VARIAÇÃO NO USO DE “NÓS” E “A GENTE”
Por: Salezio.Francisco • 18/10/2018 • 2.560 Palavras (11 Páginas) • 305 Visualizações
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- Variação e variedades linguísticas
“A variação linguística é um fenômeno universal e pressupõe a existência de variantes linguísticas que são diversas maneiras de se dizer a mesma coisa em um mesmo contexto e com o mesmo valor de verdade. A um conjunto de variantes dá-se o nome de variável linguística". Essas variáveis subdividem-se em variáveis linguísticas dependentes e independentes. A variável dependente é o fenômeno que se objetiva estudar; por exemplo, a aplicação da regra de concordância nominal, as variantes seriam então as formas que estão em competição: a presença ou a ausência da regra de concordância nominal. O uso de uma ou outra variante é influenciado por fatores linguísticos (estruturais) ou sociais (extralinguísticos). Tais fatores constituem as variáveis explanatórias ou independentes.”. (MOLLICA, 2008).
O termo “variável”, por sua vez, pode significar fenômeno em variação ou grupo de fatores que condicionam as variantes. As variantes podem permanecer estáveis ou podem sofrer mudança, quando uma das formas deixa de ser usada, por exemplo, o tratamento de “você”, de “Vossa Mercê”, através de “Vosmicê”, hoje se usa “você” ou “cê”.
No conjunto de variáveis internas estão os fatores de natureza fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos, os discursivos e os lexicais, nos quais estão relacionados à língua em várias dimensões. Já no conjunto de variáveis externas à língua, reúnem-se os fatores inerentes ao indivíduo, etnia, sexo, os sociais como escolarização, nível de renda, profissão, classe social e os contextuais como grau de formalidade. Dentre esses tipos de variações ainda pode ocorrer à variação diatópica (conforme o lugar) ou diafásica (conforme a situação formal ou informal em que se está falando).
- PCN de Língua Portuguesa e Variação Linguística
Os PCN (1998) de Língua Portuguesa das séries finais do Ensino Fundamental demonstra que há variação em todas as línguas. Ainda destaca que a Língua Portuguesa é formada por variedades não fixas, pois cada uma tem seu valor social.
Conforme os PCN (1998) a visão de que a língua se aproxima da escrita e obedece a uma gramática normativa, não se coincide com a realidade, considerando que “ninguém escreve como fala” (p. 30), pois na modalidade oral o falante terá escolhas e organizações diferentes da modalidade escrita; “E segundo as sociedades letradas (aquelas que usam intensamente a escrita) há a tendência de tornarem-se as regras estabelecidas para o sistema de escrita como padrões de correção de todas as formas linguísticas” (p. 30).
Segundo os PCN (1998), a escola ao ensinar a língua materna, a escrita, deve acabar com alguns mitos como: o de que possui uma maneira “certa” de falar e outra “errada”; ou a de uma região tem uma fala melhor do que a outra e etc.
Perante o fenômeno variação, a escola deve ficar atenta para que não ocorra a discriminação linguística. “Sendo assim, as variedades linguísticas que os alunos usam e que se distanciam da variedade padrão não podem ser consideradas “desvios” ou “incorreções” (PCN, 1998)”. Pois é um ambiente cheio de variações diferentes, onde uns falam de uma forma e uns de outra forma. Neste caso é extremamente importante que o aluno conheça essas “variedades”.
- Variação do uso de “nós” e “a gente”
As expressões de sujeito “nós” e “a gente” podem ser consideradas “formas alternativas de dizer a mesma coisa em um mesmo contexto”.
No português do Brasil (PB), observa - se uma alternância nas formas “nós” e “a gente”. Apesar de o pronome “a gente” estar sendo empregado em várias situações de comunicação, seja na linguagem coloquial quanto na linguagem padrão, as gramáticas não o registram no quadro pronominal.
O pronome “a gente” está avançando, como pronome pessoal da primeira pessoa do plural se fazendo presente tanto na escrita quanto na fala, se tratando de fala tanto no padrão como no não padrão.
Na fala, para referir-se às pessoas do discurso de maneira precisa ou imprecisa, o falante utiliza formas de pronomes no singular ou no plural, as quais, às vezes, possui sentido duplo. Entre essas formas de pronomes incluem-se o pronome “nós” e sua variante “a gente”. As duas formas podem referir-se, tanto a primeira pessoa do plural como a primeira pessoa do singular, sendo que “nós” significando “eu”, é mais comum à escrita do que à fala.
Para esclarecer, este fenômeno citamos Omena (1996) que analisa a alternância do “nós” e do “a gente” no português falado e culto do Brasil. Caracterizando a variação “nós/a gente” e levando em conta contextos de uso da expressão “a gente” em função sintática do sujeito. A autora afirma que esta expressão é usada como “substantivo coletivo” ou uma forma indeterminada de se referir a um grupo (...). Há nesse caso uma mudança semântica e gramatical, o que ela afirma no trecho abaixo:
Semanticamente, acrescenta-se ao significado, originalmente indeterminador a referência à pessoa que fala deiticamente determinada; gramaticalmente, a forma deixa de ser substantivo e passa a integrar o sistema dos pronomes pessoais, conservando, porém com o verbo a mesma relação sintática de terceira pessoa gramatical”. (OMENA, 1996, p.189).
Omena também ressalta que o uso de “a gente” por “nós” se relaciona a necessidade de não definir certo falante.
Podemos citar, ainda, o estudo de Lopes (1999) no qual analisa a variação de “nós” e “a gente”, na posição de sujeito, considerando as normas padrões e não padrões e os ambientes nos quais condicionam o uso das formas “nós” ou “a gente”, como fatores sociais e culturais do quais podemos citar: escolaridade, profissão, sexo, idade etc.
A autora relata que quanto ao emprego de “nós” e “a gente”, a forma “a gente”, em um diálogo, ocorre quando precedida de outra forma “a gente” ou verbo na terceira pessoa do singular, sem um determinado sujeito; e que há uma diferenciação no emprego de “nós” e “a gente” em relação ao uso mais restrito ou geral; outro aspecto importante são os tempos verbais “não marcados” e o “presente” que favorece o uso do “a gente”.
Já Votre (2004), “Tende a haver reação mais decidida da rejeição contra “a gente” nos
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