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LITERATURA BRASILEIRA: MACHADO DE ASSIS

Por:   •  18/2/2018  •  8.398 Palavras (34 Páginas)  •  423 Visualizações

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Apesar da comédia teatral ter sido raramente abordada, nas universidades, a grande maioria dos estudos analíticos sobre as produções de Machado de Assis se direciona a prosa ficcional do autor, mas alguns literatos machadianos se propuseram a analisar as qualidades do teatro brasileiro como, Alfredo Bosi (1985), Décio de Almeida Prado (1999) e João Roberto Faria (2001), que visam estudar as particularidades do trabalho dos escritores e a maneira de mostrar os problemas sociais através de suas comédias. Partindo-se dessa tendência, o estudo sobre a representação do casamento na peça O Protocolo (1863) se destinará à análise da importância do matrimônio utilizado no século XIX, para refletirmos sobre um novo olhar no que se refere a arte nacional e alguns acontecimentos sociais não revelados nessas peças.

Faremos uma revisão bibliográfica das teorias acerca da representação do casamento, utilizamos como embasamento teórico, as teorias de Jean Michel - Massa (2009) e Helena Tornquist (2002) que apresentam diferentes perspectivas a respeito do tema, oferecendo-nos um olhar mais abrangente sobre a representação dessa temática.

Com esse intuito, focalizaremos neste trabalho a análise da representação do casamento na peça O Protocolo (1863) de Machado de Assis. Analisar a representação do casamento em suas obras teatrais pode contribuir como uma das formas de combater certos pressupostos teóricos estabelecidos pela Literatura Nacional sobre o universo teatral machadiano, o qual foi deixado de lado pela crítica literária. Loyola nos alerta para este fato:

Envolver-se com o teatro de Machado de Assis implica em duplo risco. Significa, por um lado, enfrentar a palavra crítica da tradução que o cristalizou como pouco afeito à cena, isto é, não teatral. Por outro lado, determina combater o costume, mais antigo ainda, de deixar as coisas como estão; pois, afinal, os argumentos de autoridades são como as sólidas portas de madeira de lei, trancadas a sete chaves. Mas, não se lê Machado de Assis impunemente. Toda essa malha que compõe o frágil tecido da nossa leitura histórica torna-se visível e permanece, desafiadoramente, no conjunto da obra (1997, p.13).

Diante dessa afirmação, podemos concluir que as peças machadianas ocupam um espaço bastante limitado no meio literário. Mas, nosso conceito em relação as obras teatrais de Machado pode ser mudado se considerarmos que alguns recursos narrativos utilizados pelo autor em seus romances já estão introduzidos em suas peças. Neste estudo, observaremos que alguns aspectos como a intertextualidade, o diálogo, o repertório e o tema dialogam com os textos de autores franceses.

É importante destacar que a escolha da peça, selecionada para a nossa análise, se deu porque se trata de obra cujo centro temático é direcionado às competências da figura feminina que representam as mulheres frias, calculistas e dominadoras, pois este tema é bastante utilizado nas comédias de costume.

No primeiro capítulo, discorremos sobre o confronto existente entre o templo católico e o governo republicano, na segunda fase do século XIX, no que concerne ao matrimônio civil fazendo uma breve análise discursiva desse confronto, destacando a perspectiva de cada um dos grupos. Como resultado da representação da união conjugal como uma via para atingir a composição da família, que era na época o núcleo da sociedade, partindo-se desse propósito, identificamos vários espaços de discussões, principalmente através da imprensa, entre os dois lados, cada um intercedendo pelos seus interesses. A igreja defendia o casamento religioso para que assim, continuasse tendo controle sobre as famílias, já o Estado brasileiro defendia o matrimônio civil como um meio de acabar com o prestígio ultrapassado e maléfico da instituição católica sobre as famílias. Debruçamos-nos também sobre as diferentes definições de casamento, sejam elas pela tendência religiosa ou pela positivista.

No segundo capítulo, traçaremos a história do teatro brasileiro e suas reivindicações até a chegada do teatro realista ao Brasil. Machado cria as suas primeiras obras teatrais através do modelo estético que pertencia ao teatro realista. Sob a luz das teorias de Prado (1999), Faria (2001), Peixoto (1986), Bosi (1985), Massa (2009), Magaldi (1996), Helena (2002) dentre outros. Abordaremos também o cenário teatral nacional com o objetivo de analisar aspectos importantes que colaboraram para a composição desse teatro. Neste mesmo capítulo dissertaremos sobre a contribuição que Machado teve no meio teatral brasileiro, defendendo a tese de que os preceitos românticos deveriam ser extintos, apontando a tendência realista a qual teria que ser tomada como modelo para se fazer teatro. Diferentemente do teatro romântico, o teatro realista, tinha como intuito acabar com os exageros contidos nas cenas e fazer uma reestruturação cênica e de repertório, a começar pela moderação dos artistas e da troca dos temas que giram em torno da nacionalidade por temáticas direcionadas a conflitos familiares.

No capítulo terceiro verificaremos a partir dos estudos de Jean-Michel Massa (2009) e Helena Tornquist (2002), sobre a função do casamento e da família na peça O Protocolo, na qual a temática central está direcionada à figura feminina, revelando ser uma personagem racional e fria, e que age de acordo com os seus caprichos, sendo que ao final da trama não é castigada pelas suas atitudes.

Nas considerações finais, debateremos sobre os dados obtidos através das nossas pesquisas, sobre o papel fundamental do casamento na sociedade na peça teatral em questão.

- ANÁLISE DISCURSIVA SOBRE O CASAMENTO NO BRASIL:

É comum encontrarmos em textos teatrais temas como a defesa do casamento e da família, além de ser um assunto bastante corriqueiro, são temáticas que se fazem presente na sociedade do século XIX. Neste capítulo, iremos fazer uma discussão sobre a representação do matrimônio e da família diante do sistema matrimonial.

A partir do século XIX podemos observar que a sociedade determinava a qual classe cada pessoa iria pertencer. A mulher era destinada para a casa; as damas eram designadas para os salões e as prostitutas e os escravos pertenciam à rua. Neste tempo podemos notar que a mulher já era considerada uma dama, porém seus procedimentos eram limitados às regras que a sociedade estabelecia. As mulheres que não cumpriam essas regras sociais eram ameaçadas com a reclusão religiosa e poderiam viver à margem da sociedade. Caso a esposa fosse desleal com ou ao marido, ela seria penalizada pela sociedade, já a deslealdade do homem

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