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Preconceito Linguístico

Por:   •  18/6/2018  •  2.577 Palavras (11 Páginas)  •  417 Visualizações

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Continuando a sua explicação de como o preconceito lingüístico é um preconceito social, o final do quarto mito faz a análise da forma como o povo nordestino é representado na mídia televisiva, com o autor citando especificamente e Rede Globo. Mostrando como atores que não são nordestinos se contentam em reproduzir uma linguagem que não é pertencente a lugar algum do Brasil, mas que tem a função de escarnecer, marginalizar e excluir uma população específica.

Diz-se, segundo o quinto mito, que o Maranhão é o lugar onde o português é mais bem falado. A isso, o autor justifica com o uso frequente, no Maranhão, do pronome “tu”, o que aproximaria a língua da que é falada em Portugal, considerada a correta por aqueles que acreditam no mito. Porém, a resposta dele a isso é que a língua falada no Maranhão atende às necessidades do local e que quando deixar de atender, sofrerá mudanças para se adequar.

A isso cabe, portanto, uma consideração do processo histórico da formação da língua de um local específico. Avaliar as peculiaridades de cada região para daí entender como e por que determinadas expressões são utilizadas e outras não. Com isso, o autor explica que não se pode afirmar que uma ou outra variedade é melhor que outra.

O sexto mito é o de que o correto é pronunciar as palavras da forma como é escrita. Ou seja, seguindo à risca o som das letras. A crítica, neste caso, se inicia com respeito à tendência que as escolas tem de obrigar os estudantes a pronunciar como se escreve, reforçando a ideia de que essa é a única maneira correta de fazê-lo. Bagno reconhece que é necessário ensinar a escrever de uma forma única, a ortografia oficial, mas afirma que o melhor a se fazer é permitir que o aluno pronuncie como quiser.

Em defesa de sua tese, o autor faz uso do famoso quadro “A traição das imagens” de René Magritte, onde há um cachimbo e a frase “isto não é um cachimbo”. A analogia é que, se a imagem de um cachimbo é apenas a representação do objeto real, a língua escrita é apenas uma representação da língua falada, o real, até porque não existe língua no mundo que consiga ser representada fielmente na sua forma escrita.

O sétimo mito tem, de certa forma, uma relação com o anterior. É a crença de que é preciso saber gramática para falar e escrever corretamente. Logo de início, o autor dá o exemplo dos escritores que “são os primeiros a dizer que gramática não é com eles”. Citando, para tanto, nomes como Machado de Assis, Rubem Braga e Drummond.

Além disso, não poupa esforços em mostrar opiniões e exemplos que afirmam a inexistência de uma necessidade de saber gramática para falar e escrever bem. É o caso da citação de Mário Perini, que diz que o ensino de gramática promete algo que não pode cumprir, e da constatação de Sírio Possenti sobre a gramática grega, uma das mais antigas, mas que só veio a existir depois de grandes obras como Ilíada e Odisseia, ou mesmo dos Diálogos de Platão. A gramática, no fim das contas, surgiu para descrever o uso espontâneo da língua. Porém essa função foi invertida com o passar dos tempos.

O último mito é de que o domínio da norma culta da língua seria uma forma de ascender socialmente. A resposta imediata de Bagno é afirmar que, caso isso fosse uma verdade, professores estariam no topo da sociedade já que se supõe que são eles os detentores do domínio sobre a norma culta. Ou seja, em linhas gerais, o domínio da norma culta em nada afeta as condições sociais do falante.

Na segunda parte do livro, é dito ao leitor que todos os mitos analisados anteriormente pelo autor são reforçados por três elementos: a gramática tradicional, o ensino tradicional e os livros didáticos. Os três formam o que Bagno chamará de Santíssima Trindade do Preconceito Linguístico, que em verdade é um círculo vicioso onde a gramática dá “bases” para o ensino tradicional que, por sua vez, influencia diretamente os autores de livros didáticos que, por fim, recorrem à própria gramática tradicional para escrever suas publicações.

Há ainda um quarto elemento, que o autor chama de “comandos paragramaticais”, não tão óbvio e que passa quase despercebido. Composto de livros, revistas, CDs e outros veículos, tal elemento reforça a ideia de que o brasileiro não conhece a própria língua. Ele lamenta que, caso fossem utilizados de outra forma, tais meios poderiam servir para desconstruir mitos e preconceitos.

Para exemplificar, ele cita o professor Napoleão Mendes de Almeida, falecido em 1998 e que demonstrava em suas publicações um forte preconceito linguístico bem como um preconceito social ao falar de “língua de cozinheiras” entre outras passagens que são citadas por Bagno em seu livro.

Em seguida, ele não poupa esforços para criticar o livro “Não erre mais”, do autor Luiz Antônio Saconni, cuja versão analisada é a 23ª de 1998. O livro contém 420 páginas em que é possível encontrar, sem encadeamento lógico, diversas explicações inúteis, como a pronúncia correta do nome de um carro que saiu de linha e a grafia supostamente correta do nome da apresentadora Xuxa.

Porém, o pior na opinião de Bagno é o grande número de expressões preconceituosas contidos no livro, que, segundo ele, acabam por menosprezar o leitor ao deixar claro que todos os brasileiros são ignorantes, à exceção do próprio Sacconi que inclusive utiliza doze variações da palavra “asno” apenas nas primeiras cem páginas do livro, para se referir às pessoas que não utilizam a língua da mesma forma que ele.

Em suma, o autor de “Não erre mais” acaba sendo preconceituoso, ofensivo e pedante nas páginas que escreveu. Além de, em sua arrogância, desconhecer ou desconsiderar aspectos históricos do país, como o papel dos bandeirantes na colonização, descritos por ele como “amáveis e gentis”.

Para finalizar aquela seção, ele resolve se debruçar sobre uma publicação de Dad Squarisi, professora libanesa radicada no Brasil, no Diário de Pernambuco. Num texto simples e curto, a autora consegue utilizar tantas expressões preconceituosas quanto lhe é possível, além de, nas palavras de Bagno, ter medo de se aventurar na língua e acabar por reproduzir preconceitos derivados de sua própria falta de conhecimento sobre as nuances do português brasileiro.

É possível notar o quanto é verdadeira a afirmação de Bagno no começo do livro. O autor é mesmo parcial em sua visão e gradualmente o leitor pode ver até que ponto tudo o que ele traz o deixa irritado a nível pessoal mais até do que a nível científico. A forma como

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