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O Preconceito Linguístico

Por:   •  29/3/2018  •  2.724 Palavras (11 Páginas)  •  366 Visualizações

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As pessoas que pronunciam as palavras de acordo com a língua não-padrão geralmente pertencem a um grupo menos prestigiado do que aquelas que falam “branco”, “frouxo” ou “praga”. Logo, tem-se observado que há muito essa questão deixou de ser apenas uma discussão linguística, mas passou a ser também um tema voltado para a questão social e política, de acordo com Bagno.

Marginalizar as pessoas que falam “bicicreta” é o mesmo que desprestigiar o ensino que elas recebem, mesmo que inconscientemente, por terem menos acesso à educação formal se comparado àqueles que falam “certo”. Por este motivo o preconceito que recai sobre a fala das pessoas menos estudadas é o mesmo que elas sofrem diariamente, por inúmeros outros motivos, seja a cor, a vestimenta, o jeito de se portar em determinado ambiente. Quem tem menos condições sociais tem a fala carente de normas gramaticais.

O preconceito é apenas um reflexo da exclusão que elas sofrem, sendo assim, considera-se a fala delas como “pobre”, “feia” e “suja”. Fala esta que é apenas diferente da língua ensinada nas escolas.

A discussão aqui passa a ser outra. Não se trata mais do que é falado, mas sim por quem é dito. O preconceito nasce de forma involuntária, quem o pratica por vezes não nota. Além do preconceito linguístico para com determinadas classes sociais, também há o preconceito com certas regiões brasileiras. Exemplo mais clássico é o Nordeste que desde sempre sofre com esse tipo de “repulsa” vinda de outros estados e pessoas.

Este preconceito é claramente visto em novelas, quando os empregados são sempre nordestinos. Com isso o que a mídia quer mostrar ao povo? Sem abrir exceções, o nordestino é sempre aquele que vem para criar confusões, o debochado, o estúpido, bruto, sem conhecimento nenhum além do trabalho pesado e manual. Representações como essas fazem com que a ideia de que o jeito como eles falam, além de ser engraçado, é errado e assim ela se perpetua.

Ninguém sente vontade de rir quando um mineiro ou um goiano, até mesmo um paulista do interior solta uma frase onde o “r” é pronunciado com extrema intensidade. Ninguém acha graça ao ouvir um carioca pronunciar o “s” com som de “x”.

Associar a fala “errada” às pessoas que moram no Nordeste ou àquelas que têm menos acesso à informação é preconceito, não há como contestar. A forma como essas pessoas são representadas na mídia confirma ainda mais a tese de que a “exclusão” e o “erro” caminham juntos.

Exclusão, pois, na maioria das vezes, as pessoas que falam em desacordo com as normas padrões têm de ouvir que: isso não é português! O que é português? Se for falar absolutamente tudo correto, hei de afirmar com toda a convicção do mundo que ninguém sabe o que é português.

De acordo com o autor, Marcos Bagno, há um nome técnico para este fenômeno: rotacismo. Nele, é levado em consideração quem fala e não o que é dito. O preconceito se evidencia ainda mais.

2.1.1 Rotacismo

É a área que estuda e mostra que a troca de uma letra por outra na hora da pronuncia é algo que acontece naturalmente, de forma desgarrada, sem que ninguém se atente ao erro. Ou seja, ninguém tem a intenção de falar “errado”, as palavras fluem e acidentalmente saem com um R aonde deveria haver um L ou vice-versa. E não são apenas esses os exemplos que temos no dia a dia, contudo, é o mais notável.

A troca sonora de letras acontece desde os primeiros ajustes Latim para o Português falado hoje como, por exemplo: blanco para branco ou ecclesia para igreja.

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As pessoas que não conseguem acompanhar a mudança da língua, que por muitas vezes é brusca, tendem a manter a uma notável discrepância entre a língua falada e a língua escrita nas gramáticas.

Esta, ao ser ensinada nas escolas, se torna o padrão por um único motivo: todos poderem se comunicar sem haver falha na troca de mensagens como mencionado anteriormente. Não se trata de falar certo ou errado. Existir um padrão não é o mesmo que haver uma classificação onde se dividem grupos de pessoas que sabem ou não falar, pois a fala é a mensagem e todos conseguimos nos comunicar, mesmo que sem atender todas as regras.

Saber qual a correta transitividade de determinado verbo ou quando se pode usar a próclise, a ênclise ou a mesóclise é apenas uma consequência de se estudar a gramática, já que podemos considerar que é impossível alguém falar 100% igual ao que está disposto num livro. Sequer estamos levando em consideração o fato de a língua não ser estática: ela muda, se renova e cada vez mais traz novas regras e entendimentos. Portanto, dizer que alguém fala errado é mais errado ainda, já que ninguém consegue manter afiadas todas as normas cultas da língua, ainda mais quando as pessoas mantêm relações tão informais quanto hoje em dia.

2.2 O que é correto?

Mais fácil que listar o que é correto, é destacar o incorreto. Dizer que apenas os “sem instrução” não sabem falar de acordo com a língua padrão é um exemplo de tal.

Mesmo que se tente ao máximo, a língua está em constante mudança e é quase impossível acompanhá-la de perto para mencionar corretamente cada vírgula ou cada colocação pronominal. Não saber que falar “certeza absoluta” se trata de redundância também faz com que alguém se distancie da fala considerada correta e este é um exemplo do que ouvimos diariamente, pois se considerarmos que a redundância torna o texto repetitivo, deveria se saber que não há certeza relativa.

Relativamente ao que se considera correto, é importante pontuar que com as mudanças, quase que diárias da língua, não há certo ou errado. Mas há aceitação para todas as formas de linguagem, pois desde que começamos a alfabetização aprendemos que o mais importante é que a mensagem seja passada do emissor ao receptor. É claro que o uso de regionalismos e gírias dificulta o envio da mensagem quando só um na conversa sabe o real significado de cada uma delas, mas o que está em questão aqui é até onde podemos dizer que alguém sabe ou não falar direito. E todos sabem.

Crescemos falando, vivemos falando. A fala é constante em nossas vidas. Sem ela seria praticamente impossível manter contato com alguém, nos comunicaríamos através de gestos e talvez dificultasse ainda mais a compreensão. Desde que nascemos e até envelhecermos a fala nos acompanha e, geralmente, quando começamos uma comunicação somos compreendidos

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