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RELATÓRIO DO ESTÁGIO NO ENSINO FUNDAMENTAL

Por:   •  11/6/2018  •  6.074 Palavras (25 Páginas)  •  304 Visualizações

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História e memória não são sinônimos, a Memória é um processo profundamente ligado à construção de sentido; ou, como o próprio Manuel Salgado Guimarães diz, a Memória nos fala de “certezas (do sagrado e imutável), enquanto a história não passa pela identificação, ela se constitui enquanto operações destinadas à análise do passado, aberta às dúvidas e críticas.

Para a antiga noção de História como sinônimo de Memória o passado era entendido como continuidade, passível de ser rememorado, e por isso seu resgate seria suficiente para formar as identidades nacionais, hoje a noção de História dissociada da noção de Memória entende o passado como algo impossível de se recuperar em sua totalidade.

Algumas pesquisas recentes no campo do ensino de História têm explorado a importância da discussão da Memória para a formação dos alunos quanto a sua compreensão de tempo e espaço, assim como sua localização e construção de sentido.

A Memória, ao se projetar como saber específico e, portanto, distinto do campo da História, perdeu significativamente seu espaço discursivo no interior do saber escolar. É como se coubesse à História a tarefa de destituir a Memória do seu lugar de certezas, restringindo a aula de História a um discurso historiográfico desprovido de bases que o tornem plausível, muitas vezes, para o sujeito.

O pensamento histórico, mobilizado pela Memória histórica, é capaz de formar identidade numa perspectiva temporal, até mesmo como forma de conter as mudanças que ameaçam o entendimento do mundo e do futuro. É comum um grupo fortalecer seus laços de identidade para reforçar suas concepções, valores e ideias.

O diálogo entre tempos na formação do pensamento histórico pode, e deve ser estimulado pelas operações de Memória. Através dela é possível criar um ambiente de inteligibilidade do passado para o aluno, pois muitas vezes esse passado é apresentado de forma unívoca e incompreensível, sem qualquer ponto de apoio que ofereça uma ideia de distância quanto a sua realidade presente.

Quando o saber histórico escolar, mobilizado pela discussão procedimental da História e das operações de Memória, possibilita um novo olhar sobre o passado e sobre a História, ele se torna capaz de conferir ao aluno um lugar de protagonismo imprescindível à construção de empatia histórica.

Embora se observe uma tendência mais recente, no campo investigativo sobre livros didáticos, relativa aos usos e apropriações dos livros por parte de professores, consideramos que a distinção proposta entre dimensões conceituais centrais à operação histórica, e, consequentemente, ao seu ensino, ainda não foi suficientemente tematizada em termos da pesquisa e, por essa razão, reiterar a análise de conteúdo e, consequentemente, do texto didático tende, ainda, a oferecer contribuições significativas para o campo da formação de professores. Isso significa dizer que não se trata de um conteúdo indiferente ao ensino, passível de subdimensionamento, mas de uma relação epistemológica central, que permite aprofundar a compreensão acerca das aprendizagens escolares e da natureza do saber histórico escolar. Para tanto, nos pautaremos nos resultados auferidos com a análise das coleções de História destinadas ao ensino fundamental que foram inscritas e aprovadas pela avaliação do PNLD 2011.

Em relação à frequência da temática da Memória nos manuais do professor, é possível dizer que ela se ancora mais em indicações bibliográficas, apoiadas em autores de referência na discussão do campo, que na orientação didática capaz de fortalecer o processo de ensino para educação da Memória.

A disparidade entre as coleções que valorizam a dimensão conceitual como ponto de partida para a aprendizagem histórica e as que não discutem o conceito é notória. Isso nos leva a afirmar que, hoje, é uma tendência, entre as coleções, introduzir uma discussão do campo, mesmo que a tônica procedimental não seja característica principal da obra. Essa atenção maior dos autores em relação à discussão do campo tem a ver com as próprias inovações historiográficas e o crescimento das discussões em torno do ensino de História.

Enfim, o debate conceitual do campo historiográfico, embora seja uma tendência nas coleções, não significa dizer que naturalmente o procedimento ocupará lugar de destaque na obra.

Ainda ampliando o leque de possibilidades possíveis de diálogos entre os campos, é possível perceber que em 6,25% das coleções é ignorada, por completo, a relação História e Memória. Nessa porção não há nenhuma evidência ou possibilidade de intenção do(s) autor (es) em discutir a Memória na relação com o saber histórico escolar. Por outro lado, fica evidentes que 50% das coleções, que possivelmente buscam essa relação, não conseguem tratar os campos como complementares e distintos, mas sim como sinônimos. Essa “diferenciação entre os campos”, presente na maior parte das coleções, resulta de um olhar específico dos seus autores sobre o campo da História e do que consideram importante para a ação de educação histórica.

Pode-se afirmar que a maior parte das coleções trata os campos da Memória e da História como unidades conceituais indiferenciadas, o que implica dizer que os autores, muitas vezes, não dimensionam o lugar de cada campo enquanto operações distintas, porém igualmente importantes, complementares e necessárias ao processo de formação do pensamento histórico.

A ausência dessa reflexão no ensino de História reduz as condições efetivas de reflexividade docente, na medida em que o empoderamento que se dá pela via da construção teórica dos campos da Memória e da História não ocorre a partir daquilo que se apresenta na obra e nas orientações propostas ao professor, ainda que muitas construções possam ser engendradas pelo docente, no repertório de usos que vai construindo para o livro didático em sua prática cotidiana. O processo de educação para compreensão da História se fortalece na medida em que o procedimento se constitui como ponto de partida para formação do pensamento histórico do aluno.

Embora se tenha constatado que a maior parte das produções didáticas de História esteja assentada no mimetismo entre os campos, é possível perceber que há coleções que procuram dar visibilidade à discussão das operações de Memória como elemento ativador para a formação histórica. Tais coleções buscam valorizar a Memória como procedimento capaz de projetar novas maneiras de narrar o passado através de um processo de construção de

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