A VARIAÇÃO LINGUÍSTICA EM SALA DE AULA: O QUE CORRIGIR? COMO CORRIGIR? QUE PRÁTICA ADOTAR?
Por: Hugo.bassi • 21/2/2018 • 1.522 Palavras (7 Páginas) • 409 Visualizações
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[pic 1] Disponível em: http://wordsofleisure.com/2013/10/15/tirinha-do-dia-chico-bento-e-o-portugues/, acesso em 29 de junho de 2015.
Na situação exemplificada acima percebemos haver uma dura correção por parte da professora, porém sem compreensão para o personagem Chico Bento, pois ao responder “I eu qui vô sabê?/ Ocê também feiz prova?” ele não queria desacatá-la, isso apenas demonstra que não entendeu a correção feita, logo que não partiu de uma reflexão, a própria fisionomia do Chico comprova isso no último quadrinho, o desapontamento por não entender o estresse da professora e o que havia errado, logo que seu falar em casa com os familiares e amigos é certo então por que na escola não?
São situações como esta que deixam os professores muitas vezes indecisos: o aluno falou errado, como deve ser corrigido? Se for preciso respeitar as diferenças, então o erro de oralidade do aluno não deve ser corrigido?
Essas questões merecem ser refletidas pelo profissional, pois, o que não pode acontecer em sala é o constrangimento no aluno, e mostra que existem formas diferentes podem ser reformulados durante a aula é essencial deixar claro com a turma que as variedades da língua não são erros e que precisam ser respeitadas por todos, explicar que dependendo da situação comunicativa falar “cumê” ou “prantá” em lugar de comer e plantar não são erros, só não estão de acordo com o que o português padrão propõe, sendo, no entanto entendida pelos interlocutores que podem ser amigos ou familiares. É necessário ensinar a norma culta porque os alunos precisam aprendê-la para se saírem bem tanto em situações formais quanto informais de uso da língua.
Cabe ao professor, portanto, conscientizá-los de que a variante padrão não é mais importante que a não padrão, mas que há contextos comunicativos que exigem uso de uma ou de outra, estando todas certas, deixando de lado assim a ideia de erro.
As correções não são feitas apenas com relação à oralidade, mas com a escrita também, e chega a ser ainda pior, é menos constrangedor para o aluno, mas também não há uma reflexão do porquê de determinada palavra estar no plural quando deveria estar no singular, por exemplo, ou por que o conector usado está inadequado em determinado período. As atividades ou textos simplesmente são entregues aos alunos e deixados de lado, ou quando há uma reescrita, no caso dos textos, há apenas correção de erros ortográficos sem levar em consideração o sentido do que foi produzido como afirma Geraldi (2006):
Parece-me que o mais caótico da atual situação de ensino de língua portuguesa em escolas de primeiro grau consiste precisamente no ensino, para alunos que nem sequer dominam a variedade culta, de uma metalinguagem de análise dessa variedade – com exercícios contínuos de descrição gramatical, estudo de regras e hipóteses de análise de problemas que mesmo especialistas não estão seguros de como responder. (P. 45)
Sendo assim toda correção baseia-se no que propõe a norma padrão sendo desconsiderada qualquer outra variante que o aluno traz consigo.
Considerações finais
Trabalhar as diferenças em sala de aula nem sempre é uma tarefa fácil para o professor que precisa ensinar a norma padrão sem desconsiderar o conhecimento que o aluno traz consigo, ou seja, a variante informal.
São muitos os caminhos que o docente pode escolher: usar apenas o livro didático e ensinar que as variações linguísticas são formas erradas, ou que não há erro, mas adequação ou inadequação ou até mesmo seguir a prática da análise linguística, porém é necessário sempre refletir sobre qual prática é a mais adequada para a turma com a qual se está trabalhando, para que os alunos aprendam sempre mais.
Portanto respeitar as diferenças em sala é a palavra – chave para que haja um ensino que leve em consideração o aluno enquanto sujeito em sala de aula e não como um ser passivo da vontade do professor, a busca por um ensino que democratize a linguagem deve ser a meta dos mestres enquanto “construtores” do saber.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, Maria Auxiliadora e REINALDO, Maria Augusta. Análise linguística: afinal a que se refere?. São Paulo: Cortez, 2013.
BORTONI – RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.
BUNZEM, Clécio, MENDONÇA, Márcia (org.). Português no ensino médio e formação do professor. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
GERALDI, João Wanderley (org). O texto na sala de aula. 4. Ed. São Paulo: Ática, 2006.
MOTTA – ROTH, Désirée, HENDGES, Graciela H. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 1996.
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