CERÂMICA MARAJOARA: HERANÇA E LEGADO DEIXADO AO ARTESANATO EM ICOARACI
Por: Carolina234 • 12/12/2017 • 3.672 Palavras (15 Páginas) • 584 Visualizações
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- TRAÇOS MARCANTES DA CERÂMICA MARAJOARA
Segundo pesquisas realizadas pelos arqueólogos Betty Meggers (1921) e Clifford Evans (1921-1981), entre as décadas de 1940 e 1960, se identificavam as cerâmicas amazônicas pelo tipo de decoração empregada. Observou-se nas peças marajoaras uma tendência policromática, notável pela riqueza e complexidade de motivos, uso das cores (vermelha, branca e preta) e técnicas variadas, como modelagem, incisão e excisão. Essas características fizeram desse período “a fase marajoara” (datada de 400 a 1350 de nossa era). Caracterizando-se pela ampla quantidade de objetos ritualísticos, utilitários e decorativos, produzidos por antigos ocupantes da ilha do Marajó, na época em que se formava uma civilização de cacicados. Eram confeccionados vasilhas, potes, urnas funerárias, tangas (ou tapa sexo), chocalhos, estatuetas e bancos. Que podem ser acromáticos ou cromáticos e zoomorfizados ou antropomorfizados; em geral, essa arte apresenta padrões, decorativos com desenhos labirínticos e repetitivos, traços gráficos simétricos em baixo ou alto-relevo, além de entalhes e aplicações.
A fase marajoara termina em torno de 1350, abandonada ou absorvida pelos novos migrantes, os Aruãs, presentes nas ilhas na chegada dos europeus.
A cerâmica marajoara pode ser conhecida por meio das grandes coleções do Museu Emílio Goeldi, em Belém, Museu nacional, no Rio de Janeiro, Museu de Arqueologia e Etnologia da universidade de São Paulo- MAE/USP, em São Paulo, além de museus internacionais como o Americam Museum of Natural History, em Nova York e o Barbier-Muller, em Genebra.
- Cores Utilizadas na Arte Marajoara
As peças marajoaras eram acromáticas, ou seja, sem uso de cor na decoração, somente as cromáticas e tonalidade de barro queimado, geralmente caracterizados pelo uso da pintura vermelha ou preta sobre o fundo branco. A coloração era obtida com o uso de engobes (barro em estado liquido) e pigmentos de origem vegetal como o urucum para o tom vermelho, para o branco o caulim e para o preto o jenipapo, alem da fuligem e carvão. E posteriormente os objetos eram queimados em fornos de buraco ou em fogueiras a céu aberto e então recebia um verniz obtido do breu do Jutaí, resina que propicia um acabamento lustroso.
A durabilidade era uma preocupação na hora da fabricação; agregavam outras substâncias minerais e vegetais: cinzas de cascas de árvores e ossos, pó de pedras e conchas, também o cauixi (esponja silicosa que recobre a raiz de árvores permanentemente submersas).
- Representações Ornamentais das Cerâmicas Marajoaras
Todas as cerâmicas marajoaras apresentam uma grande diversidade de formas e padrões de decoração, as figuras antropomórficas e zoomórficas estavam contidas nesses objetos. Sendo mais conhecidas as urnas globulares que representam “decoração pintada” e modelagem com figuras antropomorfas; outros tipos combinavam pinturas, o uso de incisões e excisões. As formas geométricas também faziam parte da ilustração de algumas produções mais simplificadas como as tigelas de função utilitária.
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Figura 1 - Pequeno recipiente antropomorfo. Fonte: www.museunacional.ufrj.br
Uma das técnicas mais praticadas na ornamentação desta cerâmica é o do champlevé ou campo elevado, onde são conseguidos desenhos em relevo por meio de decalque de desenhos sobre uma superfície alisada e escavando em seguida a área em marcação.
Entre os motivos de decoração mais comuns encontrados estão os animais da fauna e flora amazônica, como serpentes e macacos, a figura humana e figuras antropozoomórficas. Destacam- se peças mortuárias e urnas funerárias, em geral encontradas com ossos e objetos pessoais, as imagens estilizadas de humanos e animais, corujas e aves noturnas, a representação dos órgãos sexuais deixa entrever se as urnas eram para mulheres ou feitas para homens; estátuas carregavam as imagens femininas, podendo aparecer figuras ancestrais ou místicas simultaneamente.
Fica evidente que os artefatos mais elaborados eram destinados ao uso de rituais, outrora os que demonstravam uso cotidiano apresentavam decoração menos rebuscada. A simbologia dos traçados marajoaras permite a identificação de uma cultura de elevado grau de sofisticação e conhecimento estético.
[pic 2]Denise Pahl Schann (arqueóloga da PUC/RS) examinando peças marajoaras encontrou figuras que repetiam alternadamente e comprovou que os 52 signos identificados por ela representam idéias, evidenciando cientificamente que, o povo marajoara se utilizava de uma escrita primitiva em suas expressões artísticas; deixando subtendido que tais caracteres se tratavam de uma forma de escrita que se perdeu com o passar do tempo ou foi por eles mesmos suprimida pouco antes de seu desaparecimento.
Figura 2 - O lagarto/jacaré mítico. Fonte: SCHAAN, 1997, p.181
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Figura 3 - O escorpião mítico. Fonte: SCHAAN, 1997, p.180
- A Arte Marajoara e sua Função nos Rituais Fúnebres
A marca feminina era regularmente preservada nos rituais, estatuetas possuíam o formato feminino, e eram muito utilizadas nos ritos e danças, fazendo às vezes de chocalho ou de amuleto. Esses alternam a forma de mulher acocorada, em posição de parto, ou de animais. São freqüentes as que combinam traços masculinos e femininos, sem a cabeça. Elas tinham uma posição de destaque nas tradições religiosas marajoaras.
Outro aspecto feminino da cosmogonia marajoara foi o da elaboração de tangas côncavas, que segundo alguns eram acompanhamento funerário de mulheres socialmente importantes. Porém, apesar destas peças terem sido encontradas quase sempre associadas a enterramentos, já se constatou que foram usadas também em outras ocasiões, porque foram encontradas algumas que tinham seus furos laterais para transpassar cordas de sustentação, com sinais de desgaste por uso contínuo.
As tangas são encontradas somente na ilha do Marajó, tendo sido identificados dois tipos delas: uma simples que era somente coberta por uma tinta de cor avermelhada e outra bem mais elaborada, que era toda pintada de branco e posteriormente decorada com símbolos nas cores vermelha e preta. Curiosamente, os desenhos postos nestas tangas nunca se repetem não se tendo encontrado ainda duas
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