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A Poesia árabe do século XIX

Por:   •  9/10/2018  •  1.590 Palavras (7 Páginas)  •  386 Visualizações

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As histórias mitológicas árabes em sua maioria são referentes ao período pré-islâmico. Pedras, montanhas, árvores, rios, astros, corpos celestes e demais elementos da natureza recebiam contornos fantásticos através da adoração.

No fabulário (الخرافات) lendário antigo árabe circulavam seres míticos como fadas, gênios, demônios, feiticeiras, adivinhos, serpentes e outras criaturas, derivadas da fragilidade e medo da humanidade com o desconhecido. Abqar é, segundo essas lendas, um local oculto, habitado por entidades fantásticas como os gênios e os demônios. Para os antigos árabes, esses gênios de Abqar por vezes influenciavam os seres humanos, sendo responsáveis por façanhas extraordinárias. Dizia-se que eram os gênios os responsáveis por inspirar os poetas. É dessa relação entre gênios e homens que advém a ideia central da obra de Maluf - em Abqar, o poeta atormentado adentra este mundo de gênios.

4. A obra

A história se inicia com o poeta (eu-lírico) despertando em um sonho, chamado pelo gênio que o acompanha e inspira para uma viagem pelo vale de Abqar. Esta convocação pode ser interpretada como o poeta viajando em sua própria subjetividade, encarando tormentos e inquietudes do seu ser e de seu fazer poético.

Situado na primeira parte da obra, está o poema “Los Monstruos de Abqar/ Os Monstros de Abqar/ وحوش العبقرية”

“Abqar es un enigma, de um mundo invisible, que sólo sus jerarcas, huellan sus recintos

!Levantate a surcar sus abismos obscuros y rasgar sus velos...! Levantate y verás como sus Demonios se asoman de sus puertas, a poblar tus ojos! Y como de tu boca surgen sus serpetens; como si saliesen de sus madrigueras. / Abqar é o enigma de um mundo invisível, e somente seus hierarcas voam em seus recintos. Levante-se! Percorra seus abismos obscuros e rasgue seus véus! Levante e verá os Demônios aparecerem por entre as portas a preencher teus olhos! E de suas bocas surgirem suas serpentes, como se saíssem de suas tocas”

Os demônios de Abqar são retratados pelo poeta como portadores de feras e entidades destruidoras, assustadoras. Tais são os sentimentos do poeta, suas contradições e desejos ocultos. Esse deslocamento de tema é apontado como um dos fatores mais modernos e transgressores de Abqar – tanto no plano objetivo, ao falar de gênios e demônios mitológicos, onde os poetas antigos tratavam de temas brandos e superficiais quanto no plano subjetivo, expondo a realidade emocional e psicológica do poeta. E ao mesmo tempo em que desloca o tema dos locais comuns da poesia árabe, utiliza a fluência poética árabe para fazê-lo, com seus requintes descritivos e musicalidade, utilizando o verso e a rima.

“عبقرلنز الغيب ما وطّئت

أكنافها إلا لأنبابها

فتم وخض لبحة ديحورها

وأعمل على تحزيق جابابها”

No segundo capítulo “El Dios Imperfecto / O deus imperfeito / الإلم الناقص”. O poeta encontra-se com a feiticeira de Abqar. É nessa passagem que o autor discute a condição humana, contraditória e dividida. É mais um momento que reforça o quão inovador foi a proposta temática, que traz para dentro da poesia árabe questionamentos que até então não eram apresentados.

O eu-lírico nesse momento é colocado em contradição, representado da mesma forma que são representadas as criaturas de Abqar em sua vilania. É possível ler esse momento como outra evidência de que o poeta é o portador do vale do Abqar.

(...) “Hubiera querido, traidor, arrojar sobre tí mi serpiente, para terminar contigo; pero temo por ella de tu traición. El veneno que tenía, a tu pecho se mudó. / Quisera, traidor, jogar sobre ti minha serpente, para consumir-te; Mas temo por ela frente sua traição, pois o veneno que tinha, para teu peito se mudou/

وددت يا غادر لو أتي

أطلقت تعباني لا ينثنني

عنك فيرديك ولكتّي

أخشى على لثعبان

من غدرك

في تابة السمّ كان

وصار في صدرك” (...)

Ao longo da viagem, o poeta se encontra com demônios, responsáveis pelas mazelas humanas. Nesses encontros, há forte conteúdo crítico, onde o autor discute questões político-sociais, como a guerra e a violência, o dinheiro e a exploração, o hedonismo e os vícios. A poesia de Abqar é profundamente ligada com a realidade humana, representa os conflitos do ser humano na dimensão do íntimo e nos problemas sociais.

(...) “Mirando al Vale con asco y desdén, mientras sus ojos echaban fuego, me digo Thabar: Oye, tú, que contemplas este abismo, fui yo quien cavó outro como el en Alma humana / Olhando para o vale com asco e desprezo, enquanto seus olhos lançavam fogo, me disse Thabar: Tu, que contemplas este abismo, fui eu quem cavei outro igual na alma humana/

ثم رنا ثبر

شزا إلى الوادي

وقال والثبر

في عينه باد:

يا محعن البصر

في الهوة الداجيه

أنا الذي حفه

هاوية ثانيه

كهذه الهاويه

في أنضس البشر” (...)

A linguagem de Abqar concilia o legado clássico da poesia árabe na erudição dos termos e nas formas empregadas, nas comparações

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