OS DOIS TIPOS DE ADULTÉRIOS NO CONTO: MISSA DO GALO DE MACHADO DE ASSIS
Por: Lidieisa • 15/3/2018 • 1.951 Palavras (8 Páginas) • 543 Visualizações
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Nessa noite de natal o senhor Meneses em mais uma de suas saídas noturnas ao encontro de sua amante, a desculpa que usava era que iria ao teatro, o jovem rapaz sem saber de nada se propõe a acompanha-lo, mas nunca tinha a resposta, e não entendia a reação dos moradores da casa, Meneses sai calado e voltava só na manhã seguinte. Logo no início do conto podemos constatar isso:
Nunca tinha ido ao teatro, e mais de uma vez, ouvindo dizer ao Meneses que ia ao teatro, pedi‑lhe que me levasse consigo. Nessas ocasiões, a sogra fazia uma careta, e as escravas riam à socapa; ele não respondia, vestia‑se, saía e só tornava na manhã seguinte. Mais tarde é que eu soube que o teatro era um eufemismo em ação. (MACHADO, 2011, p.12)
O dono da casa fazia questão de manter bem camuflado aos olhos dos outros, seu caso, só depois de algum tempo que Nogueira ficou sabendo o que significava a sua ida ao “teatro” semanalmente. Menezes trazia amores com uma senhora separada do marido, coisa que sua mulher sabia, a princípio sofreu, mas depois acabou acostumando-se com a situação que já lhe parecia direito dele, por isso é chamada de boa Conceição a “santa”.
Depois da saída de Meneses, todos se recolheram em seus aposentos, deixando a casa no mais completamente silêncio, mas Nogueira com intuito de não perder a hora da missa na corte, arrumou-se e decidiu esperar o vizinho na sala da frente, para quando fosse à hora exata, sairia com cuidado pelo corredor para não acordar ninguém. Para passar o tempo resolveu ler o romance, Os três mosqueteiros, enquanto a casa dormia.
Momento que saboreava sua leitura, o jovem rapaz ouviu um rumor vindo de dentro, que o fez interromper a leitura, quando de repente eis que a porta se abre e aparece Dona Conceição perguntando ainda não foi? Respondendo-lhe não, ainda não é meia-noite. A partir desse momento que ela entra na sala trajando um roupão branco, mal apanhado na cintura e tinha um ar de visão romântica por ser magra, tentando seduzir o jovem.
Nogueira não acreditou que ela já tinha dormido um pouco, pois a mesma diz que acordou por acordar, mas encucado com a situação estranhou porque sua cara não parecia de quem tinha acabado de acordar. Cogitou de ela estar acordada por sua causa, mas logo desistiu de falar para não aborrecer Conceição. Que no fundo achava muito boa. Os dois personagens traçam uma conversa meio sem rumo e o jogo de gestos e seduções entra em cena, é bem exemplificado no seguinte trecho:
Conceição ouvia‑me com a cabeça reclinada no espaldar, enfiando os olhos por entre as pálpebras meio‑cerradas, sem os tirar de mim. De vez em quando passava a língua pelos beiços, para umedecê‑los. Quando acabei de falar, não me disse nada; ficamos assim alguns segundos. Em seguida, vi‑a endireitar a cabeça, cruzar os dedos e sobre eles pousar o queixo, tendo os cotovelos nos braços da cadeira, tudo sem desviar de mim os grandes olhos espertos (MACHADO, 2011, p.15)
Como podemos perceber nesse fragmento a personagem utiliza-se de vários tipos de gestos parecendo todos intencionais, tentando envolver Nogueira que aos poucos vai deixando elucidar-se por tais ações, e jogo de sensualismo continua:
Pouco a pouco, tinha‑se reclinado; fincara os cotovelos no mármore da mesa e metera o rosto entre as mãos espalmadas. Não estando abotoadas as mangas, caíram naturalmente, e eu vi‑lhe metade dos braços, muito claros, e menos magros do que se poderiam supor. (MACHADO, 2011, p.16)
De acordo com Freitas (2012) Conceição é uma representante do caráter dissimulado da mulher machadiana, aquela que perante as vistas da sociedade um comportamento digno, mas que cultiva em seu íntimo desejos nunca revelado. Assumindo uma postura de alguém que possui vontades. O diálogo entre os dois ia cada vez mais ia tomando proporções maiores, falando das festas da roça e da cidade, empolgado seu tom de voz aumenta e ela pede para abaixar, se não iria acordar sua mãe, a mãe tinha sono leve igual a ela. Conceição virou sua atenção para a parede e começou a falar de dois quadros que não achava agradável para uma casa de família por se de mulheres e ambos vulgares preferiria colocar duas santas no lugar deles. Dando a entender que ela era uma senhora bastante religiosa.
O autor faz com que nós leitores pensarmos que finalmente os dois iriam consumar o adultério, que todo aquele clima de silêncio seria momento adequado para tal, mas de repente era meia noite eis que o vizinho aparece chamando-o para a missa do galo:
Chegamos a ficar por algum tempo – não posso dizer quanto – inteiramente calados. O rumor único e escasso, era um roer de camundongo no gabinete, que me acordou daquela espécie de sonolência; quis falar dele, mas não achei modo. Conceição parecia estar devaneando. Subitamente, ouvi uma pancada na janela, do lado de fora, e uma voz que bradava: “Missa do galo! missa do galo!”( MACHADO,2011, p.20)
Com a chegada do vizinho o encanto do momento se quebrou para sempre, Dona Conceição disse um “adeus” e nunca mais conversou com Nogueira, no outro dia agiu normalmente, com se nada tivesse acontecido na noite passada, o jovem partiu para Mangaratiba. Quando voltou ao Rio de Janeiro, o escrivão tinha morrido de apoplexia. Conceição morava no Engenho Novo, mas não a viu. Ouviu mais tarde que ela tinha casado com o escrevente juramentado do marido. Assim o adultério da mulher não aconteceu, ela tinha planejado tudo em sua mente, mas por impedimento não se consolidou. Enquanto do seu marido é o que de fato aconteceu.
Soma-se a isto, o conto Missa do Galo contém a característica marcante de Machado que é enfatizar a alma humana e suas facetas do comportamento das pessoas perante determinadas situações, que é bem visível em Dona Conceição, que sozinha com o jovem se mostra ser totalmente diferente da mulher que era chamada de boa e a “santa”. Determinados momentos chegam a ser duvidosos, então a interpretação vai depender do individual de cada mente.
Em virtude do que foi apresentado acima, Machado de Assis é um dos escritores mais importantes para a literatura brasileira, suas características são inconfundíveis, por se tratar de temas bem contemporâneos,
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