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Curso de Linguistica Geral

Por:   •  9/3/2018  •  2.608 Palavras (11 Páginas)  •  282 Visualizações

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Mais adiante, traz o texto, a língua não é passível de classificação nas categorias dos fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade. Isto significa que um fato de língua só tem razão de ser quando relacionado a outros fatos de língua; uma palavra tem significação somente por sua relação com as demais palavras do sistema.

Em franca oposição, Bakthin (1895-1975) e Wittgeinstein (1889-1951) aparecem no diálogo interno dessa leitura, embora não sejam exatamente linguistas, quero dizer, apesar de sua dedicação à linguagem, sujeitos à observação da linguagem como objeto secundário. Ambos construíram seu pensamento acerca da linguagem sob perspectivas que colocam o sujeito como o centro da significação das palavras. Influenciado pelo materialismo dialético de Marx, segundo o qual os organismos vivos, a cultura e a sociedade se influenciam e se modelam mútua e constantemente, Bakthin acredita que o exercício da fala nos lugares comuns da sociedade é o ponto de partida para a compreensão da linguagem – assumida por ele como fenômeno. Assim, concebe a língua como algo real e vivo, na qual cabem muitos sentidos. Em complemento, Wittgeinstein, através das suas “Investigações Filosóficas”, propõe o conceito de jogos de linguagem: jogos que se dão em cada grupo social, nos quais as palavras ganham um sentido atribuído por seus participantes (jogadores). Os jogadores, por sua vez, aprendem a jogar jogando. Dessa forma, simultaneamente apreende-se e cria-se uma linguagem. Isso não diz respeito apenas a grupos diferentes utilizando um mesmo termo de modos diferentes, mas ao fato de em um mesmo grupo, haver vários jogos de linguagem, nos quais as mesmas palavras podem tomar diferentes significados[1]. Desse modo, o desertor do chamado Ciclo de Viena defende que a palavra utilizada para fazer referência a algo, por si só, proferida ou escrita, não designa exatamente o que as coisas são, mas requer uma série de elementos contextuais.

Na sequencia o texto previne, aos que porventura objetarem ser a língua uma habilidade adquirida, subordinada à “inata” capacidade da linguagem, um contraponto, insinuando que o próprio aparelho vocal humano é um recurso adquirido, diferente das pernas cuja função indubitavelmente é andar. Nesse ponto engrossa sua fala Steven Pinker (1954-) que, ao versar sobre linguagem, defende que a língua é um produto de adaptação evolutiva, na qual há intrínseca a relação mente-cérebro. Um de seus argumentos aponta para a análise do “aparelho fonador”, constituído pelo uso dos recursos de diversos órgãos – grosso modo, deveria incluir também a audição e o próprio cérebro.

Para as intenções de Saussure, no entanto, é possível admitir que o aparelho vocal seja uma questão secundária ao pontuar que a língua é, de fato, uma convenção, da qual o signo convencional é indiferente – ideia acentuada ao afirmar que “não é a linguagem que é natural ao homem, mas a faculdade de constituir uma língua” (SAUSSURE, 1995, p. 18), âmbito no qual reside a faculdade linguística por excelência, que pode ser confirmada pelo conceito de linguagem articulada, no qual a articulação designa a divisão da cadeia falada em sílabas, mas também, em um nível minucioso, a subdivisão da cadeia de significações em unidades significativas. Se é assim, a língua, enquanto instrumento de articulação coletiva é onde acontece a unidade da linguagem.

Essa observação é especialmente interessante aos que pautam seu pensamento na ideia de evolução, como o próprio Pinker e outros, dentre os quais o também materialista dialético Lev Vygotsky (1896 – 1934). No entanto, para este último, o signo convencional não é indiferente, pelo contrário, a língua em detrimento da linguagem é um de seus objetos de atenção por constituir o humano como tal. Ou seja, de fato, o humano é capaz de adotar outras linguagens, outros signos, mas a relação com o saber e com o mundo, desenvolvida por sua espécie se constituiu pelo desenvolvimento da língua.

. 2 O lugar da Língua nos Fatos da Linguagem

Na busca por situar a língua no conjunto da linguagem, Saussure convida a percorrer o caminho da fala na comunicação entre dois indivíduos: o primeiro forma uma imagem mental, ou conceito, associado à representação dos signos linguísticos adequados à expressão desse estado psíquico. Passando ao estado físico, seguem-se comandos cerebrais de impulsos correlativos à criação e propagação de ondas sonoras pelo aparelho fonador, ecoando da boca deste aos ouvidos do outro, que, por sua vez, o recebe fisicamente pelo órgão auditivo, passando imediatamente ao processamento cerebral da informação, associando-a psiquicamente a um conceito correspondente. Assim descrito, o circuito convida novamente a pensar que Audição e cérebro compõem um “aparelho linguístico”, por assim dizer.

Desse circuito o professor do Curso extrai algumas observações: o processo de linguagem é então físico, fisiológico e psíquico, podendo dividir-se ainda segundo outras três características duais em relação às imagens conceituais, a saber, parte exterior (puramente física) e interior, que corresponde também à psíquica, e esta, por conseguinte, exclui as não-psíquicas; finalmente parte ativa, executiva (que compreende tudo o que vai da sede intencional ao ouvido do outro, denominada no próprio texto como fala, e da qual o individuo é sempre o senhor) e a passiva.

Como sua teoria desconsidera a significação pelos indivíduos, Saussure traz à baila outra faculdade: a associação e coordenação, manifestada mediante a organização sistemática do signo e de sua abordagem como fato social. Trata-se de uma instância que se encarrega de realizar uma espécie de arquivo do sistema de signos em nossa mente (uma espécie de dicionário), sob certo “contrato de meio-termo” a partir do qual, por aproximação, todos reproduzirão os mesmos signos unidos aos mesmos conceitos, mesmo se tomando parte desse sistema de modos distintos.

Na compreensão de Saussure, a origem da cristalização social parece estar no funcionamento das faculdades receptiva e coordenativa nos indivíduos falantes, ao deixarem um resíduo em cada um dos que compreendem iguais associações entre signos e conceitos, de modo que a língua se completa no conjunto do coletivo.

Nesse jogo dual estabelecido entre coletivo e indivíduo, o estudioso da linguagem retoma o conceito de fala já apresentado na parte executiva, na caracterização psíquica, desta feita apresentando-o em distinção à língua, na qual se separa, ao mesmo tempo, o social e o individual; o essencial e o acessório.

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