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A Afirmação Indenitária: Poesia Anticolonial & Negritude

Por:   •  8/1/2024  •  Projeto de pesquisa  •  2.586 Palavras (11 Páginas)  •  192 Visualizações

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Afirmação Identitária: Poesia Anticolonial & Negritude

Autor: Anilton Dos Reis  

Detém-te lágrimas

Não ferimos ainda o último combate

Ah este desejar loucamente o sol

        Este ansiar febril por fontes que não há

Detém-te a espera

Caboverdianamente espera

OVÍDIO MARTINS  

In Antologia temática de poesia africana 2: O Canto Armado, 1978, p. 241

Vale começar afirmando a necessidade de bem caracterizar os conceitos – poema e poesia e de os relacionar. É importante que todos saibam o poder que uma criação artística possui, pois, através da leitura de poemas ou apreciação de uma pintura, ampliaremos a nossa sensibilidade para compreensão do mundo.  Como afirma Cândido (1996, p. 12),

[…] a atividade poética é revestida de um caráter superior dentro da literatura, e a poesia é como a pedra de toque para avaliarmos a importância e a capacidade criadora desta. Sobretudo levando em conta que a poesia foi até os tempos modernos a atividade criadora por excelência, pois todos os gêneros nobres eram cultivados em verso. Hoje, o desenvolvimento do romance e do teatro em prosa mudou este estado de coisas, mas mostra por isto mesmo como toda a literatura saiu da nebulosa criadora da poesia. (Candido, 1996, p.12).

Muita das vezes as pessoas confundem á diferença existente entre poema e poesia. Para desmistificar esses conceitos, na obra ‘‘Poetas da escola: caderno do professor: orientação para produção de textos’’, Altenfelder & Armelin diferenciam esses dois termos da seguinte forma: “quando falamos em poema, estamos tratando da obra, do próprio texto. E, quando falamos em poesia, tratamos da arte, da habilidade de tornar algo poético” (Altenfelder & Armelin 2010, p. 22). Seguindo essa linha de ideia, podemos afirmar que a poesia está presente não só em um poema, mas também em pinturas, danças, filmes e as demais obras de artes. Já o poema, como manifestação lírica da poesia, apresenta elementos estruturais próprios (versos, estrofes, rimas, ritmos, etc.), que se oferecem como elementos chaves para se entrar em contato com a poesia que nele reside. Nesta mesma senda Paz (2012, p.15) afirma que

[…] poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por natureza [...] Expressão histórica de raças, nações, classes. Nega a história: em seu seio resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a consciência de ser algo mais que passagem [...] Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. (Paz, 2012, p.15)

Neste sentido, observa-se a importância da poesia para o encontro do homem consigo mesmo. a linguagem poética se destaca como um dos mais apropriados ferramentas de ensino e de afirmação identitária e cultural, conforme será evidenciado ao longo do nosso estudo.

Desde os tempos mais recuados da história do nosso continente, a arte de bem-dizer o agrada ao coração e ao ouvido é uma das mais nobres manifestações culturais da África […] As antologias de cantos tradicionais continuam a revelar-nos os aspetos mais variados de uma criação literária que já se inscreve no património da poesia universal. […]  a poesia surge e insere-se em todos os níveis da vida coletiva, porquanto a palavra poética vive intimamente ligada ao real. Nenhum domínio em que o homem se confronta com o seu passado, com os seus deuses ou seus semelhantes escapa, por assim dizer, ao tratamento poético. (Andrade, 1978, p.2)

A poesia possui uma grande importância na vida do homem africano auxiliando-lhe no encontro consigo mesmo, destacando-se como uma das ferramentas mais apropriadas para expressão do que lhe vem na alma. Conforme salienta Andrade (1978, p.2) ‘‘essas manifestações atestam o carater permanente da poesia africana. Elas são espelho que reflete a imagem ampliada da resistência dos povos contra a opressão e também o farol que guia a longa marcha para a liberdade’’.    

Os poetas cabo-verdianos pertencentes ao período que antecede a independência, tinham como ideal a revindicação e a emancipação de uma nova identidade cultural que cultiva a essência do ser negro[1]. Escreve Mário de Andrade[2]:  

Em 1958 publicamos a antologia de poesia negra de expressão portuguesa, que, além dos poetas do caderno [3], reúne autores de Cabo Verde, da Guiné e também do Brasil foi-nos dado justificar, nessa altura, a orientação dos poetas em reivindicar o orgulho escandaloso da qualidade de ser negro. (Andrade, 1978, p. 1)

Com isto, o autor quis demostrar a vontade dos escritores em ter uma identidade literária própria, onde a palavra exerce um papel fundamental na representatividade do simbolismo da negritude[4]. A expressão ‘‘ser negro’’ não é definido baseando unicamente nos paramétricos com que é definido a cor negra, mas sim, essa expressão carrega nela um mundo com que o individuo se identifica, a negritude.  

Conforme salienta o historiador, cientista e pensador africano, Achille Mbembe (2014, p. 255) ‘‘tudo começa por um ato de identificação: eu sou um negro’’, depois do homem identificar com a natureza do seu ser, ele procurará meios para dar liberdade ao seu eu, criando movimentos de resistência e revolta contra tudo que não favorece a emancipação de seus costumes e cultura.

O movimento literário anticolonial e revolucionaria cabo-verdiana de expressão portuguesa tem uma corelação de existência com o movimento da negritude lusófona que teve a sua maior desenvoltura através da manifestação poética, tendo nas suas raízes os movimentos renascimento negro norte americano e a de negritude francesa.

O ideário das revoluções (primeiro a americana – 19776 e depois a francesa – 1779) levantou questões como a igualdade, a liberdade e a fraternidade, que tiveram repercussões fundamentais nas discussões sobre a escravatura. […] outros sim, o pensamento iluminista contribui para o desenvolvimento das ideias abolicionistas, porque a produção literária do período de setecentos constitui um adjuvante à construção de uma mentalidade neste sentido, tanto mais que influentes filósofos das luzes constituíram textos lógicos no sentido da desaprovação do escravismo, que demoliram os argumentos usualmente utilizados para justificar o tráfico e a escravidão de pessoas. (Filho, 2006, p. 23)

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