muito mais relevante que o próprio ato de alfabetizar.
2 – ASPECTOS CONCEITUAIS ENCONTRADOS NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
De acordo com alguns estudos realizados por Emília Ferreiro e Ana Teberosky, que tiveram sua divulgação a partir dos anos 80 com o título: Psicogênese da Escrita, muitos questionamentos foram sanados em relação às descobertas de trabalho no processo de construção da escrita realizada pela criança, essas afirmações levaram todos a refletir acerca do que acreditavam ser importante durante esse processo, levando a um redirecionamento
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