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A Relação Entre Platão e a Poesia na República

Por:   •  30/10/2018  •  1.652 Palavras (7 Páginas)  •  275 Visualizações

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Fica claro então, a partir desta fala de Sócrates, que a arte do rapsodo não se limitava apenas à se recitar os poemas, mas também a constituía esta função: a de interpretá-los e até mesmo explicá-los aos ouvintes. Mas, apesar do discurso Socrático parecer elogiar a arte do rapsodo, o diálogo, na verdade, se encaminha à uma crítica de Platão tanto aos rapsodos, quanto a poesia. Esta crítica, se baseia no argumento de que a poesia se faz por inspiração divina e não por techné.

O diálogo chega a esta conclusão pelo seguinte percurso: segundo o próprio Íon, é ele dentre todos os homens aquele capaz de fazer os mais belos discursos sobre Homero, porém, quanto a outros poetas nada sabe Íon, apesar destes tratarem dos mesmos assuntos que Homero em seus poemas. Sócrates então, ao comparar a arte do rapsodo com outras artes como a da pintura, dos citaristas e flautistas, e aplicando a estas o princípio do que define uma techné, ou seja, de que o domínio de uma arte implica no conhecimentos de todos os assuntos relacionados a tal, conclui que Íon conhece apenas de Homero e de nenhum outro poeta pois não o faz por arte (techné) ou ciência (espisteme). Esta crítica aos rapsodos, se estendem aos poetas, pois, como nos diz Sócrates, ambos apenas fazem parte de uma cadeia de inspiração divina para a declamação destes poemas:

“Eu vejo, Íon, e vou fazer-te ver o que é, segundo o meu entendimento. É que esse dom que tu tens de fala sobre Homero não é uma arte, como disse ainda agora, mas uma força divina, que te move, tal como a pedra que Eurípides chamou de Magnésia e que a maior parte das pessoas chama de pedra de Heracleia. Na verdade, esta pedra não só atrai os anéis de ferro como também lhes comunica sua força, de modo que ele podem fazer o que fez a pedra: atrair outros anéis, de tal modo que é possível ver uma longa cadeia de anéis de ferro ligados uns aos outros. E para todos é dessa pedra que a força deriva. Assim, também a Musa inspira ela própria e, através destes inspirados, forma-se uma cadeia, experimentando outros o entusiasmo. Na verdade, todos os poetas épicos, os bons poetas, não é por efeito de uma arte, mas porque são inspirados e possuídos, que eles compõem esses belos poemas; e igualmente os bons poetas líricos, tal como os coribantes não dançam senão quando estão fora de si, também os poetas líricos não estão em si quando compõem esses belos poemas; mas logo que entram na harmonia e no ritmo, são transformados e possuídos como as Bacantes que, quando estão possuídas, bebem nos rios o leite e o mel, mas não, quando estão em sua razão, e é assim a alma dos poetas líricos, segundo eles dizem. Com efeito, os poetas dizemos, não é verdade, que é em fontes de mel, em certos jardins e pequenos vales das Musas que eles colhem os versos, para, tal como as abelhas, no-los trazerem, esvoaçando como elas. E falam verdade! Com efeito, o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar antes de sentir a inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão.” (PLATÃO. 1988, pág. 49)

Ao atribuir aos rapsodos, e principalmente aos poetas, esta inspiração divina, Platão retira do discurso poético todo o teor de verdade que o era atribuído antes. Quando se afirma que ambos, poeta e rapsodo, quando falam estão inspirados por um deus e tomados de entusiasmo, e principalmente que estão fora-de si e sem o uso da razão, se afirma que estes nada sabem do que falam. Além disso, a analogia utilizada por Sócrates para mostrar como funciona a inspiração divina, evidencia o papel passivo de todos aqueles que se submetem a força divina, assim como os anéis são puxados, e recebem em si a força para puxar outros da pedra Magnética.

Além da clara ironia Socrática presente em todo o diálogo, seja ao dizer que admira os rapsodos, ou que estes e os poetas é que são os sábios, para mais adiante atribuir-lhes uma mera condição passiva frente a inspiração das musas, e totalmente desvencilhada da razão. Percebemos também, como a ironia se manifesta nas entrelinhas do diálogo escrito por Platão. Irônico, que o mais poeta dentre os filósofos, dedique considerável parte de sua filosofia a criticar a poesia. Assim como também o é, que ele apresente argumentos para desvencilhar a poesia da razão, através de um discurso com um tom totalmente poético e mítico, proferido por seu mestre. Platão, assim como Sócrates, encontra no jogo dialético da ironia, e na subjetividade entre a palavra e o pensamento, o campo ideal para a realização de uma filosofia que, à medida que torna livre tanto quem lê (ou escuta), quanto quem escreve (ou fala), evita que suas teses e argumentos apresentados, não sejam tomados como dogmas, mas que aquele que têm contado com o discurso filosófico de tal caráter, busque em si mesmo ou no outro, o real significado daquilo que, em um primeiro momento se mostra aparente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, Admar.

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