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Legado de uma tragédia: uma análise da mentalidade religiosa do povo de Szibusz em “Hóspede por uma noite” de S.Y. Agnon

Por:   •  6/5/2018  •  1.475 Palavras (6 Páginas)  •  307 Visualizações

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as forças.

Para os tradicionalistas, a exemplo de Rabi Schlomo, a desobediência do povo de Israel, sua rendição à haskalá – o iluminismo judaico que, de alguma forma, exilou o pensamento de am Israel, isto é, o conceito de povo israelita, a fim de atingir a plena integração dos judeus na sociedade moderna – e à assimilação, trouxe, como castigo divino, as mazelas que os afrontaram: os pogroms, a destruição causada pela guerra, a fome, a pobreza.

Uma importante constatação deste embate se dá pela consolidação da percepção do narrador de sua elevada posição religiosa frente à população de Szibusz. Esta mentalidade ganha força extrema no episódio da confecção de seu capote em meio ao rigoroso inverno de uma cidade em ruínas, conforme vemos no trecho abaixo5:

Todos os ventos do universo sopram e deitam abaixo a cidade toda. Ouve-se de um extremo a outro da cidade um barulho de portas batendo, janelas quebrando e telhas caindo. [...] A gente da cidade treme, e é natural que trema, pois suas roupas estão rotas e não são capazes de aquecê-las.

Este trecho e os episódios decorrentes dele são de extrema importância para a análise que construímos. Nos leva, de certo modo, à reflexão de que talvez não seja a desobediência de Israel que trouxe as desgraças ao povo, mas justamente o inverso. Pois, um estômago faminto não busca o alimento contido na Torá, e sim algo que lhe tire a dor da fome. Mesmo involuntariamente, as prioridades comuns se invertem. Claro exemplo disso é o fato de a casa de estudos, lugar central no romance e de importância muito grande, ora sempre vazia, passa a ser assiduamente frequentada pela comunidade de Szibusz no Inverno: não para que se aqueçam com a Lei de Moisés, mas para que encontrem abrigo do frio junto ao forno da casa de estudos, mantido sempre aceso pelo narrador.

O Autor busca, nestes embates que permeiam todo o livro, apontar para uma solução na Terra de Israel. Como citado pela Professora Berta Waldman6:

A vida presente em Szibusz é uma sombra deformada do passado de glória que existia antes da Primeira Guerra. Talvez a única esperança de redenção poderia ser encontrada na Terra de Israel, preferivelmente, alicerçada na Torá, esta a posição do narrador-personagem.

Quando, já em casa, a chave da casa de estudos é encontrada pela esposa do narrador, ele decide guardá-la em uma arca e pendurar a chave do recipiente no seu

peito, a fim de que ele tenha acesso caso a velha casa de estudos se fixe em Israel. Este fato dá força ao ideal sionista do autor de que tudo há de convergir para a Terra de Israel, principalmente algo tão simbólico como a casa de estudos, tida talvez como alicerce espiritual da população de Szibusz.

Não podemos deixar de citar também a inversão de valores da família Bach, que deixa transparecer o próprio ideal sionista de união destas contradições apontadas anteriormente. Ao final do romance, temos informação de Daniel Bach recitando o Kadish dos enlutados em função do Yarhzeit de seu querido irmão e, no mesmo dia, Rabi Schlomo trabalhando arduamente no Kibutz e relatando o fato de procurar as respostas para as suas perguntas feitas ante a Guemará e ao estudo da lei, nos camponeses. A Ideia do autor neste segundo caso é, justamente, mostrar a posição elevada da Terra de Israel, onde até camponeses ensinam anciãos recém-chegados da diáspora.

Notas

1. AGNON, S.Y., “Hóspede por uma Noite” – 1. Ed. – São Paulo: Perspectiva, 2014, p.20. 2. Idem, p.82 3. Idem, p.83 4. Idem, p.558 5. Idem, p.97 6. Idem, p.22

Referências Bibliográficas

AGNON, S.Y., “Hóspede por uma Noite” – São Paulo: Perspectiva, 2014.

SHAKED, Gershon, “Shmuel Yosef Agnon: A Revolutionary Traditionalist” – New York: New York University Press, 1989.

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